Resumo

Com a elevada exploração dos recursos naturais, a busca por processos sustentáveis e boa gestão dos escassos recursos hídricos, é tema de discussões na sociedade. A produção de alimentos e bens duráveis demanda a utilização de uma porção hídrica, nas commodities definida como água virtual (AV). Esse conceito, associado ao conceito de Pegada Hídrica (PH), que é uma forma de mensurar e compreender os impactos ambientais causados desde a matéria-prima até os produtos finais de uma cadeia produtiva, são formas de avaliar a o volume de água necessário para a produção de bens e serviços.

Frente a problemática do Brasil ser um grande player na produção de soja, que é transportada predominantemente pelo modal rodoviário, o mais danoso ambientalmente, esse trabalho objetiva: (I) calcular o PH do transporte rodoviário da soja (em m³) para estados e municípios, detalhando os fluxos e as instalações logísticas associadas à movimentação; (II) discutir os resultados, destacando os efeitos que impactam a magnitude da PH e suas relações com as características da logística brasileira e (III) calcular a AV advinda da produção da soja no país, com base na umidade dos grãos da oleaginosa.

O Brasil produziu, em 2019/2020, 124,845 milhões de toneladas de soja, principal produtor da pauta de exportações, com 12% do total e tendo a China e a União Europeia como principais mercados consumidores (Secex, 2020). Logo, há relevante volume de água exportada pelo Brasil, associada à soja e ao seu transporte. A água é essencial para todas as atividades exercidas pelo homem, fisiológicas, sociais ou econômicas. Gerbens-Leenes e Hoekstra (2010) apontam que os fretes rodoviários, demandam elevada quantidade de energia para transportar insumos, gerando maior PH.

Para a mensuração da PH, portanto, foi necessária a utilização de dados referentes à produção, oriundos da Pesquisa Agrícola Municipal (IBGE, 2021), e fluxos de transporte da soja por unidade estadual e municipal do Brasil, para a análise considerando as origens dos fluxos para o ano de 2017. Os fluxos do transporte rodoviário de soja no Brasil foram obtidos a partir do trabalho de Rocha (2020), o qual fez o uso de um modelo matemático para a minimização dos custos de transporte (network equilibrium model) para obtenção dos fluxos ótimos do transporte dessa commodity no país.

Os principais resultados do trabalho, a partir dos resultados de fluxos de transporte oriundos de Rocha (2020), evidenciam que os principais estados produtores, destacadamente o Mato Grosso, são os que apresentam maiores PH no transporte. No entanto, a distância média das localidades é um relevante fator de potencializa a pegada hídrica, juntamente a produção. Esse cenário é decorrente das características da logística brasileira, dependente do modal rodoviário e com os principais portos de escoamento distante dos principais estados produtores.

Tendo em vista os resultados, urge a necessidade de alterações no campo de infraestrutura logística de transportes, principalmente nas regiões nas quais a PH do apresentou valores expressivos, como no Mato Grosso. Para além de questões de sustentabilidade, a necessidade de mudanças também é relevante pelo fato de que os custos do transporte estão diretamente associados com o lucro final dos produtores, que perdem competitividade com a ineficiência logística. O Brasil se tornou o maior produtor de soja do mundo e necessidade de preservação ambiental e melhor uso dos recursos se torna maior.

GERBENS-LEENES, P.W.; HOEKSTRA, A. Y. Burning water: The water footprint of biofuel-based transport, Value of Water Research Report Series n.44, UNESCO-IHE, 2010. ROCHA, F. V. Análise de eficiência dos projetos de investimento em infraestrutura multimodal para o transporte de soja no Brasil. 2020. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2020. Acesso em: 2021-01-20. SECEX – Secretaria de Comércio Exterior. Exportações. Disponível em < http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home > Acesso em : 26. abr. 2021.