Reumo
INOVAÇÃO PÚBLICA: ENTRE A EFICÁCIA IMEDIATA E A SUSTENTABILIDADE A LONGO PRAZO
Introdução
A inovação no setor público é essencial para enfrentar desafios contemporâneos e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população (MARGETTS; NAUMANN, 2017). No entanto, a busca por resultados imediatos pode entrar em conflito com a sustentabilidade a longo prazo, especialmente quando inovações desconsideram impactos ambientais. Em alguns casos, a ênfase na sustentabilidade econômica e social, em detrimento da sustentabilidade ambiental, resulta em impactos adversos que comprometem o desenvolvimento sustentável. A participação cidadã através da cocriação é importante para alinhar as inovações às necessidades reais da sociedade e equilibrar as dimensões econômica, social e ambiental da sustentabilidade (TORFING et al., 2021). A partir da necessidade de equilibrar a eficácia imediata com a sustentabilidade a longo prazo, este ensaio propõe um modelo teórico que integra a inovação no contexto do setor público com as três dimensões da sustentabilidade.
A relação entre inovação pública e sustentabilidade
A inovação no setor público é impulsionada pela demanda da população e por pressões do ambiente, como mídia e política (TEIXEIRA; RÊGO, 2017). Tradicionalmente, a inovação seguia um modelo linear, sem participação cidadã, resultando em soluções subutilizadas (WHICHER; CRICK, 2019). O paradigma da cocriação coloca o cidadão como parceiro ativo no processo de inovação, gerando soluções relevantes e eficazes (TORFING et al., 2021). Crises em diversas áreas e desastres ambientais também impulsionam a inovação no setor público ao serem vistos como oportunidades para encontrar soluções criativas que visem a mitigá-los (ARGOTHY; ÁLVAREZ, 2019). Essas inovações podem gerar resultados a curto prazo (outputs) ou a longo prazo (outcomes), mas o serviço público tende a focar em resultados imediatos para proporcionar retorno rápido à população (CAVALCANTE et al., 2017). Exemplos incluem o licenciamento ambiental autodeclaratório, no Brasil, que reduz a burocracia, mas pode comprometer a sustentabilidade ambiental (FORTALEZA, 2022). Por outro lado, iniciativas governamentais como a simbiose industrial em ecoparques chineses promove inovações de longo prazo ao integrar a sustentabilidade ambiental com ganhos econômicos e sociais (TOLSTYKH; SHMELEVA; GAMIDULLAEVA, 2020). Dessa forma, o modelo teórico proposto é estruturado para mostrar como diferentes entradas, representadas pelas demandas da população, crises e desastres ambientais, são processadas pela inovação pública, resultando em saídas que impactam a sustentabilidade em várias dimensões. As saídas de curto prazo da inovação pública tendem a focar na eficácia (output), promovendo principalmente a sustentabilidade econômica. Já as saídas de longo prazo visam a efetividade (outcome), garantindo uma sustentabilidade ambiental e social mais robusta. O modelo destaca que o grande desafio do setor público é promover inovações que equilibrem os benefícios econômicos imediatos, como a desburocratização dos serviços, com os benefícios duradouros da sustentabilidade socioambiental, garantindo um desenvolvimento verdadeiramente sustentável em todas as suas dimensões.
Considerações Finais
O ensaio explora a interseção entre inovação e sustentabilidade no setor público, enfatizando o equilíbrio entre benefícios imediatos e impactos a longo prazo. A inovação é essencial para atender às demandas da população, enfrentar crises e responder aos desafios ambientais. Contudo, a pressão por resultados rápidos pode comprometer a sustentabilidade ambiental. O envolvimento ativo dos cidadãos através da cocriação garante soluções relevantes. Crises e desastres ambientais podem catalisar inovações sustentáveis. Exemplos como o licenciamento ambiental autodeclaratório no Brasil e a simbiose industrial em ecoparques da China demonstram a necessidade de integrar sustentabilidade econômica, social e ambiental com práticas inovadoras que gerem benefícios duradouros para a sociedade. Este ensaio teórico contribui para o debate sobre inovação e sustentabilidade ao propor um modelo integrado que equilibra essas duas dimensões no contexto do setor público. Futuras pesquisas podem utilizar dados empíricos para verificar a praticidade do modelo proposto.
REFERÊNCIAS
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FORTALEZA. Licenciamento Autodeclaratório (Licenciamento Digital): como se licenciar no município de Fortaleza. Fortaleza, 2022. 54 slides, color. Disponível em: https://urbanismoemeioambiente.fortaleza.ce.gov.br/images/urbanismo-e-meio-ambiente/manuais/LICENCIAMENTO_AUTODECLARATORIO.pdf. Acesso em: 13 jul. 2024.
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