Reumo
A crescente incidência de câncer e os desafios relacionados ao tratamento e cuidados paliativos estão diretamente conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 da Agenda 2030 da ONU, que visa garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todos em todas as idades. Dentro desse contexto, a ODS 3 busca não apenas reduzir as mortes prematuras por doenças não transmissíveis, como o câncer, mas também assegurar o acesso universal a serviços de saúde de qualidade, o que inclui prevenção, tratamento e cuidados paliativos.
A alta mortalidade por câncer, como apontado pelo estudo da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), ressalta a importância de fortalecer as ações de saúde pública para atingir as metas da ODS 3. Com aproximadamente 20 milhões de novos casos e 9,7 milhões de mortes em 2022, a doença representa uma ameaça à saúde global, exigindo uma resposta efetiva em termos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento acessível. O diagnóstico tardio, que resulta em tratamentos mais complexos e caros, sobrecarrega o sistema de saúde, como demonstrado no Brasil, onde os gastos com tratamentos oncológicos no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram drasticamente nos últimos anos. Para lidar com esse desafio, o SUS gastou cerca de R$ 4 bilhões em 2022, o que corresponde a 3% do total de recursos destinados à saúde pública.
Esses dados refletem a necessidade de políticas públicas que promovam a prevenção e o diagnóstico precoce, fatores essenciais para reduzir a carga de doenças, conforme preconizado pela ODS 3. Projeções indicam que, sem intervenções eficazes, o Brasil poderá gastar até R$ 7,84 bilhões anuais em tratamentos oncológicos até 2040, evidenciando a urgência de melhorar a infraestrutura de saúde e implementar programas preventivos de triagem em larga escala. Esses programas podem reduzir drasticamente os custos ao evitar que a doença avance para estágios mais graves, além de aumentar as chances de cura, que são significativamente maiores quando o câncer é detectado precocemente.
Em resposta a esse cenário desafiador, o Ministério da Saúde do Brasil publicou, em 2018, a Resolução nº 41, que regulamenta a oferta de cuidados paliativos como parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS). Esta resolução garante que pacientes oncológicos em estágios avançados da doença recebam cuidados adequados, alinhando-se diretamente com a meta do ODS 3 de assegurar o bem-estar e acesso à saúde de qualidade para todos, incluindo cuidados paliativos.
O estudo realizado em um hospital de grande porte em São Paulo, que atende exclusivamente pacientes do SUS, serve como um exemplo prático de como as instituições de saúde podem contribuir para o alcance do ODS 3. Em 2022, o hospital iniciou um projeto focado na busca ativa de pacientes oncológicos candidatos a cuidados paliativos. Por meio do mapeamento de processos e da implementação de novos fluxos assistenciais, o hospital conseguiu melhorar significativamente o atendimento a esses pacientes. Essa intervenção, fundamentada na metodologia Lean Six Sigma (LSS), foi um passo importante para otimizar processos assistenciais, reduzir desperdícios e garantir um uso mais eficiente dos recursos.
A aplicação do Lean Six Sigma na saúde reflete o compromisso com a melhoria contínua, essencial para alcançar as metas do ODS 3. A ferramenta permite que instituições de saúde melhorem a qualidade dos cuidados prestados, eliminem ineficiências e proporcionem um atendimento mais humano e centrado no paciente. Com a adoção dessa metodologia, o hospital de São Paulo obteve resultados excelentes, como o encaminhamento precoce de pacientes para cuidados paliativos, com base em consultas de enfermagem e abertura de risco paliativo precoce. Isso reforça o papel crucial da inovação na saúde para promover o bem-estar e atender às demandas crescentes da população.
Além de seus impactos diretos na saúde dos pacientes, a adoção do Lean Six Sigma e outras estratégias de melhoria contínua pode inspirar outras instituições de saúde no Brasil e no mundo a implementar processos similares. Otimizando o uso de recursos e melhorando a qualidade do atendimento, essas instituições podem não só cumprir as metas do ODS 3, mas também contribuir para a conscientização da sociedade e para a revisão de políticas públicas de saúde. Isso ajuda no fortalecimento da capacidade de gestão dos sistemas de saúde, tornando-os mais eficientes e resilientes para enfrentar desafios futuros.
Divulgar as boas práticas desenvolvidas no hospital de São Paulo tem o potencial de influenciar de forma positiva a formulação de políticas públicas de saúde, incentivando gestores de saúde a buscar inovações e melhorias contínuas em suas áreas de atuação. Essa abordagem integrada, alinhada com as metas do ODS 3, traz a oportunidade de elevar a qualidade de vida de pacientes oncológicos, reduzir desigualdades no acesso ao tratamento e garantir que os sistemas de saúde possam lidar de maneira eficaz com o aumento da demanda por cuidados de saúde, especialmente em relação a doenças crônicas e não transmissíveis como o câncer.