Resumo

A demanda por água está aumentando em todo o mundo. Escassez, preocupação com a segurança hídrica em áreas onde a demanda excede a disponibilidade e requisitos para remover contaminantes emergentes da descarga de efluentes têm impulsionado a sua reutilização em diversas partes do mundo (VOULVOULIS, 2018). Os avanços da tecnologia contribuem para a implementação de novas estações de tratamento, mais eficientes e confiáveis. A produção de água recuperada passa a ser uma realidade devido a evolução das tecnologias de recuperação visando proteção de riscos ambientais (DAIGGER et al., 2019).

No Brasil, em 2014 e 2015, a cidade de São Paulo passou por uma crise hídrica. Quando a cidade estava perto de um colapso, a chuva chegou e recuperou os níveis dos reservatórios (MILLINGTON, 2018). Em 2021, o Brasil já enfrenta problemas de escassez de água e na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) o sistema de abastecimento entrou em nível de alerta (USP, 2021). O reuso da água é uma opção eficaz para economizar água (TAKEUCHI; TANAKA, 2020). O objetivo é identificar barreiras e entender como fatores externos influenciam a aplicação de tecnologias para reuso de águas residuais na RMSP.

A reutilização tem como objetivo buscar toda e qualquer oportunidade para utilizar a água novamente em uma operação e para aplicações externas em vizinhança ou comunidades (SIRAJ; STEICHEN; SHUOLER, 2018), reduzindo a demanda por suprimentos limitados (EPA, 2018). A reutilização fornece uma fonte importante de água doce, e influencia diretamente o estresse hídrico existente (YERUSHALMI; SEYHI, 2020). A tecnologia está desempenhando um papel fundamental como facilitadora da recuperação e reutilização das águas residuais (DAIGGER et al., 2019).

O procedimento adotado é o estudo de caso único. Para o estudo de caso foi selecionada uma empresa de saneamento que atua na região metropolitana de São Paulo (RMSP). Essa companhia iniciou de forma pioneira a prática de reuso em 1998. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizadas documentação, registros em arquivos e entrevistas semiestruturadas com profissionais que atuam na gestão de recursos hídricos na RMSP, sendo atribuídos códigos de referência para cada um deles. Foram estabelecidas etapas de coleta de dados e para a análise foi realizada triangulação de dados.

A reutilização da água tratada, principalmente para fins industriais, fornece uma importante fonte de água doce (YERUSHALMI; SEYHI, 2020) e pode desafogar o sistema de oferta de água da RMSP. Com o intuito de resolver o problema de alta demanda na RMSP e garantir a oferta de água necessária para o desenvolvimento da região, a empresa busca investir em desenvolvimento tecnológico e promoção de pesquisa e inovação, fatores vistos como facilitadores para implementação do reuso ( DAIGGER et al., 2019, GIL-MESEGUER; BERNABÉ-CRESPO, 2019). É preciso reutilizar os subprodutos gerados do esgoto.

Para viabilizar a utilização de água de reuso é importante existir uma demanda para o reuso, fator importante para o investimento em tecnologias nas estações de tratamento de esgoto. As tecnologias para o tratamento de águas residuais existem e são conhecidas pela companhia de saneamento, porém faltam incentivos econômicos e culturais para sua aplicação. O reuso potável direto ainda não é visto como uma solução viável para aplicação, isso porque a companhia de saneamento responsável pelo abastecimento de água da região acredita que as fontes tradicionais ainda suportam a demanda da população.

DAIGGER, G. T. et al. The Future of Water. Water and Sanitation Division, [s. l.], v. IDB-DP-657, n. May, p. 756–759, 2019. YERUSHALMI, L.; SEYHI, B. Development of a full-cycle water remediation process. Water Practice & Technology, Montreal, v. 15, n. 1, p. 66–76, 2020. VOULVOULIS, N. Water reuse from a circular economy perspective and potential risks from an unregulated approach. Current Opinion in Environmental Science and Health, Londres, v. 2, p. 32–45, 2018.