Resumo

O sistema de valores é presente em todas as situações do cotidiano. Denotando-se na forma como o ser se correlaciona com a sociedade, nas suas escolhas e comportamentos (ALMEIDA, 2007). Isso pode ser percebido à medida que comportamentos de compra verde revelam a preocupação com o bem-estar coletivo (FERRAZ; ROMERO; NOGAMI, 2014). A partir dessa relação se faz importante compreender como os valores e a percepção de práticas de RSC se associam. Embora haja estudos que indicam a relação entre valores humanos básicos e percepções; quando associados a RSC, o tema precisa ser melhor explorado.

É a partir dessa lacuna, que este projeto se concentra, ou seja, sob o seguinte problema de pesquisa: o quanto os diferentes grupos de valores explicam a percepção de responsabilidade social corporativa? Logo, o objetivo geral do presente trabalho é verificar em que medida os grupos de valores humanos predizem a percepção de responsabilidade social corporativa de indivíduos. Nesse contexto, os objetivos específicos são estabelecidos são: adaptar o questionário sobre percepção de RSC para aplicação no Brasil; e aferir a associação existente entre valores humanos básicos e percepção de RSC.

No presente estudo será utilizada a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (TFVH), que foi desenvolvida por Gouveia (2003) e aperfeiçoada ao longo dos anos por diversos autores, pois o foco desse modelo são as funções e subfunções dos valores humanos (MEDEIROS et al., 2012). Já a percepção de RSC por parte de cada indivíduo é o discernimento dos usuários a sobre as atividades de uma organização e se ela consegue agir de forma a contribuir para o crescimento da sociedade ou não (BUTT, 2016). Este trabalho examina a influência dos grupos de valores sobre cada dimensão de RSC especificamente.

O caráter da pesquisa é quantitativo, sendo caracterizada também como exploratória, visto que o estudo da relação entre os construtos é recente na literatura internacional, e de campo, mediante aplicação de survey com 121 indivíduos. Foram aplicados o Questionário de Valores Básicos e a escala CSRConsPerScale, que passou por processo de tradução reversa (COSTANT et al., 2014). Os dados foram tratados nos softwares SPSS e JASP, onde foi possível analisar os dados a partir de Análise Fatorial Exploratória (AFE), Análise Fatorial Confirmatória (AFC) e regressão linear múltipla.

Primordialmente foram realizadas AFE e AFC na escala CSRConsPerScale a fim de adaptar sua utilização para a língua portuguesa, já que sua versão original é disposta em inglês. Após isto, foram realizadas três regressões lineares múltiplas a fim de entender quais subfunções de valores humanos básicos mais influenciam na percepção de RSC em suas três dimensões: econômica, social e ambiental. Por fim, o estudo confirma que algumas das subfunções de valores podem influenciar a percepção do consumidor quanto às práticas de RSC de forma diferente em cada dimensão.

Dessa maneira, conclui-se que o objetivo do presente artigo, que é verificar em que medida os grupos de valores humanos predizem a percepção de RSC de indivíduos, foi atingido já que pudemos verificar que algumas subfunções influenciaram estatisticamente na relação entre os valores humanos básicos e as dimensões social, ambiental e econômica. Apesar de o número de respondentes não ser tão robusto, esse estudo pode contribuir para o avanço das pesquisas sobre valores humanos, marketing e responsabilidade social corporativa. Outros fatores sejam considerados, como idade e região geográfica.

ALMEIDA, Filipe Jorge Ribeiro de. Responsabilidade Social das Empresas e Valores Humanos: um estudo sobre a atitude dos gestores brasileiros. 2007. 466 f. Tese (Doutorado) - Curso de Administração, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2007. FERRAZ, Sofia Batista; ROMERO, Cláudia Buhamra Abreu; NOGAMI, Vitor Koki da Costa. Valores Pessoais e Comportamento de Compra Verde: um estudo cross-cultural entre brasil e canadá. In: ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE, 16., 2014, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Fea, 2014. p. 1-15.