Resumo

Este estudo apresenta a relevância da criação do banco de sementes crioulas gerenciado por mulheres em comunidades tradicionais, sendo esta uma eficiente metodologia para resgaste e armazenamento de sementes repassadas de geração em geração na agricultura familiar. As sementes são recursos básicos para autonomia, segurança alimentar e nutricional necessárias para permanência das famílias no campo com diversidade produtiva. A criação de bancos de sementes visa a conservação da agrobiodiversidade por meio do resgate e multiplicação dessas sementes.

Desta forma, a questão problemática norteadora desta pesquisa examina: de que forma o cultivo e intercambio de sementes crioulas podem auxiliar na inclusão social feminina nas comunidades (quilombolas, indígenas), na regeneração ambiental, cultural e soberania alimentar? Portanto, o objetivo geral do estudo buscou compreender a formação de uma rede de participação de mulheres nas comunidades indígenas e quilombolas no município do Turvo, Paraná, por meio do cultivo e intercambio de sementes, dando visibilidade ao processo de inclusão social feminina nas comunidades.

O uso de variedades crioulas de sementes respeita o jeito tradicional de fazer agricultura, podem ser retransmitidas através de circuitos horizontais de informação, é compatível com as dimensões sociocultural e ambiental das comunidades, e preservam a cultura, o ser humano, a terra, a água, os animais e a vegetação natural (RESA, 2020). Ribeiro (2020) fala sobre a promoção da igualdade racial, a experiência grupal de valorização/desvalorização da história e culturas seja de qualquer etnia e impacta no âmbito individual e social da identidade dos povos tradicionais.

A metodologia proposta, com abordagem qualitativa, através de entrevistas em profundidade com análise de conteúdo, mediante roteiro previamente elaborado, centralizou-se em compreender a perspectiva dessas mulheres e seu conhecimento sobre o cultivo das sementes crioulas. Os resultados obtidos demonstraram o interesse em manter e cultivar as sementes crioulas seguindo as tradições de cada comunidade, tendo a rede de mulheres “Guardiãs da Vida” sua primeira formação com 7 integrantes no período de outubro a dezembro de 2021. Para tratamento dos dados, utilizou-se análise de conteúdo.

O trabalho em equipe para as mulheres nas comunidades funciona como um laboratório, fortalecendo-se, e no futuro as jovens pensarem em permanecer nas comunidades realizando a gestão para preservar os cultivares, repasse dos conhecimentos de geração em geração, benefícios que o trabalho em grupo e cultivo das sementes, assim como os alimentos por elas fornecidos podem trazer. A proposta para o grupo de mulheres de resgatar e valorizar a cultura local, realizar divisão das tarefas procurando atender as preferências individuais e comunitárias cultura e bem-estar da família.

As lideranças enfocadas neste estudo vem de diferentes origens, trajetórias, comprometidas com diferentes movimentos sociais e formas de organização, mas compartilham algumas preocupações, não pensando apenas em si mesmas mas na família, querem repassar para suas filhas os conhecimentos adquiridos, apesar dos precários acessos aos meios de produção e a desvalorização histórica das tarefa na agricultura voltada para alimentação familiar se comparada com as lavouras comerciais e com discursos e projetos de sustentabilidade e marketing verde para sociedades contemporâneas (MENDES, 2020).

BATISTA, J. F.; et al. Bancos de Sementes como Instrumento de conservação da socio biodiversidade. Tema gerador 7, Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF – Vol. 13, N° 1, Jul. 2018. MENDES, A. S. C.; et al. Trajetória da preservação ambiental em âmbito internacional: Breves reflexões. Educação Ambiental, Étnico-Racial e em Direitos Humanos políticas públicas e ações afirmativas. UNISAL, 1 ed. Americana: Adonins, 2020. RESA, Sementes da Agroecologia. Cartilha Sementes da Agroecologia. Sementes da Vida, 2020. Disponível em Cartilha Sementes da Agroecologia.