Resumo

Título do Artigo

MOBILIDADE ATIVA E SUSTENTÁVEL: desafios e perspectivas para planejamento de espaços públicos no Semi-árido brasileiro
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Tema

Cidades Sustentáveis e Inteligentes

Autores

Nome
1 - TALLES RODRIGO BARBOSA DE AQUINO
Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA - Departamento de Ciências Sociais Aplicadas Responsável pela submissão
2 - Cicero Wildemberg Matias Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Reumo

MOBILIDADE ATIVA E SUSTENTÁVEL: desafios e perspectivas para planejamento de espaços públicos no Semi-árido brasileiro RESUMO Este ensaio discute o planejamento de espaços públicos com intervenções urbanas e seu papel na mobilidade ativa e sustentável visando uma lógica de cidade para pessoas. O enfoque é no estudo desses espaços levando em conta o conforto térmico no clima semi-árido, partindo da premissa de que as especificidades desse clima se constitui como importante condicionante projetual e representa grande desafio para criação e uso de espaços livres devido às altas temperaturas ambientais. Os espaços urbanos têm sido cada vez menos vivenciados pelos habitantes em razão das pressões que o novo estilo de vida urbano exerce sobre as pessoas, onde se dá maior ênfase à eficiência, produtividade e ganho de capital e a cidade tem se tornado uma máquina de viver. Nos países da periferia do capitalismo há um agravante, pois diversos problemas urbanos são potencializados pela falta de planejamento e de organização na formação das cidades, fazendo com que as condições de vida dos citadinos sejam levadas aos extremos devido a desigualdades socioespaciais estabelecidas ao longo da história. Como afirma Gehl (2015, p. 26): “O aumento do tráfego de automóveis tirou de cena a vida na cidade ou tornou completamente impossível os deslocamentos a pé”. Nesse sentido, intervenções urbanas têm buscado confrontar a lógica atual predominante, revendo prioridades do espaço antes utilizado majoritariamente pelos veículos e o devolvendo ao uso da população que escolhe nele caminhar, pedalar ou vivenciá-lo. Gehl e Svarre (2018) chamam de Cidade Reconquistada essa nova lógica de valorização dos espaços públicos, que teve como símbolo as mudanças ocorridas em Barcelona a partir de 1980. A região brasileira que apresenta o clima semi-árido, presente na maior parte dos estados do Nordeste, enfrenta, dentre outros, o desafio de lidar com as características naturais desse clima, que “se caracteriza por ter fraca nebulosidade, forte insolação e as mais altas taxas de evaporação do território” (Mascaró; Mascaró, 2009, p. 14). Em muitas cidades, essas condições climáticas aliadas a fatores urbanos podem resultar em desconfortos ambientais, principalmente relacionados a altas temperaturas e poucas precipitações. Isso foi comprovado em estudos de Sousa (2018), Bezerra (2013) e Bezerra, Leitão e Azevedo (2013) que identificaram parâmetros de desconforto térmico e ilhas de calor em cidades do semi-árido brasileiro. Os projetos urbanísticos e arquitetônicos elaborados para essa região possuem como importantes condicionantes climáticos as altas temperaturas e o clima parcialmente seco em boa parte do ano. Isso se transforma em desafio na intervenção de espaços públicos e para o seu uso pelas pessoas, pois o desconforto térmico pode ser determinante na decisão das pessoas em buscarem meios ativos de locomoção em detrimento de veículos automotivos. Portugal et al. (2017) definem a mobilidade como o resultado da interação entre o indivíduo e a acessibilidade que se coloca diante dele. As condições de acessibilidade são promovidas pelo funcionamento integrado dos transportes e do uso do solo. Portugal et al. (2017) apresentam, ainda, o conceito de microacessibilidade (nível local), necessária para a mobilidade urbana. A microacessibilidade é caracterizada por 5 dimensões (5D): Densidade, Diversidade, Desenho urbano, Distância ao transporte público e Destinos acessíveis (Portugal et al., 2017). Essa escala envolve, portanto, as quadras, ruas, espaços públicos etc. O Desenho urbano é a dimensão da microacessibilidade que se relaciona diretamente com espaços públicos, seja para pedestres ou ciclistas. Esses espaços podem visar não só a permanência das pessoas mas também o incentivo ao transporte não motorizado e contribuir, consequentemente, para uma mobilidade mais ativa e sustentável. A partir das reflexões trazidas constata-se que a criação de espaços públicos pode ser pensada, além de outras, sob a perspectiva da intervenção em ruas, o que contribui para uma mobilidade mais ativa, sustentável e segura, e pela perspectiva de ruas completas, que promove o convívio e a diversidade de atividades do espaço. Esses espaços estão inseridos na dimensão do Desenho Urbano na escala da microacessibilidade, o que abrange, portanto, a possibilidade de projetar lugares com elementos para pedestres e ciclistas na configuração da forma urbana para permitir a mobilidade ativa e sustentável. Por fim, para além dos desafios territoriais presentes no meio urbano, percebe-se que o clima semi-árido brasileiro apresenta-se como condicionante projetual que pode influenciar em grande medida o planejamento e uso dos espaços públicos para mobilidade ativa e sustentável e para a vitalidade urbana devido a sua interferência no conforto térmico. Isso se constata a partir dos estudos em campo que identificam ilhas de calor e ilhas secas e desconforto térmico em cidades com clima semi-árido. Por isso, planejadores e projetistas precisam utilizar estratégias de conforto térmico na criação destes espaços urbanos. REFERÊNCIAS GEHL, Jan. Cidades Para Pessoas. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. 262 p. Tradução de: Anita Di Marco. GEHL, Jan; SVARRE, Birgitte. Vida nas cidades: como estudar. São Paulo: Perspectiva, 2018. 184 p. Tradução de: Anita Di Marco. MASCARÓ, Lucia; MASCARÓ, Juan José. Ambiência urbana – Urban environment. 3. ed. Porto Alegre: Masquatro Editora, 2009. 200 p. Edição Bilíngue: Português / Inglês. PORTUGAL, Licinio da Silva et al (org.). Transporte, mobilidade e desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. SOUSA, Mayara Cynthia Brasileiro de. Desejo por conforto térmico: estratégias adaptativas e modelos de conforto térmico no semiárido paraibano. 2018. 134 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Centro de Tecnologia, UFPB, João Pessoa, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/13659. Acesso em: 15 jul. 2024. BEZERRA, Péricles Tadeu da Costa. Caracterização de ilhas de calor e conforto térmico em áreas urbanas do semiárido brasileiro. 2013. 120 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Centro de Tecnologias e Recursos Naturais, UFCG, Campina Grande, 2013. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/16824. Acesso em: 15 jul. 2024. BEZERRA, Péricles Tadeu da Costa; LEITÃO, Mário de Miranda Vilas Boas Ramos; AZEVEDO, Pedro Vieira de. Ilhas de Calor e Desconforto Térmico no Semiárido Brasileiro: Um Estudo de Caso na cidade de Petrolina-PE. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 6, n. 03, p. 427-441, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/download/233001/26949. Acesso em: 15 jul. 2024.