Reumo
A crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade nas operações empresariais tem levado ao aumento da relevância de métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) na avaliação das empresas (Monteiro, Miranda, Rodrigues & Saes, 2021; Crifo, Durand & Gond, 2019). No Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 é uma referência para investidores que buscam alocar capital em empresas comprometidas com práticas sustentáveis (Teixeira et al., 2011; Santana Fraga et al., 2022). Este ensaio visa analisar a relação entre a pontuação ESG medida sob o ISE B3 em 2023 e o desempenho financeiro de empresas de capital aberto, utilizando como métricas o Retorno sobre Ativos (ROA), Retorno sobre Patrimônio (ROE), Lucro por Ação (LPA), Q de Tobin, e Tamanho da empresa.
Para Singh & Misra (2021), o desempenho financeiro, um aspecto crítico do sucesso organizacional, é tradicionalmente avaliado através de indicadores como crescimento de vendas, retorno sobre o investimento, retorno sobre ativos, taxa de lucro, retorno sobre vendas e lucro por ação. Os indicadores de desempenho não financeiros abrangem a qualidade do produto, a gestão da qualidade total e o tamanho da organização. A interação entre estas métricas financeiras e não financeiras torna-se crucial na compreensão do impacto abrangente da Sustentabilidade Empresarial nos resultados organizacionais (Chandler & Werther, 2014; Soares et al. 2020).
Para compreender plenamente a relação entre sustentabilidade e desempenho financeiro, é crucial revisitar o conceito de desempenho financeiro e como sua avaliação evoluiu ao longo do tempo. Tradicionalmente, desempenho financeiro era interpretado como informações meramente contábeis provenientes de demonstrações financeiras, como Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados e Demonstração dos Fluxos de Caixa, conforme descrito por Santos (2008). No entanto, essa visão tem se expandido para incluir aspectos qualitativos, como o valor intangível gerado pela boa governança, inovação, e práticas de sustentabilidade, refletidas em métricas como o ISE B3.
Bergamini Junior (2021) e Serafeim (2023), argumentam que as práticas de sustentabilidade empresarial, quando alinhadas corretamente, podem reduzir custos e riscos, melhorar reputação e legitimidade, impulsionar a inovação e o reposicionamento, e contribuir para o crescimento sustentável, representando uma oportunidade significativa e subestimada para o crescimento lucrativo no longo prazo.
O cenário em evolução das métricas ESG, juntamente com uma ênfase crescente na sustentabilidade como uma oportunidade de negócio, sugere que a integração de ESG nas práticas empresariais está a tornar-se cada vez mais central (Fiaschi et al., 2020; Coelho et al., 2023; Bergamini Junior, 2021).
Em nosso estudo, os resultados das regressões indicaram que todos os modelos foram estatisticamente significativos, sugerindo uma relação relevante entre as práticas ESG, medidas pelo ISE B3 de 2023 e o desempenho financeiro das empresas. No entanto, um ponto de destaque foi a relação entre o Tamanho da empresa e a pontuação geral do ISE, onde o coeficiente não se mostrou significativo (3,8612). Este achado sugere que, independentemente do porte, as práticas de sustentabilidade não são fortemente influenciadas pela dimensão da empresa quando analisadas em conjunto.
A relação entre a pontuação ESG e o desempenho financeiro das empresas de capital aberto no Brasil em 2023 é estatisticamente significativa, refletindo a importância crescente das práticas sustentáveis no ambiente corporativo. Ligteringen (2012, p.24) observa que “a mudança vem das empresas que estão utilizando as informações sobre sustentabilidade para preparar seus planos de negócios para o longo prazo”. Embora o Tamanho da empresa não tenha se mostrado relevante no modelo geral do ISE, outros fatores ESG demonstraram uma relação clara com métricas financeiras tradicionais. O estudo contribui para a compreensão de como as práticas de sustentabilidade influenciam o desempenho financeiro, sugerindo que a integração de práticas ESG pode ser uma estratégia valiosa para a criação de valor a longo prazo.