Resumo

Ao analisar o contexto das mudanças climáticas, percebe-se que elas podem refletir tanto riscos quanto oportunidades para as organizações. Gasbarro et al. (2017) destaca sete áreas em que as mudanças climáticas podem impactar as organizações e que conforme o direcionamento organizacional pode se tornar um risco ou uma oportunidade, são elas: mudanças regulatórias, mudanças físicas, introdução de novos produto e tecnologias, mudança na necessidade do cliente, reputação, impactos financeiros de mercado e eficiência operacional.

Apesar das amplas pesquisas internacionais alertando para o governo e empresas sobre os riscos das mudanças climáticas para os ecossistemas, ainda existem desafios para a implementação das estratégias globais de sustentabilidade, principalmente para as indústrias, que contribuem diretamente para as alterações climáticas, como por exemplo, a emissão dos gases com efeito de estufa (ZARTE; PECHMANN; NUNES, 2022). O presente estudo tem como intuito analisar a relação entre as variáveis relacionadas ao risco e as oportunidades das mudanças climáticas no âmbito da gestão industrial.

Embora a urgência imposta pelos constantes escândalos ambientais ligados às questões climáticas, o tema ainda é bastante negligenciado. Para além da responsabilidade social e governamental, a responsabilidade organizacional também entra em pauta, em um momento de eventos climáticos extremos, tais como incêndios, aumento do nível dos mares, dentre outros problemas. Neste cenário, as organizações passam a conceber os riscos inerentes e as adaptações necessárias, em razão das mudanças climáticas, como um fator de peso para a tomada de decisão frente aos stakeholders (BRITO, 2022).

A presente pesquisa se caracteriza como descritiva e de abordagem quantitativa, por meio de uma pesquisa survey. Os dados foram analisados a partir de técnicas estatísticas, com o intuito de encontrar números representativos e objetivos, dando ênfase para o interesse coletivo e assim, definir suas características (DE FREITAS MUSSI, 2019). A população da pesquisa é composta por empresas brasileiras do setor industrial participantes do Carbon Diclosure Project (CDP).

Para a análise estatística, foi utilizada a função corrcoef (dataset) do software MATLAB R2017a para medir a associação estatística entre as variáveis. Na Tabela 4, se um elemento fora da diagonal do valor-p for menor que o nível de significância (0,05), a correlação correspondente é considerada significativa. Nesse sentido, a V1 de risco que representa a possibilidade de ocorrência de eventos climáticos para uma empresa, como por exemplo, furacões, tempestades, secas, que impactam a demanda e a oferta de mercado, apresentou correlação com duas oportunidades, V4 e V8.

Os resultados apontaram relação entre a percepção de riscos físicos com as oportunidades de ganho em reputação e de incentivo financeiro. Ainda, foi constatada relação entre a percepção de riscos de reputação e imagem com oportunidades de ganho de reputação, de mudanças físicas e de melhoria da eficiência operacional. Findando as relações identificadas, foi verificada relação entre a percepção dos riscos de regulamentação com oportunidades de regulamentação, de mudanças físicas, de mudanças no comportamento do consumidor e de incentivo financeiro.

BRITO, R. P. The multilevel path to climate change adaptation. Journal of Business Management, v. 62, n. 6, p. 1-20, 2022. DE FREITAS MUSSI, R. F. et al. Pesquisa Quantitativa e/ou Qualitativa: distanciamentos, aproximações e possibilidades. Revista Sustinere, v. 7, n. 2, p. 414-430, 2019. GASBARRO, F.; IRALDO, F.; DADDI, T. The drivers of multinational enterprises' climate change strategies: A quantitative study on climate-related risks and opportunities. Journal of Cleaner Production, v.160, p.8-26, 2017.