Reumo
O crescente debate acerca das mudanças climáticas tem compreendido questões como suas causas e as diferentes estratégias relacionadas à mitigação e à adaptação para lidar com seus desafios. Nesse cenário, o comportamento pró-ambiental de adolescentes emerge como importante foco na literatura científica, dada a sua relevância para o futuro das políticas ambientais (Iqbal et al., 2023; Bylund et al., 2022). Embora a literatura aponte fatores como o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a inclusão da temática mudanças climáticas no currículo escolar, como catalisadores para atitudes pró-ambientais (Lawrence et al., 2020; Gasper et al., 2019), ainda há uma lacuna na investigação sobre a interação entre variáveis contextuais, como o cumprimento dos ODS e a inclusão dessa temática no currículo escolar, e variáveis individuais, como a familiaridade dos adolescentes com as mudanças climáticas. Estudos que utilizem abordagens multinível para analisar o impacto combinado desses fatores no comportamento pró-ambiental são escassos, especialmente em contextos transculturais (Tam & Milfont, 2020). O objetivo do presente estudo é investigar as influências (i) do cumprimento dos ODS 4 (Educação de Qualidade) e 12 (Consumo e Produção Responsáveis), (ii) da inclusão da temática mudanças climáticas no currículo escolar, e (iii) da familiaridade individual com o tema das mudanças climáticas, sobre o comportamento pró-ambiental de adolescentes em diferentes países.
Foi utilizada abordagem quantitativa descritiva e causal, por meio de análise de regressão multinível, com base em dados secundários e com auxílio do software SPSS (versão 26.0), para estimar a relação entre o contexto macro (os ODS e a inclusão da temática mudanças climáticas no currículo escolar) e aspectos individuais (familiaridade individual com essa temática), avaliando a influência desses fatores na formação do comportamento pró-ambiental de adolescentes. Os dados foram coletados a partir de uma amostra de 336.087 adolescentes de 55 países, entre 15 e 16 anos, com igual proporção de gêneros. A base de dados utilizada para selecionar os países foi o Programme for International Student Assessment (PISA, 2018). Para mensurar os ODS 4 e 12, foram utilizados os indicadores do Sustainable Development Report (2022), enquanto a inclusão de mudanças climáticas no currículo escolar foi medida por meio de respostas de diretores de escolas ao PISA (2018). A variável dependente foi o comportamento pró-ambiental, mensurado por cinco variáveis de autoavaliação também extraídas do PISA, e a variável de controle foi o gasto governamental com educação. A variável de nível individual, familiaridade com a temática das mudanças climáticas, foi mensurada por meio de uma escala de 4 pontos, extraída do PISA (2018), na qual os adolescentes indicaram seu nível de conhecimento sobre o tema. Para considerar a heterogeneidade individual, foi incluída a variável de controle gênero, uma abordagem utilizada em estudos de comportamento individual (Xia & Li, 2022; Žukauskiene et al., 2020).
Os resultados revelam que o cumprimento do ODS 4 nos países abrangidos pelo estudo é baixo, com 40% ou menos das metas alcançadas. O ODS 12 apresenta desempenho mais positivo, com 88,1% dos países atingindo níveis consideráveis de cumprimento. Quanto à inclusão de mudanças climáticas no currículo escolar, 50,7% das escolas integraram o tema em seus programas, e em relação à familiaridade dos adolescentes com o tema, 48,1% relataram conhecimento básico, enquanto 26,9% se consideram bem informados. No que tange ao comportamento pró-ambiental, apenas 23,6% dos jovens atingiram uma pontuação alta na escala de 0 a 5, enquanto a maioria apresentou comportamento ambiental médio ou baixo. A análise de regressão multinível demonstrou que tanto o cumprimento do ODS 4 (Y_01 = 0.01, p < 0,05) quanto o do ODS 12 (Y_02 = 0.01, p < 0,01) tiveram influência significante e positiva sobre o comportamento pró-ambiental dos adolescentes. A familiaridade com as mudanças climáticas também se mostrou significante (Y_10 = 0.09, p < 0,01), indicando influência positiva sobre o comportamento pró-ambiental. Os resultados revelam ainda que o gênero (Y_20 = –0.07, p < 0,01) exerce um efeito negativo sobre o comportamento pró-ambiental dos indivíduos, tal que rapazes adolescentes apresentam, em média, nível deste comportamento inferior ao das moças. Além disso, a inclusão da temática mudanças climáticas no currículo escolar (Y_03 = 0.12, p < 0,01) também se mostrou um fator positivo, reforçando a importância da educação formal na promoção de atitudes pró-ambientais. Os gastos governamentais com educação (Y_04 = 0.16, p < 0,01) apresentaram impacto positivo, indicando que maiores investimentos em educação promovem comportamentos mais sustentáveis.
Este estudo contribui para o entendimento das dinâmicas que influenciam o comportamento pró-ambiental entre adolescentes, destacando a relevância da educação e da familiaridade com as mudanças climáticas para o desenvolvimento de atitudes sustentáveis. A pesquisa ressalta o papel da escola na promoção da conscientização ambiental e sugere que a inclusão do tema mudanças climáticas no currículo escolar é uma estratégia eficaz para fomentar comportamentos pró-ambientais. Como implicações práticas, sugere-se que políticas educacionais voltadas à sustentabilidade devem ser priorizadas por governos e instituições de ensino, com foco em práticas de consumo responsável. Para futuras investigações, recomenda-se a inclusão de diferentes faixas etárias e contextos, bem como uma abordagem mais aprofundada das diferenças de gênero no comportamento ambiental, uma vez que intervenções educacionais específicas podem promover uma maior similaridade na adoção de comportamentos sustentáveis entre os jovens.