Reumo
A agricultura familiar, caracterizada pela presença de famílias que cultivam a terra em propriedades de diferentes tamanhos, desempenha papel crucial na produção de alimentos. Esses pequenos agricultores, organizados em famílias, são responsáveis por grande parte da produção agrícola e pecuária no Brasil.
O Censo Agropecuário de 2017, por exemplo, destaca a importância da agricultura familiar, responsável por 76,8% dos estabelecimentos agropecuários e 67% da mão de obra no setor. Ademais, a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a promulgação da Lei nº. 11.326/2006 foram marcos importantes para o fortalecimento da agricultura familiar no Brasil, oferecendo financiamento acessível e definindo critérios claros para a identificação desse grupo. Apesar da sua relevância, esse segmento enfrenta desafios, como o acesso a recursos, políticas públicas e apoio governamental. Em sua maioria, as políticas públicas ainda favorecem as grandes propriedades, acentuando desafios, especialmente os decorrentes da competitividade e da globalização.
Nesse contexto, o empreendedorismo rural surge como uma solução para a viabilidade financeira e sustentabilidade dessas famílias, ao passo que políticas públicas mais inclusivas são necessárias para garantir o desenvolvimento sustentável das áreas rurais. Assim, surge a pergunta central deste estudo: qual a importância do planejamento para os empreendedores rurais diante dos desafios da agricultura familiar? Busca-se, com isso, identificar como o planejamento pode auxiliar os empreendedores rurais a enfrentar os desafios encontrados na agricultura familiar. E, de forma específica, pretende-se identificar a importância da agricultura familiar para o desenvolvimento local, os principais desafios encontrados pelos empreendedores rurais e o papel do planejamento na busca de boas práticas ambientais, sociais e financeiras na agricultura familiar.
Para tanto, adotou-se uma abordagem qualitativa, com o fim de explorar a complexidade da agricultura familiar. Além da revisão bibliográfica, baseada em artigos científicos QUALIS CAPES A1 a A4, entre 2018 e 2024, a coleta de dados ocorreu a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com 19 participantes durante a Feira de Negócios do Cooperativismo Paraense (FENCOOP) em Belém, permitindo captar a subjetividade dos agricultores sobre cooperativas, logística e impacto de políticas públicas.
No decorrer da pesquisa, constatou-se que a agricultura familiar é limitada pelo acesso precário à terra, à educação e tecnologias, o que reforça a dependência desses agricultores às políticas públicas. Nesse cenário, o empreendedorismo rural é uma estratégia de diversificação de atividades e geração de renda, permitindo que agricultores familiares busquem alternativas inovadoras para aumentar sua produtividade. Essa diversificação inclui produção de alimentos processados, artesanato e turismo rural, contribuindo para a sustentabilidade econômica e ambiental das comunidades. Em paralelo, verificou-se que o planejamento regional é crucial para o desenvolvimento econômico e ambiental das áreas rurais. Este processo visa conciliar a produção agropecuária com a preservação ambiental. A integração entre atores locais, como agricultores, cooperativas e instituições de pesquisa, é essencial para garantir o sucesso das ações planejadas e o desenvolvimento sustentável do setor. Por outro lado, políticas públicas desempenham um papel essencial no fortalecimento da agricultura familiar, na medida em que são fundamentais para a superação de barreiras como a de acesso a crédito, de infraestrutura e burocracia, promovendo o desenvolvimento sustentável do setor. Iniciativas como o PRONAF e programas como PAA e PNAE, por exemplo, garantem suporte financeiro, promovem segurança alimentar e contribuem para a preservação dos recursos naturais.