Resumo

Resolver problemas ambientais nunca é uma tarefa simples. Contudo, eventos como o derramamento de óleo na costa brasileira em 2019 trazem grau de complexidade ainda mais elevado. O desastre das manchas de óleo na costa brasileira pode ser classificado como aqui que Rittel e Webber chamaram de fenômenos perversos. Para estes autores, problemas sem precedentes e de grandes magnitudes fazem parte de uma categoria distinta de fenômenos, ensejando uma mobilização integrada de diversos atores.

Como as Organizações Não-Governamentais colaboraram com as dimensões sociais, ambientais e econômicas para a resolução do desastre ambiental das manchas de óleo no Brasil? Analisar a atuação das Organizações Não-Governamentais na colaboração com as dimensões sociais, ambientais e econômicas para a resolução do desastre ambiental das manchas de óleo no Brasil.

Cunhado por Rittel e Webber (1973), o conceito de fenômenos perversos (wicked problems) traz pelo menos dez características: difícil definição exata, são socialmente complexos, envolve mudança de comportamento, não tem solução comprovadamente eficaz, há muitos stakeholders, sem precedentes, sem resolução exata, tangencia várias esferas de atuação, decorre de causas múltiplas e podem levar a consequências inesperadas. O derramamento de óleo no Brasil se configura em tal categoria, já que é o maior desastre ambiental do Atlântico Sul. As ONGs, por sua vez, são atores importantes neste enredo.

Essa pesquisa se caracteriza como sendo descritiva e exploratória, com uso de entrevistas qualitativas em profundidade realizadas de forma remota virtualmente. Foram entrevistadas pessoas que trabalham em ONGs que atuaram diretamente na resolução do desastre ambiental. Foi utilizada a análise de conteúdo para buscar elemento que respondessem à questão norteadora.

Foram encontradas evidências de que a atuação das ONGs foi de fundamental importância para diminuir os impactos causados pelo óleo. Como era esperado em fenômenos perversos, a atuação das ONGs ocorreu apenas em uma fração do problema, porém teria sido mais expressiva se houvesse maior celeridade em questões burocráticas.

Considerado o maior desastre ambiental em termos de extensão já registrado do Atlântico Sul (SOARES et al., 2020), ainda hoje é possível perceber seu impacto na sociedade, ambiente e economia. De resolução complexa, diversos atores precisaram ser mobilizados para que os impactos não fossem maior ainda. Por serem mais orgânicas que as entidades governamentais, as ONGs exerceram papel crucial desde os primeiros registros de óleo, contribuindo para sua resolução.

RITTEL, H.W.J.; WEBBER, M.M. Dilemmas in a general theory of planning. Policy Sci-ences, v. 4, p. 155-169, 1973. https://doi.org/10.1007/BF01405730 SOARES, M.O. et al. Brazil oil spill response: Time for coordination. Science, v. 367, p. 155, 2020. https://doi.org/10.1126/science.aaz9993