Resumo

O modelo econômico linear das indústrias está atingindo seus limites físicos. Em confronto com as questões de disponibilidade de recursos, a economia circular é uma alternativa atraente para redefinir o crescimento, com foco em benefícios para todos os stakeholders. O objetivo do estudo é analisar como uma indústria de baterias intervém para recuperar os componentes das baterias, reintroduzindo-os novamente no processo produtivo e fechar o ciclo sem gerar danos ao meio ambiente e sociedade, com agregação de valor em toda a sua cadeia produtiva.

O relato tem seu lócus voltado ao estudo de uma indústria de reciclagem de baterias automotivas de médio porte. Sua capacidade de produção é estimada em 4.000 toneladas de chumbo/mês. Adota a reciclagem de baterias inservíveis, sendo 40 ligas de chumbo com controle de 25 elementos químicos por liga. Esta indústria está localizada no meio oeste do estado de Santa Catarina. Encontra-se entre as 4 maiores fabricantes de baterias do país, com expectativa de ser referência mundial no processo de reciclagem de chumbo de maneira sustentável.

A primeira versão da resolução do CONAMA, sob nº 257/1999, estabelece a obrigatoriedade da adoção de mecanismos para a reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequada para pilhas e baterias (CONAMA, 1999). Este tema assumiu um papel preponderante no posicionamento estratégico da indústria de baterias. Sendo assim, após a introdução deste marco regulatório, a empresa teve de se reinventar (reposicionar) para manter a sua continuidade no mercado de baterias.

A estratégia de implementação de um novo modelo de negócio da indústria é voltada para o investimento em tecnologias limpas. Neste caso, com a reciclagem do chumbo e de outros componentes das baterias (ex.: plástico, ácido, etc.) fecha-se o ciclo produtivo, com consequentes ganhos ambientais, sociais e econômicos. Neste relato, a indústria matriz de baterias dissociou-se e criou uma nova empresa com processos inovadores e ciclos fechados voltados para a economia circular.

Apresenta como resultados um superávit anual estimado entre 10% e 15%, além de benefícios ambientais obtidos por meio do tratamento de efluentes e reuso da água e posição de relevância social para a região. A empresa buscou certificação para todos os seus processos via norma ISO 9001, com vistas a atender a demanda de reciclagem das baterias recebidas de todo o Brasil. Dispõe de um modelo de gestão ambiental certificado pela norma ISO 14001. Adota ainda o processo de pirólise dos pneus, subprodutos como carvão, óleo e limalha de ferro que utiliza como substituição para geração de energia.

Benefícios ambientais: redução do impacto ambiental, contaminação do solo, ar e lençóis freáticos, que são decorrentes do descarte inadequado das baterias. Benefícios econômicos: redução de gastos com aquisição da matéria-prima aliada a otimização dos custos em logística reversa, com garantia de melhoria do desempenho nos processos produtivos envolvidos. Benefícios sociais: a ampliação de negócios da fábrica gerou mais empregos para a região e a obrigatoriedade da devolução das baterias inservíveis para compra de novas baterias, educando o consumidor a se responsabilizar pela destinação final.