Resumo

Título do Artigo

DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE CELULOSE E NÍVEIS SALÁRIAIS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE 2009 A 2021
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Tema

Agronegócios e Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Anderson Cardoso Viegas
Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia Responsável pela submissão
2 - Paulo Henrique de Oliveira Hoeckel
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Reumo

O setor de celulose em Mato Grosso do Sul desempenha um papel central no desenvolvimento econômico da região. Com quatro fábricas em operação, sendo três da Suzano e uma da Eldorado, o estado alcançou em 2023 a marca de maior exportador de celulose do Brasil, com 3,9 milhões de toneladas exportadas. A capacidade produtiva anual de 7,5 milhões de toneladas será ampliada nos próximos anos com a implementação de novos projetos, como os da Arauco em Inocência, da Bracell em Água Clara e uma nova linha da Eldorado. O setor não apenas aumentou sua produção ao longo do tempo, mas também sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, que passou de 11% em 2009 para 28% em 2021. O Valor Bruto da Produção (VBP) do setor subiu de R$ 958 milhões para impressionantes R$ 12,9 bilhões no mesmo período. O crescimento da indústria de celulose foi impulsionado por fatores favoráveis ao cultivo de eucalipto, como localização geográfica estratégica, características climáticas adequadas, vasta disponibilidade de áreas antropizadas e políticas públicas incentivadoras. Isso resultou em um impacto econômico significativo, gerando empregos e promovendo o crescimento da massa salarial. No entanto, permanece a dúvida sobre se o aumento na produção e geração de empregos se refletiu em melhorias salariais para os trabalhadores, sobretudo em comparação com a evolução do salário mínimo brasileiro. A principal questão a ser investigada é se o desenvolvimento da indústria de celulose em Mato Grosso do Sul, entre 2009 e 2021, resultou em uma melhoria salarial para os trabalhadores que ultrapasse o percentual de aumento do salário mínimo no mesmo período. O estudo também busca examinar se a escolaridade e o gênero dos trabalhadores influenciaram suas remunerações, testando as hipóteses de que indivíduos com maior nível educacional recebem salários mais altos e que existe uma disparidade salarial entre homens e mulheres. Para realizar essa análise, foram utilizados dados de diversas fontes, como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Esses dados cobrem variáveis como salário médio por gênero e escolaridade, massa salarial, produção de celulose, exportações, área plantada com eucalipto e o valor do salário mínimo entre 2009 e 2021. As informações foram organizadas em duas bases de dados para análise, permitindo uma avaliação detalhada da evolução salarial no setor de celulose em comparação com o salário mínimo. O crescimento do setor de celulose em Mato Grosso do Sul está diretamente relacionado à expansão da área de cultivo de eucalipto e ao aumento da produção industrial, fatores que foram acompanhados por um crescimento expressivo na geração de empregos e na remuneração dos trabalhadores. Entre 2009 e 2021, o número de empregados no setor subiu de 2.731 para 10.361, enquanto a massa salarial aumentou de forma notável. A análise empírica indicou que, em média, os salários no setor de celulose cresceram mais rapidamente que o salário mínimo em sete dos 13 anos analisados, com uma diferença média anual de 40,86%. Isso sugere que o crescimento econômico do setor teve um impacto positivo na remuneração dos trabalhadores, confirmando a hipótese geral de que o desenvolvimento da indústria resultou em uma melhoria salarial superior ao aumento do salário mínimo. Ao examinar os fatores que influenciam a remuneração, verificou-se que a escolaridade é um dos principais determinantes dos níveis salariais. Trabalhadores com maior qualificação educacional, especialmente aqueles com mestrado e doutorado, recebem salários significativamente mais altos que aqueles com níveis de escolaridade mais baixos. Isso confirma a hipótese de que a educação desempenha um papel crucial na valorização salarial, sendo um fator importante para o crescimento das remunerações no setor de celulose. Apesar dos avanços econômicos e do crescimento das oportunidades de emprego, o estudo revelou uma persistente disparidade salarial de gênero. As mulheres no setor de celulose continuam a receber, em média, salários 48% inferiores aos dos homens. Embora tenham registrado um aumento real nos salários durante o período analisado, a melhoria não foi suficiente para eliminar a diferença salarial entre homens e mulheres. Esse resultado corrobora estudos anteriores que apontam para a existência de um "hiato salarial" no Brasil, particularmente entre homens e mulheres, além de outras formas de desigualdade, como as relacionadas à cor da pele. Os resultados da pesquisa também indicam que o crescimento da área plantada com eucalipto foi uma das variáveis mais significativas para explicar o aumento salarial no setor de celulose. Isso demonstra que a expansão do setor florestal teve um impacto direto nas remunerações dos trabalhadores, independentemente de seu gênero ou nível de escolaridade. Além disso, o crescimento da massa salarial, que aumentou 773,1% no período estudado, reflete a importância econômica do setor não apenas para as empresas, mas também para a força de trabalho local. No entanto, nem todas as variáveis relacionadas ao crescimento econômico tiveram impacto significativo nos salários dos trabalhadores. Fatores como o volume de exportações e a participação do setor de celulose no PIB da indústria de transformação do estado não se mostraram estatisticamente relevantes para explicar as variações salariais no setor, o que sugere que outros fatores podem estar em jogo na determinação dos níveis de remuneração. Em conclusão, o desenvolvimento do setor de celulose em Mato Grosso do Sul entre 2009 e 2021 resultou em uma melhoria salarial real superior ao aumento do salário mínimo, o que confirma a hipótese geral do estudo. No entanto, persistem desafios relacionados à desigualdade de gênero e à valorização dos trabalhadores com menores níveis de escolaridade. Embora a expansão da área de cultivo de eucalipto tenha sido identificada como um dos principais motores do crescimento salarial, é fundamental que políticas públicas sejam adotadas para garantir maior equidade salarial e justiça social, de modo que o desenvolvimento econômico do setor beneficie de forma mais ampla todos os trabalhadores. Sugere-se, para estudos futuros, uma análise mais aprofundada das condições de trabalho no setor, incluindo a terceirização, bem como uma investigação mais detalhada dos impactos socioambientais das atividades florestais, a fim de garantir que o crescimento econômico continue a ser sustentável e inclusivo.