Resumo

As áreas contaminadas, tratadas como passivos ambientais, retratam um cenário de degradação ambiental originada de um desenvolvimento econômico desenfreado. No momento em que surgem discussões sobre uma nova economia que repense o modelo linear atual e esteja alinhada com uma visão de desenvolvimento economicamente viável, socialmente inclusivo e ecologicamente equilibrado, é necessário que repensemos a forma como se estabelece o gerenciamento dessas áreas.

Nesse cenário o presente estudo avaliou de que maneira a recuperação de áreas contaminadas pode ser sustentável, e em segundo momento como é possível integrar os mecanismos de economia circular no processo de remediação ambiental, modificando assim a lógica de culpabilização e da minimização de danos em direção a uma visão positiva, como estratégia para a criação de valor e benefícios compartilhados para a sociedade.

O crescimento econômico não deve estar dissociado da proteção ambiental, uma vez que os dois são concebidos para o bem-estar individual e coletivo. Contudo, é necessário que repensemos na interação entre esses dois elos, pois o meio ambiente não possui capacidade plena de resiliência e os recursos naturais são finitos. Surge assim, um desafio para tornar o desenvolvimento economicamente viável, socialmente inclusivo e ecologicamente equilibrado (ROMEIRO, 2012)

 Sob essa ótica, o presente estudo, caracterizado de natureza exploratória e através de uma abordagem qualitativa, contou com um levantamento bibliográfico inicial, seguido de pesquisa por meio de entrevista e por fim, realizou uma avaliação e discussão do caso, do Parque Olímpico de Londres utilizando-se dos indicadores estruturais contidos no “Supplementary Report 1 of the SuRF-UK Framework” – Relatório Complementar 1 da Estrutura do SuRF-UK (SURF UK, 2020) como um checklist para avaliar as linhas de evidências do ponto de vista sustentável e utilizando os conhecimentos da autora para compreender as oportunidades para o desenvolvimento de projetos mais circulares.

O caso demonstrou que megaprojetos são grandes oportunidades para reconstruir brownfields, uma vez que podem ser mais eficientes e por possuírem prazos apertados geram maior pressão sobre todas as partes interessadas. Os usos das tecnologias escolhidas trouxeram muitos ganhos sustentáveis para o projeto, porém isso não quer dizer que a tecnologia adotada seja a abordagem mais sustentáveis em todas as condições. A reutilização e regeneração de solo pode diminuir a necessidade de uso de novos terrenos considerados limpos.

  Através do estudo, o caso demonstrou que há enormes oportunidades para a criação de um novo paradigma no processo de gerenciamento de áreas contaminadas, que requer colaboração, uma visão de longo prazo e sistêmica sobre o planejamento urbano, para que se ultrapassem as demais barreiras identificadas. O compromisso com a regeneração dessas áreas, através da transparência e confiança das partes envolvidas é uma das chaves para essa transformação.

ROMEIRO, A. R. Desenvolvimento sustentável: Uma perspectiva econômicoecológica. Estudos Avançados, v. 26, n. 74, p. 65–92, 2012. SURF UK - The Sustainable Remediation Forum for the UK. Supplementary Report 1 of the SuRF-UK Framework: A General Approach to Sustainability Assessment for Use in Achieving Sustainable Remediation Contaminated Land: Applications in Real Environments (CL:AIRE). [s.l: s.n.], 2020.