Reumo
A importância da sucessão geracional e da juventude no meio rural tem fomentado discussões em instituições públicas e privadas, bem como a elaboração de programas e políticas públicas (STRATE; SCHUMANN, 2019), tendo uma relação significativa com a maioria dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Entre essas iniciativas, destacam-se as políticas educacionais, que têm o objetivo de incentivar e preparar jovens para permanecerem e gerirem diferentes empreendimentos no meio rural. Nessa perspectiva, o Serviço Nacional de Aprendizagem em Cooperativismo (SESCOOP-RS), amparado pela Lei 10.097/2000 – Lei da Aprendizagem e pelo Decreto nº 9.579, de 2018, em parceria com cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul, disponibilizou o Programa Aprendiz Cooperativo do Campo (SESCOOP, 2022). O objetivo deste trabalho é descrever a avaliação do referido programa pelos jovens participantes. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário online, enviado por e-mail e/ou WhatsApp, a jovens de 14 a 24 anos, participantes do Programa Aprendiz Cooperativo do Campo, que haviam cursado 80% ou concluído o curso. As questões eram majoritariamente fechadas, sendo as de avaliação do programa em escala Likert de cinco pontos. A amostra foi do tipo não probabilística e por conveniência (HAIR JUNIOR et al., 2005), com 105 jovens respondendo ao questionário entre os meses de junho e julho de 2022. O tratamento dos dados foi realizado por meio de estatística multivariada, mais especificamente uma análise fatorial exploratória (AFE), seguida de uma análise de cluster. Para a comparação entre os grupos, utilizou-se o Teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados coletados por meio da escala Likert são considerados não paramétricos (HAIR JUNIOR et al., 2005). Os resultados da AFE revelaram um índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de 0,665, sendo o Teste de Esfericidade de Bartlett estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade. Os dados foram rotacionados pelo método Varimax, com normalização de Kayser, e a variância explicada foi de 74,132%. Três fatores contribuíram para explicar a percepção dos jovens participantes do programa, os quais podem influenciar na escolha de permanecer nas propriedades rurais. O primeiro fator, denominado infraestrutura e conhecimento, representa 30,605% da variância e foi composto por variáveis relacionadas à infraestrutura e aos equipamentos disponibilizados pelo programa para as atividades em sala de aula, assim como as atividades promovidas pela cooperativa, como palestras, congressos e dias de campo. O segundo fator, denominado estímulo à sucessão (18,754% da variância), refere-se à possibilidade de os jovens tornarem-se sucessores e ao sentimento de estarem mais preparados para dar continuidade às propriedades familiares. O terceiro fator, denominado efeitos do programa (16,934% da variância), relaciona-se com a percepção de visibilidade da sucessão antes e após o programa, além da possibilidade de maior convívio social. Por meio da análise de cluster, do tipo hierárquico (método de Ward) e mensuração pela distância Euclidiana ao quadrado, foram identificados três grupos. O primeiro cluster (39 jovens) foi composto majoritariamente por mulheres (61,5%), com 38,5% de homens; faixa etária entre 15 e 17 anos (25,6%) e, predominantemente, com ensino médio incompleto (74,4%). Aproximadamente 89% dos jovens residiam na propriedade com os pais, cuja área média era de 47,86 hectares. As principais atividades eram o cultivo de grãos (35,95%) e a bovinocultura de leite (30,8%), sendo a comercialização realizada, em sua maioria, por meio da cooperativa (76,9%). O segundo cluster foi composto por 42 jovens, predominantemente homens (54,8%), com maior concentração na faixa etária de 17 a 25 anos (26,2%) e com ensino médio incompleto (61%). Aproximadamente 90,5% residiam na propriedade com os pais, cuja área era de cerca de 55 hectares. As principais atividades eram a produção de grãos (54,8%), seguida pela bovinocultura de leite (14,3%) e suinocultura (11,9%), com a comercialização também majoritariamente realizada junto à cooperativa (76,9%). O terceiro cluster foi composto predominantemente por homens (54,2%), com 20,8% dos jovens na faixa de 17 anos, e ensino médio incompleto (66,7%). Cerca de 90,5% residiam com os pais, cuja propriedade tinha em média 31 hectares. As atividades predominantes eram o cultivo de grãos (50%) e a bovinocultura de leite (25%), sendo que, em 75% dos casos, a comercialização era feita por meio da cooperativa. As variáveis identificadas pela AFE foram utilizadas para a análise de cluster e para o teste de hipóteses, mais precisamente o Teste de Kruskal-Wallis. Na avaliação dos jovens sobre a variável "infraestrutura disponibilizada pelo programa", a mediana foi 4,00, havendo diferenças significativas entre os clusters 1-3 e 2-3 (0,000, p < 0,05). Para os equipamentos disponibilizados pelo programa, a mediana foi 4,00, com diferenças entre os clusters 1-2 (0,009, p < 0,05), 1-3 e 2-3 (0,000, p < 0,05). Quanto às atividades, como palestras e congressos, a mediana foi 4,00, com diferenças significativas entre os clusters 1-3 e 2-3 (0,000, p < 0,05). Em relação às variáveis "me sinto mais próximo de me tornar sucessor da propriedade rural" e "me sinto mais preparado para assumir a propriedade rural", a mediana foi 4,00 para ambas, com diferenças significativas entre os grupos 1-3 (0,002, p < 0,05) e 2-3 (0,008, p < 0,05). Para a variável "antes de participar do programa não visualizava a possibilidade de permanecer no meio rural como sucessor", a mediana foi 3,00, com diferenças entre os clusters 1-2 e 1-3 (0,000, p < 0,05). Na variável "possibilitou maior convívio social", a mediana foi 4,00, com diferença entre os clusters 1-3 (0,044, p < 0,05) e 2-3 (0,000, p < 0,05). Neste contexto, ainda que com diferentes intensidades, os jovens avaliaram positivamente o Programa Jovem Aprendiz Cooperativo do Campo, sobretudo no que diz respeito aos incentivos à sucessão.
REFERÊNCIAS
HAIR JUNIOR, J. F. et al. Fundamentos de Métodos de Pesquisa em Administração. Porto Alegre: Bookman, 471 p, 2005.
SESCOOP. Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado do Rio Grande do Sul. Programa Aprendiz Cooperativo do Campo. 2022.
STRATE, M. F; SCHUMANN, M. L. Aprendiz do campo: estimulando a sucessão rural através do cooperativismo no município de Teutônia – RS. Horizontes das Ciências Sociais Rurais, v. 2. 2019.