Reumo
Nos últimos tempos é notória a preocupação das indústrias de confecções de vestuário com a responsabilidade ambiental. Essa preocupação é especialmente relevante porque essas indústrias são uma das principais fontes de poluição ambiental, gerando e descartando diariamente toneladas de resíduos têxteis (Abit, 2023). Estudos como o de Ferreira et al. (2015), mostram que, no Brasil, as indústrias de confecções geram anualmente 175 mil toneladas de resíduos têxteis e apenas 36 mil toneladas (20%) são reaproveitadas na produção de outros elementos como: barbantes, fios, novas peças de roupas. Correia et al. (2016), em suas análises sobre as indústrias têxteis da região do Vale do Itajaí, concluíram que, das 22 empresas analisadas da região de Blumenau, 59% produziam 2.000kg de retalhos por mês, as demais (41%), geravam acima de 6.000kg de retalhos por mês, o que torna ainda mais preocupante. No cenário brasileiro, o crescimento do setor de vestuário ultrapassou 20% ao ano e, por consequência, o resíduo têxtil que atingiu a marca de 4 milhões de toneladas (ABIT, 2023). Neste contexto, é evidente que as indústrias têxteis e confeccionistas contribuem fortemente com a economia do Brasil, porém, em contrapartida, são responsáveis pela degradação ambiental e impactos nocivos à sociedade e ao seu desenvolvimento. Por outro lado, é imprescindível uma alteração no panorama antes que os recursos naturais se esgotem, afetando não apenas o meio ambiente e a sociedade, mas também a economia. A moda e a sustentabilidade estão cada vez mais caminhando juntas na indústria contemporânea. Enquanto a moda se refere a uma maneira de se vestir, a sustentabilidade indica o equilíbrio entre preservar os recursos naturais e atender às necessidades humanas. Juntas dão origem a um terceiro conceito: a moda sustentável, uma alternativa à produção e ao consumo têxtil que se concentra no conceito de redução, reutilização e reciclagem para cuidar das pessoas, do meio ambiente e do produto (Chaparini, 2022). O objetivo da pesquisa consiste em sugerir práticas sustentáveis para a gestão dos resíduos têxteis de uma indústria de confecção. Os objetivos específicos envolvem: classificar os tipos de resíduos têxteis gerados pela empresa e diagnosticar as carências e/ou deficiências relacionadas à geração e descarte de resíduos têxteis. A justificativa da pesquisa reside no fato de que a empresa procura minimizar os impactos ambientais provenientes dos seus processos produtivos, uma vez que gera cerca de 2 toneladas diárias de resíduos têxteis, dos quais 65% são descartados em aterros sanitários. A metodologia da pesquisa caracteriza-se como qualitativa, descritiva e estudo de caso. Os procedimentos de coleta e análise envolveram o exame do plano de sustentabilidade da empresa, a realização de entrevistas não estruturadas com colaboradores do Setor de Corte e visitas in loco. Após relatar o problema enfrentado pela empresa em relação a quantidade de resíduos têxteis gerados e como proceder para reduzir o descarte em aterros sanitários, foi identificado os tipos de resíduos gerados por quantidade e classificação por composição, para verificar as possibilidades de tratamento de cada tipo de resíduo. Posteriormente, foram levantadas as carências e deficiências nos processos produtivos da empresa, relacionadas à geração e descarte dos resíduos têxteis. Dos resíduos têxteis, 70,97% são provenientes de tecidos derivados do petróleo, sintéticos, altamente poluentes, ocupando protagonismo nos impactos ambientais; 25,60% são compostos por tecidos naturais os quais embora tenham grande participação nos impactos ambientais, devido ao seu cultivo, processamento e produção, em comparação aos tecidos sintéticos tendem a ser biodegradáveis e mais sustentáveis. E, 3,43% dos resíduos são compostos pelos tecidos artificiais, aqueles que não são biodegradáveis e são nocivos ao meio ambiente, pois passam por processos químicos, no entanto, podem ser transformados em tecidos mais sustentáveis reduzindo o uso de produtos químicos e utilizando materiais reciclados. Assim, foram propostas práticas visando contribuir para a reciclagem ou reutilização dos resíduos têxteis com intuito de reduzir a quantidade de resíduos descartados em aterros sanitários. As sugestões englobam o processo produtivo e a gestão dos resíduos. No que diz respeito ao processo produtivo, as sugestões acerca da otimização de compra e uso de matéria-prima são: planejar peças, determinando quantidade e tipos de tecidos para otimizar o uso e o processo de compras de matérias-primas sintéticas; e, encontrar fornecedores com certificações, que garantam a sustentabilidade e a qualidade do tecido. O foco será o planejamento das peças com tecidos sustentáveis com o objetivo de substituir o sintético e, reduzir a sua compra, matéria-prima identificada com maior incidência na produção. Em relação a minimizar o desperdício no processo de corte, sugere-se: programar, a partir do molde do encaixe, o corte em quadrados das sobras de tecido desprezadas nas laterais destinando-as às instituições profissionalizantes para serem reutilizadas. Em relação a gestão dos resíduos têxteis, a sugestão acerca da separação de resíduos é implementar um processo de separação por classificação e finalidade no momento de sua geração. Em relação as práticas de reciclagem, propõem-se: direcionar os resíduos de algodão para a reciclagem mecânica, a desfibragem; encaminhar o algodão colorido para a desfibragem destinado ao enchimento de estofados, travesseiros, colchões, almofadas, bancos de automóveis e poltronas; destinar os resíduos sintéticos para reciclagem química transformando-os em pellets e confeccionar caixas plásticas, cabides e manequins; destinar o excedente de pellets para outros fornecedores especializados, como por exemplo os produtores de lonas pretas para agricultura e construção civil. No que concerne as práticas de reutilização, sugere-se: oferecer as aparas de tecidos oriundas do setor de Corte a cursos profissionalizantes para a confecção de novos produtos como sacos de tecidos e ecobags; e, reutilizar os fios e fibras desfibrados na reciclagem mecânica para a confecção de novas matérias-primas (tecidos) e enchimento de estofados; indo ao encontro das premissas de economia circular. Como última opção, somente os resíduos que são inúteis, indesejáveis e descartáveis, que não têm mais aproveitamento por nenhum processo tecnológico disponível e acessível, serão descartados em aterros sanitários. Por fim, constatou-se que o gerenciamento de resíduos é uma ação essencial para a gestão ambiental. A gestão dos resíduos pode ser alcançada por meio das modificações sugeridas, seja nas substituições de matérias-primas, como nas mudanças dos procedimentos e práticas