Resumo

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) representam nova meta global de sustentabilidade. A forma como as empresas contribuem para o alcance dessas metas é influenciada pela estrutura de governança e por características do alto escalão administrativo. O Conselho de Administração é um desses influenciadores e o reconhecimento da força do conselho nas decisões de gestão tem impulsionado pesquisas sobre Governança Corporativa, sendo que poucos estudos investigaram a relação entre a estrutura de governança e Agenda 2030.

Qual é o efeito da estrutura do Conselho de Administração sobre o engajamento das empresas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)? Espera-se que haja uma relação entre os atributos do conselho e o engajamento de empresas com alcance dos objetivos da Agenda 2030. Desta forma, o objetivo principal desta pesquisa é investigar o efeito da estrutura do conselho sobre o engajamento das empresas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Diversas teorias fundamentam a adoção de práticas de sustentabilidade, como a Teoria dos stakeholders, da Legitimidade e da Sinalização. Esta pesquisa utiliza a Teoria dos Altos Escalões, que explica o desempenho empresarial a partir das decisões estratégicas influenciadas por comportamentos que refletem as características dos tomadores de decisão, sendo que a premissa central se fundamenta no fato de as experiências, os valores e as personalidades dos executivos influenciam de forma significativa suas interpretações das situações enfrentadas e, por sua vez, suas escolhas.

Para alcançar este objetivo e responder à questão norteadora da pesquisa, analisou-se as características do conselho de administração relacionadas ao tamanho do conselho, independência e diversidade bem como a divulgação dos 17 ODS de 371 empresas sediadas na América Latina, a partir de dados constantes na base de dados Thomson Reuters Eikon, para o período de 2016 a 2020. Os dados foram analisados mediante I) regressão de dados em painel com efeitos fixos; II) regressão de dados em painel pelo método logit e III) análise de robustez, restringindo o ano de 2020 e o setor financeiro.

A pesquisa amplia a explicação da Teoria dos Altos Escalões, confirmando que a alta administração é determinante para o posicionamento estratégico em questões ambientais e sociais. Gestores e acionistas podem compreender características que podem contribuir para a Agenda 2030, como o comitê de responsabilidade social e a elaboração de relatório de sustentabilidade direcionado para os ODS. No nível governamental, os resultados são úteis para reguladores acerca da divulgação voluntária de informações ambientais e sociais e para normas que incentivem empresas a uma postura mais proativa aos ODS.

Os achados da pesquisa mostraram que o tamanho do conselho e a independência do conselho têm um efeito positivo sobre a divulgação dos ODS. Os resultados dialogam com a Teoria dos Altos Escalões, na medida em que ela preconiza que as escolhas e posicionamento estratégico da empresa é feito pela alta administração, ou seja, os membros do conselho de administração. Percebe-se que a estrutura do conselho funciona como um mecanismo importante para que as empresas possam atingir os objetivos da Agenda 2030.

Hussain, N., Rigoni, U., & Orij, R. P. (2018). Corporate Governance and Sustainability Performance: Analysis of Triple Bottom Line Performance. Journal of Business Ethics, 149(2), 411–432. https://doi.org/10.1007/s10551-016-3099-5; Rosati, F., & Faria, L. G. D. (2019). Business contribution to the Sustainable Development Agenda: Organizational factors related to early adoption of SDG reporting. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 26(3), 588–597. https://doi.org/10.1002/csr.1705