Resumo

Título do Artigo

QUEM FICA COM A SUJEIRA DA ENERGIA LIMPA? Uma reflexão sobre os danos socioambientais dos parques eólicos offshore à luz da teoria crítica
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Tema

Gestão Ambiental

Autores

Nome
1 - Rikelme Sales da Silva
Universidade Federal do Ceará - UFC - Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria Responsável pela submissão
2 - Tatiane de Sousa Serafim
Universidade Federal do Ceará - UFC - Programa de Pós -graduação em Administração e Controladoria - PPAC
3 - Márcia Zabdiele Moreira
Universidade Federal do Ceará - UFC - FEAAC

Reumo

A transição energética, focada na redução das emissões, promove energias renováveis como a eólica offshore, visando alternativas limpas. Estudos indicam que turbinas eólicas offshore podem reduzir as emissões de CO? em até 3,3 bilhões de toneladas anuais até 2050 (Nature Communications, 2021). Todavia, essa transição também gera danos socioambientais significativos. A instalação e operação de parques eólicos offshore podem perturbar ecossistemas marinhos e afetar a pesca, com uma perda de habitat marinho impactando até 2% das áreas de pesca (Nature Communications, 2021). Fundamentado na Teoria Crítica, este ensaio examina a distribuição desigual dos custos e benefícios, evidenciando como grupos marginalizados suportam os impactos enquanto grandes corporações lucram. O objetivo é analisar criticamente os impactos socioambientais dos parques eólicos offshore, explorando como os custos são externalizados e invisibilizados, enquanto os benefícios são concentrados em grandes corporações e atores políticos. A transição energética global, impulsionada pela necessidade de enfrentar as mudanças climáticas, tem promovido um crescimento acelerado das energias renováveis, destacando a energia eólica offshore como uma solução chave para a descarbonização. Segundo o Global Wind Report 2023, a capacidade instalada dessa energia aumentou de cerca de 12 GW em 2018 para mais de 39 GW em 2023 (GWEC, 2023). Esse crescimento é impulsionado por grandes investimentos de governos e corporações, prometendo geração de energia em larga escala com menor pegada de carbono. Contudo, a narrativa da "energia verde" muitas vezes ignora os impactos socioambientais dessa transição. O relatório da International Renewable Energy Agency (IRENA) indica que até 30% das áreas marinhas para parques eólicos estão localizadas em regiões de alta biodiversidade, afetando ecossistemas sensíveis e espécies vulneráveis (IRENA, 2022). Esse paradoxo evidencia uma discrepância entre a promessa de sustentabilidade e os danos reais causados a grupos e ecossistemas. A Teoria Crítica, desenvolvida pela Escola de Frankfurt, oferece uma abordagem reflexiva para entender as estruturas de poder, desigualdade e dominação na sociedade. Baseada em Max Horkheimer, Theodor Adorno e Herbert Marcuse, ela desvela como sistemas hegemônicos perpetuam exploração e opressão, questionando a racionalidade instrumental que prioriza eficiência técnica e lucro em detrimento de considerações éticas e sociais. Horkheimer e Adorno, em "Dialectic of Enlightenment" (2002), fornecem uma base teórica que pode ser utilizada para examinar as dinâmicas de poder na transição energética. Aplicada à energia limpa, ela desconstrói o discurso dominante, revelando que a energia eólica offshore, apesar de promovida como sustentável, frequentemente oculta impactos negativos em comunidades vulneráveis e ecossistemas marinhos (Xavier et al., 2023). Ela evidencia como o crescimento das energias renováveis reproduz desigualdades, transferindo custos para grupos menos favorecidos e ignorando danos invisíveis. A instalação de parques eólicos offshore causa danos significativos ao ecossistema marinho, afetando a biodiversidade, destruindo habitats e prejudicando a pesca local. Comunidades costeiras e pescadores são desproporcionalmente impactados, perdendo suas fontes de sustento e enfrentando degradação ambiental (Bennun et al., 2021). A Teoria Crítica destaca a externalização dos custos, evidenciando como impactos ambientais e sociais são invisibilizados enquanto os benefícios econômicos são concentrados em grandes corporações e governos. Essa lógica ignora as consequências para grupos vulneráveis, que suportam os custos da transição energética sem compartilhar os ganhos financeiros. O conceito de colonialismo energético exemplifica como grandes potências e corporações exploram recursos, marginalizando comunidades locais que enfrentam impactos negativos sem benefícios (Santos, 2024). Além disso, a falta de participação democrática é evidente na exclusão dessas comunidades das decisões sobre a localização e expansão dos parques eólicos offshore (Pasqualetti, 2018), perpetuando desigualdades e injustiças socioambientais. A viabilidade de uma transição energética verdadeiramente sustentável é questionável se os impactos das eólicas offshore não forem completamente considerados. A partir da perspectiva da Teoria Crítica, é evidente que a transição energética, promovida como uma solução sustentável, pode esconder desigualdades sociais e ambientais significativas. Para alcançar um futuro mais justo, é essencial implementar regulamentações rigorosas que minimizem os danos ambientais e sociais e garantir a participação ativa das comunidades afetadas no processo decisório. É fundamental adotar uma abordagem integrada da sustentabilidade que equilibre aspectos sociais, econômicos e ecológicos, assegurando que os benefícios sejam distribuídos de maneira equitativa e que os custos não sobrecarreguem desproporcionalmente as comunidades vulneráveis. A Teoria Crítica revela que, apesar das eólicas offshore serem apresentadas como soluções sustentáveis, os custos são frequentemente externalizados para grupos menos favorecidos, enquanto grandes corporações e governos se beneficiam financeiramente. Portanto, é imperativo que políticas mais inclusivas e sustentáveis sejam adotadas, promovendo uma transição energética que respeite e valorize as dimensões sociais e ambientais, assegurando justiça equitativa para todos.