Resumo

A agenda de pesquisas sobre mudanças climáticas ganhou visibilidade na academia e na sociedade nas últimas 3 décadas. Recentemente o ambiente político tem focado no papel das organizações frente aos riscos climáticos, no contexto da responsabilidade socioambiental corporativa. Medidas que visam reduzir os graves impactos que o aquecimento global exerce sobre diversos sistemas naturais que garantem a vida no planeta precisam ser implementadas. O Financial Stability Board (FSB), por meio de uma Força-Tarefa fez recomendações às empresas sobre divulgações financeiras relacionadas ao clima.

O objetivo desta pesquisa é aprofundar o conhecimento na área de responsabilidade socioambiental corporativa, explorando as ações de enfrentamento às mudanças climáticas no ambiente financeiro, respondendo a seguinte questão: o que é evidenciado pela literatura sobre a divulgação de informações financeiras relacionadas aos riscos climáticos? Tais informações podem contribuir para a compreensão, extensão e aprofundamento dos impactos gerados pelas atividades organizacionais sobre o meio ambiente, fortalecendo ou abalando sua reputação e imagem.

Um impacto da bolha de carbono pode ocorrer em uma transição repentina no valor dos mercados de capitais com impacto na estabilidade financeira (Carney, 2015). A implementação das recomendações da TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosure) tem se constituído uma preocupação da indústria e mobilizado os esforços políticos na área das finanças climáticas (Ameli et al., 2020). As recomendações são vinculadas às áreas de governança, estratégia, gestão de risco e métricas e metas (Demaria & Rigot, 2021).

Realizou-se uma revisão sistemática da literatura (Tranfield et al., 2003) apoiada na análise bibliométrica (Bartolacci et al., 2020). Foram analisados 55 artigos, coletados das bases de dados Web of Science e Scopus. Aplicou-se o acoplamento bibliográfico com base em referências compartilhadas, que considera quantas vezes dois artigos citaram as mesmas referências. Não foi considerado o acúmulo de citações, permitindo a inclusão de trabalhos mais novos. Emergiram do acoplamento cinco clusters, com no mínimo 5 artigos (Boyack & Klavans, 2010), que tendem a abordar o mesmo tema.

Avanços nas informações ambientais divulgadas pelas empresas ocorreram, mas mesmo na presença de informações mais sistemáticas, a falta de indicadores comparáveis para medir as principais variáveis econômicas exigidas pelos participantes do mercado para a tomada de decisões, constitui uma lacuna adicional que precisa ser corrigida (Monasterolo et al., 2017) . Apesar das conquistas relativas à transparência na divulgação dos dados das empresas possam ajudar, por si só, isso está muito longe de ser uma resposta adequada aos desafios de alinhamento das finanças climáticas (Ameli et al., 2020).

O estudo revelou que a disseminação do conhecimento sobre o tema é recente, mas evidencia importantes achados, como a falta de padronização dos indicadores e mecanismos robustos de acompanhamento de desempenho ambiental organizacional, destacando a importância de novos estudos. A transparência nas informações disponibilizadas também é um tema relevante no campo de discussão para o aperfeiçoamento dos métodos, assim como a falta de regulamentação para a obrigatoriedade de divulgações financeiras sobre os riscos climáticos.

Ameli, N., Drummond, P., Bisaro, A., Grubb, M., & Chenet, H. (2020). Climate finance and disclosure for institutional investors: why transparency is not enough. Climatic Change, 160(4), 565–589. https://doi.org/10.1007/s10584-019-02542-2 Carney, M. (2015). Breaking the tragedy of the horizon–climate change and financial stability: Speech by Mark Carney Monasterolo, I., Battiston, S., Janetos, A. C., & Zheng, Z. (2017). Vulnerable yet relevant: the two dimensions of climate-related financial disclosure. Climatic Change, 145(3–4), 495–507. https://doi.org/10.1007/s10584-017-2095-9