Resumo

A necessidade robusta de aprofundamento dos aspectos sociais na Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentáveis manifesta-se ao lado de outra tendência: o desenvolvimento de estudos empíricos no campo com maior suporte teórico. Sob a lente da Teoria da Contingência, um estudo de casos múltiplos investiga a influência dos fatores poder e dependência na adoção da sustentabilidade social na cadeia de suprimentos.

Pesquisas em SCM avançam desproporcionalmente nas dimensões ambientais e econômicas, frente à dimensão social. A Teoria da Contingência foi adotada em estudos da área, indicando fatores como poder, criticidade de materiais, dependência, distância e recursos de conhecimento, e seus efeitos sobre a abordagem escolhida pela empresa focal. O presente estudo busca aprofundar tais achados e entender, mais especificamente, - Como os fatores contingenciais poder e dependência influenciam empresas focais na adoção da sustentabilidade social ao longo de sua cadeia de suprimentos?

A Sustentabilidade Social na Gestão da Cadeia de é entendida como o endereçamento de questões sociais a montante e a jusante da empresa focal, ou seja, indo além das operações internas (MANI et al., 2015). A Teoria da Contingência também tem sido adotada em estudos que investigam a SSCM (TACHIZAWA; WONG, 2014; FORMENTINI; TATICCHI, 2016). Sob essa perspectiva, o melhor estilo gerencial ou melhores decisões dependem, em cada caso, de diversos fatores. Destaca-se Tachizawa e Wong (2014), que indicam fatores como poder, criticidade de materiais, dependência, distância e recursos de conhecimento.

A construção de teoria com base em estudo de casos múltiplos é uma estratégia que busca identificar padrões dentro e entre casos (EISENHARDT; GRAEBNER, 2007). Adotou-se a construção de corpus teórico, sugerida por Bauer e Gaskell (2017). Como unidades de análises, foram investigados seis casos de grandes indústrias no Brasil. A entrevista semi-estruturada foi utilizada para coleta de dados primários e o levantamento de relatórios de sustentabilidade para dados secundários. Adotou-se codificação estrutural (SALDAÑA, 2015) com códigos predefinidos, de questões sociais e fatores de contingência.

Sugere-se que empresas com um perfil elementar não estabelecem vínculos de confiança com seus fornecedores e exercem poder limitado, via contrato, em apenas parte de seus fornecedores. A dependência de fornecedores não afeta de modo direto a adoção de questões sociais nesse perfil. Empresas com um perfil seletivo também não estabelecem vínculos de confiança, mas já exercem podem de modo estabelecido. Empresas com perfil extensivo estabelecem vínculos de confiança e exercem podem apenas eventualmente. Assim, vínculos de confiança superam o uso de poder em perfis sociais mais avançados.

Os casos são classificados em três perfis de gestão: elementar, seletivo e extensivo. Sugere-se que o estabelecimento de confiança com fornecedores, presente apenas no perfil extensivo, viabiliza endereçar mais tipos de questões sociais. Quanto a dependência, apenas no perfil elementar, encontrou-se que não há influência direta na adoção de questões sociais, em decorrência do desequilíbrio de poder. Em perfil extensivo, a dependência de fornecedores afeta diretamente a adoção de questões sociais, como no seletivo, porém, atuam por mecanismos diferentes.

FORMENTINI, M.; TATICCHI, P. Corporate sustainability approaches and governance mechanisms in sustainable supply chain management. Journal of Cleaner Production, v. 112, p. 1920–1933, 2016. MANI, V.; AGRAWAL, R.; SHARMA, V. Supply Chain Social Sustainability: A Comparative Case Analysis in Indian Manufacturing Industries. Procedia -Social and Behavioral Sciences, v. 189, p. 234–251, 2015. TACHIZAWA, E.; WONG, C. Towards a theory of multi-tier sustainable supply chains: A systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, v. 19, n. 5/6, p. 643-663, 2014.