Resumo

A incorporação da sustentabilidade na estratégia empresarial exige que as organizações mantenham sua competitividade e, ao mesmo tempo, assumam a responsabilidade sobre os seus impactos. O setor da moda, um dos maiores segmentos de negócios do mundo, vem há anos se alinhando a essa agenda a fim de buscar soluções que o torne mais sustentável. Dada a escassez de recursos naturais e as mudanças climáticas, ações voltadas à sustentabilidade, como o desenvolvimento de novos materiais e uso racional dos recursos naturais podem auxiliar o setor a criar oportunidades para se reinventar.

Dado este contexto, o setor da moda convive com um dilema marcado pelo pioneirismo do setor da moda em ações sustentáveis e, ao mesmo tempo, pelo desafio de implementar soluções sustentáveis com rapidez, pautadas pelo alinhamento estratégico entre discurso institucional e práticas divulgadas nos relatórios de sustentabilidade (Karell & Niinimäki, 2020). Diante disso, este trabalho busca verificar a aderência da sustentabilidade na estratégia das organizações analisadas, por meio das iniciativas reportadas por empresas do setor.

A dimensão estratégica da sustentabilidade na moda engloba aspectos gerais de uma organização que precisam ser respeitados a fim de obter sucesso financeiro, mantendo-se no mercado a longo prazo (Wilson, 2015). A sustentabilidade deve ser considerada na formulação estratégica das organizações (Epstein et al., 2015). Para isso, deve-se atentar para alguns parâmetros que refletem uma dimensão estratégica da sustentabilidade em empresas no setor da moda, como i) a definição da visão de sustentabilidade do negócio, ii) a prática do comércio justo e iii) a adoção de auditorias ambientais.

Para avaliar a dimensão estratégica da sustentabilidade no setor da moda (visão de sustentabilidade do negócio, comércio justo e auditorias ambientais), desenvolveu-se uma pesquisa documental. Os relatórios de sustentabilidade consultados foram publicados segundo a Global Reporting Initiative (GRI), por quatro empresas brasileiras (Cia. Hering, Dudalina, Grupo Malwee e Lojas Renner) e quatro empresas suecas (Ellos Group, Gina Tricot, Kappahl e Lindex), no período de 2015 a 2019. No total foram avaliados 37 relatórios e os dados foram analisados por meio de codificação (Miles & Huberman, 1994).

Constatou-se que na dimensão estratégica da sustentabilidade no setor da moda, no parâmetro visão de sustentabilidade do negócio, que a Suécia (1,72%) apresentou mais evidências do que as empresas do Brasil (1,41%). Com relação às ações voltadas para a prática de comércio justo, não houve evidências de ações em nenhuma empresa, seja no Brasil (0,00%) ou na Suécia (0,00%). Quanto às práticas voltadas para a realização de auditorias ambientais, o Brasil (1,09%) se destacou mais do que a Suécia (0,97%).

A partir dos dados recolhidos nos relatórios de sustentabilidade, percebe-se que na dimensão estratégica da sustentabilidade na moda se destacam a visão da sustentabilidade integrada ao negócio das empresas e as auditorias ambientais, mostrando que as empresas evidenciam suas ações alinhadas com os stakeholders, uma vez que a estratégia é importante para o direcionamento da empresa e as auditorias para atestar as boas práticas ambientais das empresas. Entretanto, as empresas perdem a oportunidade de contribuir com a sociedade ao não evidenciarem ações voltadas à prática do comércio justo.

Epstein, M. J., Buhovac, A. R., & Yuthas, K. (2015). Managing social, environmental and financial performance simultaneously. Long range planning, 48(1), 35-45. Karell, E., & Niinimäki, K. (2020). A mixed-method study of design practices and designers’ roles in sustainable-minded clothing companies. Sustainability, 12(11), 4680. Miles, M. B., & Huberman, A. M. (1994). Qualitative data analysis: An expanded sourcebook: Los Angeles, CA: Sage. Wilson, J. P. (2015). The triple bottom line. International Journal of Retail Distribution Management, 43(4/5),432-477.