Resumo

O tema gerenciamento de resíduos vem ganhando progressiva atenção; a nível nacional, por exemplo, a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (MMA 2010) pode ser considerada como um avanço no enfrentamento de problemas socioambientais e econômicos. Porém, apesar do entusiasmo com ideias e esforços em diminuir ou resolver os impactos negativos originados pela má gestão de resíduos, o cenário industrial é, ainda, incerto e ambíguo: a indústria têxtil, por exemplo, é responsável por liberar mais de 500 mil toneladas de microfibras sintéticas por ano nos oceanos (Econômico 2019).

Entretanto, não obstante o problema, carece-se, na indústria têxtil, de estudos e iniciativas que auxiliem na identificação de alternativas e de modelos de negócios que incidam diretamente sobre cadeia de suprimentos. Por isso, neste artigo, objetiva-se identificar possíveis barreiras enfrentadas por modelos de negócios que atuam com com foco na gestão de cadeia de suprimentos reversa, partindo de um estudo de caso com a empresa Banco de Tecido, marca pioneira em apresentar uma solução para gerenciar tecidos que estavam sem uso ou iriam para o lixo.

O trabalho está fundamentado na literatura de modelo de negócio como um componente crítico para as organizações por descrever o "design ou arquitetura dos mecanismos de criação, captura e entrega de valor que são por ele empregados” (Teece 2010, 172). Ademais, utiliza-se a aplicação do conceito como estratégia para a implementação de uma cadeia de suprimento reversa que, por sua vez, enfatiza a gestão da reinserção de materiais, produtos ou componentes na cadeia de suprimentos após seu uso.

O método estudo de caso foi selecionado para elaborar potenciais hipóteses para as barreiras enfrentadas, quiçá, por um número considerável de empresas que buscam atuar com modelos de negócios com foco em cadeia reversa na indústria têxtil. A coleta de dados foi realizada por entrevista presencial na sede da empresa Banco de Tecidos, em São Paulo, com a fundadora e sua funcionária. As entrevistas tiveram uma duração total de duas horas e meia e foram transcritas para possibilitar a análise. Como dados secundários foram utilizados também 23 reportagens ou matérias disponíveis online.

O Banco de Tecido se define como um "sistema de circulação e reuso têxtil". Foram constatadas cinco principais barreiras enfrentadas para a implementação e manutenção do negócio, sendo elas: o pioneirismo que cria incertezas para a gestão do negócio; a identificação da composição de alguns tecidos recuperados; a dificuldade na gestão de espaço para o estoque; a escassez de fontes de financiamento ou suporte financeiro que auxiliem no desenvolvimento do negócio; e a visão do governo sobre o baixo impacto do resíduo têxtil que impede a priorização deste resíduo em políticas públicas.

A partir da compreensão de que o modelo de negócio estudado atua na cadeia de suprimentos reversa, reitera-se que a originalidade de sua proposta de valor, por si só, torna-se uma barreira, uma vez que não há outros modelos anteriores nos quais se basear. Portanto, mesmo havendo outras barreiras apresentadas, o pioneirismo - interpretada como inovação -, neste estudo, foi entendido como a maior uma vez que as outras de certa maneira derivam deste conceito. Entre os limitadoras da pesquisa está a restrição a um único caso, o que impede comparações e potenciais generalizações dos achados.

Draft. 2016. “Como O Banco de Tecido Ganha Dinheiro E Preserva O Meio Ambiente Eliminando O Desperdício Na Cadeia Têxtil.” Projeto Draft. December 13, 2016. Econômico, Valor. 2019. “Indústria Da Moda Polui Mais Que Navios E Aviões.” Valor Econômico. March 21, 2019. Eisenhardt, Kathleen M. 1989. “Building Theories from Case Study Research.” AMRO 14 (4): 532–50. MMA. 2010. “Política Nacional de Resíduos Sólidos.” 2010. Teece, David J. 2010. “Business Models, Business Strategy and Innovation.” Long Range Planning 43 (2): 172–94.