Resumo

A Vale S/A está cada vez mais exposta as pressões dos stakeholders e da sociedade em detrimento as ações socioambientais da companhia pelos dois desastres ambientais graves com consequências negativas para sua reputação e ainda, com eventos financeiros subsequentes que afetam as suas demonstrações contábeis ao longo dos anos. Fabrício et al. (2021) salientam a necessidade de mais estudos que contribuam em relação a transparência das ações desenvolvidas pela Vale S/A, em detrimento as vítimas, a comunidade afetada e aos desdobramentos das ações de recuperação ambiental.

Quais os impactos dos desastres da Samarco e Brumadinho, bem como seus desdobramentos nas provisões, passivos contingentes e no valor de mercado da Vale S/A? Assim, o objetivo do presente estudo consiste em verificar os impactos dos desastres do rompimento da barragem da Samarco e de Brumadinho e seus desdobramentos na evidenciação e divulgação das provisões de passivos e contingência e no valor de mercado da Vale S/A.

A Fundamentação teórica é divida em dois tópicos: 2.1 Provisões e passivos socioambientais, que descreve a relevância do reconhecimento e evidenciação das provisões e passivos contingentes socioambientais para o mercado. O tópico 2.2 Descrição dos desastres, seus desdobramentos e a construção das hipóteses: contextualiza os desastres ambientais e seus desdobramento, que são os eventos analisados no estudo, juntamente com a construção das hipóteses para cada evento analisado na pesquisa.

A análise dos dados é realizada em duas fases: (i) análise documental dos relatórios contábeis para verificar a evolução do reconhecimento e evidenciação das provisões e passivos contingentes socioambientais; (ii) consiste na aplicação do método de estudo de eventos conforme estudo de MacKinlay (1997), que têm o intuito de verificar o comportamento dos preços das ações das companhias em detrimento a um evento especifico. Permite a comparação entre o retorno esperado e o retorno observado, para determinar o impacto do evento no valor de mercado das companhias.

Os resultados encontrados demonstram que houve aumento no reconhecimento e evidenciação das provisões e passivos contingentes socioambientais da Vale S/A, principalmente após o desastre de Brumadinho. O Acordo Geral de Brumadinho têm impacto nos caixas futuros da companhia por no mínimo 5 anos. Em relação aos teste do estudo de eventos, observa que o desastre de Mariana e a Criação da Fundação Renova, não têm impacto significativo no valor de mercado da Vale S/A, portanto rejeita-se a hipótese H1 e H2. E os eventos relacionados a Brumadinho, possuem impacto significativo, não rejeitam H3 e H4.

As demais provisões e passivos contingentes apresentaram aumento considerável e uma questão a ser observada neste aspecto é que o desastre de Brumadinho parece apontar mais transparência das informações sobre as obrigações da empresa. A análise do impacto desses eventos no valor de mercado da Vale S/A apontou que apenas os eventos relacionados a tragédia de Brumadinho apresentaram significância em pelos menos uma das datas que compõem a janela de eventos. Sendo que o maior impacto foi o desastre de Brumadinho que apresentou impacto negativo de 26,57% no valor de mercado da Vale S/A.

Fabrício, S. A., Ferreira, D. D. M., & Borba, J. A. (2021). A panorama of Mariana and Brumadinho disasters: What do we know so far? REAd. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre), 27(1), 128–152. https://doi.org/10.1590/1413-2311.310.102806 Lopes, A. I., & Reis, L. (2019). Are provisions and contingent liabilities priced by the market?: An exploratory study in Portugal and the UK. Meditari Accountancy Research, 27(2), 228–257. https://doi.org/10.1108/MEDAR-09-2017-0212 MacKinlay, A. C. (1997). Event Studies in Economics and Finance. Journal of Economic Literature, 35(1), 13–39.