Reumo
A pesquisa tem como objetivo analisar como os ODS, ESG e os Capitais não financeiros (intelectual, humano, natural, social e de relacionamento) do Integrated Reporting contribuem para a Sustentabilidade das empresas com médio e alto potencial poluidor. O objeto de estudo foram as companhias abertas listadas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) que tinham dados disponíveis e publicados dos Relatos Integrados ou relatórios de sustentabilidade no período de 2016 a 2021 e que são pertencentes a setores potencialmente poluidores e utilizadores de recursos ambientais, classificados pelo anexo VIII, da Lei 10.165/2000. O referencial conceitual reuniu contribuições teóricas sobre a Teoria dos Stakeholders, Teoria da Legitimidade e Desenvolvimento Sustentável. Adotou-se como materiais e métodos uma pesquisa exploratória e descritiva, sendo estudo de caráter misto. Quanto aos meios, é uma pesquisa bibliográfica e documental. Para a execução da análise documental, foram utilizados os relatórios de sustentabilidade ou relatos integrados divulgados pelas empresas pesquisadas no período de 2016 a 2021, através do software R para mineração de dados textuais dos relatórios pesquisados, conforme palavras chaves/relacionadas/checklist dos Capitais do RI (financeiro; natural; humano; social e de relacionamento; e intelectual), assim como, um checklist dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Já o ATLAS.ti foi utilizado para codificação e categorização dos relatórios analisados e o modelo de Suchman (1995) como base para a verificação das estratégias de legitimação das organizações pesquisadas e suas coocorrências com os ODS, ESG e Capitais não financeiros. No tocante, ao ESG foi utilizado a base de dados da Refinitiv por meio do ESG score por empresa no período (2016 a 2021), abrangendo 10 (dez) categorias de análise: uso de recursos, emissões, inovação, força de trabalho, direitos humanos, comunidade, responsabilidade do produto, gestão, acionistas e estratégia RSC. A pesquisa foi dividida em duas fases operacionais, na primeira fase (quantitativa) foi realizado o levantamento e composição dos índices de divulgação de capitais, índices de divulgação dos ODS e do Índice de Conformidade dos ODS. Para tanto, também foi utilizada a análise de conteúdo por meio da Técnica Machine Learning, por meio da linguagem de processamento natural, mediante a mineração dos dados textuais de todos os relatórios analisados, de acordo as palavras chaves/relacionadas/checklist indicadas para o estudo com o auxílio do software R. Na segunda fase do estudo foi realizada uma pesquisa qualitativa apenas com as empresas Cemig, Copel, CPFL. Nos resultados da primeira fase em relação aos capitais não financeiros, constatou-se que os capitais mais relevantes em termos de divulgação foram os capitais natural e capital social e de relacionamento, tanto no resultado geral, quanto na classificação de médio e alto potencial poluidor, demonstrando que as organizações estão direcionadas ao atendimento as demandas mais atuais da sociedade e do mercado, na medida que buscam evidenciar uma gestão ambiental adequada dos recursos e serviços ecossistêmicos, bem como, enfatizam em seus relatórios a preocupação com as mudanças climáticas e redução das emissões de gases de efeito estufa. No tocante ao capital social e de relacionamento, estão focadas em demonstrar sua capacidade para relacionar-se e colaborar com seus stakeholders, buscando proporcionar o desenvolvimento e o bem-estar das comunidades. Nos ODS, observou-se que a divulgação das informações sobre eles ainda está em processo de consolidação, evidenciando nos relatórios uma condição ainda incipiência de divulgação. Quanto ao ESG Score constatou-se que as organizações classificadas como alto potencial poluidor tiveram o melhor score (59,102) em comparação com o médio potencial poluidor (57,986) e com o resultado geral (58,374). Esses achados podem estar associados a necessidade/exigência que essas organizações possuem em divulgar um conjunto de informações ambientais, sociais e de governança corporativa bem mais amplo, buscando a legitimidade social e ambiental para continuarem operando junto à sociedade e consolidação do contrato social firmado. Já na segunda fase da pesquisa foi constatado que entre as três categorias de legitimidade evidenciadas, a categoria pragmática foi a mais evidenciada com 48,87% das citações, com destaque para a subcategoria ganhar legitimidade, com uma frequência de 310 evidenciações, perfazendo 43,78% do total. A categoria moral obteve 34,89% dos itens divulgados pelas empresas pesquisadas. E, por fim, a categoria cognitiva apresentou 16,24% das evidenciações. Esses resultados, demonstram que as empresas estão focadas na percepção dos stakeholders sobre suas atividades e com essa visão buscam atender às necessidades e expectativas do seu público alvo, visando ganhar de legitimidade. Com referência a análise de coocorrência entre os capitais não financeiros, ODS, ESG e as categorias de Legitimidade, os resultados demostraram o predomínio da categoria pragmática - ganhar legitimidade com maior frequência nos Capitais não financeiros (273), seguida pelos ODS (268), e por fim, no ESG (254). Esses achados evidenciam que as organizações estão direcionadas em melhorar a percepção imediata que a sociedade tem sobre elas, no tocante aos aspectos relacionados à sustentabilidade ambiental, social e de governança. Na legitimidade moral, observa-se que a estratégia ganhar legitimidade também apresenta maior coocorrência entre os entre os capitais não financeiros (168), ODS (179) e ESG (135), evidenciando que as organizações avaliam seu comportamento ético na execução de suas atividades, especialmente, ambientais e sociais, pois buscam sinalizar sua contribuição para o bem-estar da sociedade. Na categoria de legitimidade cognitiva, verificou-se o mesmo comportamento das demais categorias, a estratégia ganhar legitimidade obteve as frequências 85, 57 e 78 respectivamente, para os capitais não financeiros, ESG e os ODS. Estes achados indicam que as organizações visam melhorar a percepção dos seus stakeholders em relação às suas atividades, dando destaque as práticas que comungam com os interesses da sociedade, demonstrando por meio das atividades, normas e metas, seu comportamento estratégico e como atuam institucionalmente. Portanto, a partir da análise dos resultados deste estudo foi possível concluir que as organizações pesquisadas utilizam os capitais não financeiros, os objetivos de desenvolvimento sustentável e as práticas ESG como instrumentos de validação perante a sociedade e o mercado financeiro. Logo, fazem uso destes instrumentos dentro da perspectiva da teoria da legitimidade, visando legitimar suas operações e atividades comerciais e manter sua imagem e reputação.