Reumo
A humanidade enfrenta um momento crítico, o aquecimento global tem avançado a passos largos. Quando a temperatura média global ultrapassar definitivamente o limite de 1,5 °C acima do período pré-industrial, o que deve ocorrer por volta de 2030, se poderá presenciar vários componentes fundamentais do planeta atingindo seu ponto de não retorno – as florestas tropicais, as geleiras nos cumes das montanhas e o grande berçário dos oceanos representado pelos recifes de corais, entre outros elementos fulcrais para o equilíbrio do planeta (Marques, 2023). Tendo em vista esse pano de fundo, esse artigo tem como objetivo principal compreender o desenvolvimento e a relevância da atuação ambiental de um cidadão de classe média por meio, precipuamente, do relato de sua história de vida, desvelando a interação entre o indivíduo e os mecanismos sociais de proteção da natureza e as possibilidades que se abrem para uma coletividade de cunho local contra um possível colapso ambiental global. O conceito de turismo sustentável tem ganhado destaque nas últimas décadas como uma forma de equilibrar a necessidade de desenvolvimento econômico com a proteção dos recursos naturais e culturais (Barreto; Lanzarini, 2023). Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo sustentável "leva em plena consideração os impactos econômicos, sociais e ambientais atuais e futuros, atendendo às necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades anfitriãs" (OMT, 2005). Essa junção de turismo responsável e áreas protegidas remete ao Parque Nacional do Itatiaia (PNI). O PNI foi criado em 14 de junho de 1937 pelo Decreto nº 1.713, é o primeiro parque nacional do Brasil e um dos mais antigos da América Latina (ICMBIO, 2013). Localizado na Serra da Mantiqueira, o parque cobre uma área de 28.156 hectares. O PNI tem uma grande diversidade biológica que vem atraindo estudiosos desde tempos mais remotos como o francês Auguste de Saint-Hilaire e o alemão Karl Friedrich Von Martius. Esta diversidade é fruto, em grande parte, do gradiente altitudinal que produz uma grande variedade de ecossistemas, entre elas, a floresta ombrófila densa montana, floresta ombrófila densa alto montana, charcos e campos de altitude, e leva a uma fauna rica – que inclui o muriqui (brachyteles arachnoides), a suçuarana (puma concolor) e a onça pintada (pantera onca) – e uma flora luxuriante. A grande variedade de pássaros, torna o PNI um dos mais importantes locais para observação de aves no mundo (Rodrigues et al., 2013). O turismo sustentável é visto como uma ferramenta essencial para a conservação, uma vez que as atividades turísticas bem geridas podem gerar benefícios econômicos para as comunidades locais e ao mesmo tempo promover a educação ambiental e a conscientização sobre a importância da preservação (ICMBIO, 2013). Meihy (2005) define a história oral como um "processo de aquisição de entrevistas inscritas no 'tempo presente' e deve responder a um sentido de utilidade prática, social e imediata". A metodologia de história de vida está relacionada à história oral, pois esta é sua irmã mais nova. Enquanto a história de vida surge nos anos 1920, a história oral só consegue ter condição de surgir como um campo da história entre os anos 1960 e 1970, ao buscar suas origens na antiguidade depois de um movimento crítico historiográfico à tradição oral a partir do século XIX. A história de vida busca uma maior amplitude por meio de um informante que se faz representante de um grupo maior (Silva, 2002). As entrevistas foram conduzidas com Agenor Siqueira utilizando a plataforma Microsoft Teams, o que permitiu a realização de conversas remotas em vídeo e áudio. Após a realização das entrevistas, o processo de transcrição foi realizado utilizando o software Microsoft Word, que facilitou a reprodução fiel das falas dos entrevistados. A trajetória do senhor Agenor Siqueira no montanhismo e na preservação ambiental se iniciou ainda na juventude, marcada por uma curiosidade genuína pelo rico ambiente natural ao seu redor e um desejo de explorar as montanhas que cercavam sua cidade natal: Resende/RJ. A convivência mais frequente e íntima com o PNI, o ensinou a respeitar a natureza e a desenvolver uma forma de se conectar com o ambiente natural de maneira significativa. Ao longo dos anos ele viu crescer um maior senso de responsabilidade ambiental e ficou mais consciente sobre os impactos negativos que atividades humanas descontroladas causam. Ele afirma que “se você usar a natureza de uma maneira correta, você pode ter ganho com o turismo (...) sem ser aquele turismo predatório” (Agenor Siqueira, 2024). De acordo com o entrevistado “todos os projetos que eu montei na área do turismo (...) foi focado nessa parte ambiental, na parte do ecoturismo (...) a minha grande contribuição é essa, é tentar mostrar à população local e aos visitantes a importância da preservação” (Agenor Siqueira, 2024). Em sua história de vida, Agenor Siqueira explicou que acredita no ecoturismo feito de forma sustentável como um instrumento de conscientização. Com base nessa crença deu uma amostra de como um cidadão comum, sem ser uma autoridade, pode desenvolver ações localmente que, somadas a centenas de milhares ao redor do globo, podem começar a ser um movimento de mudança.