Resumo

A exigência da sociedade por produtos sustentáveis está aumentando. Em relação ao vinho nota-se interesse dos consumidores por produtos que tenham esse diferencial. Contudo, muitas vezes eles não estão dispostos a pagar um preço superior para produtos sustentáveis, principalmente pelas dificuldades de identificar essas características, assimetria informacional e pela falta de credibilidade das vinícolas na divulgação das práticas de sustentabilidade (MERLI; PREZIOSI; ACAMPORA, 2016). Os estudos nacionais sobre a temática tem enfoque, sobretudo, na sustentabilidade ambiental.

O maior volume de fabricação de vinho encontra-se na região Sul do país. As vinícolas pertencentes aos Vales da Uva Goethe, no sul catarinense, apresentam algumas dificuldades e necessitam profissionalizar seu processo de gestão para permanecer atuando no mercado de maneira sustentável. Nesse contexto, surge a seguinte questão de pesquisa: Quais as práticas de sustentabilidade nas vitivinícolas dos Vales da Uva Goethe? O objetivo geral é investigar as práticas de sustentabilidade das vitivinícolas dos Vales da Uva Goethe.

No que se refere à sustentabilidade ambiental, geralmente a indústria do vinho é considerada ambientalmente correta, porém vinculadas a essa atividade há adversidades ambientais (CALLADO, 2010). A produção do vinho está associada a vários problemas ambientais no ciclo de vida do vinho, tais como: a rápida expansão do cultivo de matérias-primas e produção em muitas regiões destruindo os habitats, poluindo e contaminando o meio ambiente; uso excessivo de agrotóxicos; geração excessiva de resíduos e falta de reutilização destes; entre outros (CHOLETTE; VENKAT, 2009; CHRIST; BURRITT, 2013).

O estudo foi realizado mediante pesquisa descritiva e de levantamento, com análise qualitativa. Para coleta de dados utilizou-se entrevistas semiestruturadas aplicadas como um dos gestores em três vitivinícolas associadas à ProGoethe, que contemplou aspectos relacionados as características das vitivinícolas, do processo de gestão e das práticas de sustentabilidade nas dimensões ambiental, sociocultural e econômica. As entrevistas foram agendadas por e-mail e contato telefônico e realizadas in loco, no período de fevereiro e abril de 2018.

São poucas as ações de cunho ambiental desenvolvidas. Contudo, as vinícolas procuram seguir os protocolos recomendados em relação ao uso de agrotóxicos, limpeza e higiene dos vasilhames, entre outras exigências legais e normativas; os investimentos em tecnologias limpas ainda são incipientes. Não foram observados sistema de gestão ambiental e práticas de educação ambiental formalizados; as vitivinícolas não possuem certificações ambientais, porém não incorrem em multas ou passivos ambientais. O número de colaborados empregados por essas vitivinícolas é pequeno, contudo todos são da região.

Nos aspectos econômicos ainda é preciso que ocorra fortalecimento, principalmente, em relação à participação no mercado. Observou-se que as estratégias de atuação no mercado são diferenciadas, logo essas vinícolas poderiam se unir em forma de cooperativa para fortalecimento no que tange a ampliação do poder de negociação e compra e oferta de produtos diferenciados e com maior valor agregado. Conclui-se que para ser uma vitivinicultura sustentável de fato é preciso ir além dos cumprimentos dos requisitos legais e incorporar as práticas de sustentabilidade na estratégia organizacional.

CALLADO, A. L. C. Modelo de mensuração de sustentabilidade empresarial : uma aplicação em vinícolas localizadas na Serra Gaúcha. 2010. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Agronegócios. Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. MERLI, R.; PREZIOSI, M.; ACAMPORA, A. Sustainability experiences in the wine sector: toward the development of an international indicators system. Journal of Cleaner Production, v. 172, p. 3791-3805, 2018.