Reumo
O Brasil caracteriza-se como um dos países com o maior número relatado de casos de dengue, com aumento gradativo inclusive em formas mais graves da doença e obteve somente até o final de julho de 2024 cerca de 275.000 casos notificados de dengue, refletindo um aumento expressivo em relação aos anos anteriores, destacando a emergência de medidas eficazes de controle e prevenção das arboviroses. Assim, torna-se relevante identificar os fatores que poderem favorecer a incidência da doença. Dessa forma, a presente pesquisa tende a preencher esta lacuna de conhecimento imbricando sobre a qualidade de vida e bem-estar da população, buscando-se utilizar modelagem estatística para gerar um modelo preditivo que correlacione variáveis socioambientais com a incidência de dengue. Para tanto, realizou-se uma pesquisa documental, a qual se debruçou em documentos oficiais expedidos pelo Ministério da Saúde/Meio Ambiente (Boletins Epidemiológicos; Manuais de Normas Técnicas de controle das arboviroses; Leis; Decretos; Portarias), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Censo 2000 a 2023); e pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS (informações/indicadores sobre a prestação dos serviços de água, esgotos, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais. Nesta etapa, almeja-se o enlear entre as variáveis estudadas e dos respectivos indicadores, para que assim ocorra a ordenação, tabulação, exportação e análise dos dados. Empregou-se, ainda, a correlação de Spearman, por sua melhor aplicabilidade em dados não paramétricos que permite a conversão das variáveis em classes iguais agrupadas segundo escores de mesmo valor. Sendo uma correlação perfeita de +1 ou -1, quando o valor do coeficiente de correlação se desloca para 0 a relação entre as duas variáveis se configura como fraca, dessa maneira o sinal do coeficiente aponta o norte da associação. A tabulação e análise dos dados ocorreu por meio de um cruzamento das variáveis identificadas e exportadas para o software R (REFERÊNCIA) em conjunto com o ambiente de desenvolvimento integrado de código aberto para R, conhecido como RStudio. Neste estudo, foi realizada uma análise abrangente da incidência da dengue no Brasil por um período de 10 anos (2013-2023), onde notou-se uma variabilidade nos casos por 100.000 habitantes, com alguns anos apresentando incidências mais elevadas. Observou-se um padrão de elevação seguido por quedas na incidência da doença em todo o país, com similitudes notáveis nas regiões do Sudeste e Centro-Oeste. A influência de fatores sociais e econômicos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na incidência da dengue foi destacada. Além disso, evidenciou-se uma grande variabilidade de dados, especialmente, em determinadas unidades federativas, bem como uma heterogeneidade entre o perfil de casos e a intermitência epidemiológica da dengue ao longo dos anos. Nessa perspectiva, muitos fatores contribuem para a proliferação do vetor em questão, dentre estes o clima, a temperatura e as condições sanitárias como a insuficiência de saneamento básico tendem a elevar o potencial de reprodução do Aedes aegypti. Ademais, a análise estatística envolveu a criação de modelos de regressão linear, revelando algumas limitações, como um baixo R² e desafios de linearidade, multicolinearidade e normalidade dos resíduos. Evidenciou-se que ao longo dos anos as epidemias de dengue afetaram mais a região norte e nordeste. Embora, tenha sido observado quadros endêmicos em todas as regiões do país, principalmente nos anos de 2003, 2014 e 2017. Para estudos futuros sugeriu-se a consideração de abordagens mais complexas, como modelos de dados em painel e clusters, e a inclusão de variáveis adicionais, como fatores climáticos e urbanização, para uma análise mais abrangente da incidência da dengue no Brasil.