A busca pelo desenvolvimento sustentável não é uma novidade. Questiona-se se o atual modelo de desenvolvimento é sustentável a longo prazo. O questionamento é relevante, uma vez que o capital natural consumido é fisicamente finito. As fronteiras planetárias fornecem um ponto de partida para a compreensão da relação entre o capital natural e os processos dos quais a humanidade depende para o desenvolvimento sustentável. Um fator crítico é o papel desempenhado pelas empresas, isso porque o aumento da pressão sobre o consumo de recursos naturais impacta diretamente a operação empresarial.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é demonstrar como as fronteiras planetárias podem servir como método de avaliação do desempenho ambiental das organizações. O estudo toma como base o setor de óleo e gás, particularmente as empresas de petróleo no segmento de upstream. Dessa forma, espera-se estabelecer uma contribuição de natureza metodológica e prática, que permita às empresas do setor avaliarem e serem avaliadas a partir da necessidade de se respeitar os limites biofísicos do sistema terrestre.
O conceito de fronteiras planetárias busca estimar um espaço operacional seguro para o desenvolvimento da humanidade em relação ao funcionamento do sistema terrestre. Foram identificadas nove fronteiras planetárias. Estima-se que a humanidade já tenha transgredido seis delas. Já o conceito de desempenho ambiental corporativo é definido como os resultados da gestão de uma organização relativa a seus aspectos ambientais. Esse conceito compreende duas dimensões: desempenho de gestão ambiental e desempenho operacional ambiental.
A proposta do estudo está baseada na análise do desempenho operacional ambiental a partir de sua proxy, as fronteiras planetárias. Isso, porque: (i) o desempenho operacional ambiental é o resultado das atividades de gestão de uma empresa em relação ao ambiente natural; (ii) o desempenho operacional ambiental não apresenta indicadores específicos; (iii) os indicadores de desempenho operacional ambiental devem ser definidos de acordo com o setor; e (iv) indicadores de desempenho operacional ambiental estão intimamente relacionados à ocorrência de impactos ambientais.
A fim de validar o modelo conceitual proposto por este estudo, foi necessário, inicialmente, que se validasse o downscaling das fronteiras planetárias. Em um segundo momento de análise, aplicou-se o modelo conceitual proposto para dois casos reais de empresas atuantes do setor de óleo e gás no segmento de upstream. O método de downscaling para o nível de análise empresarial proposto se mostrou adequado, eficaz e plausível para a mensuração de uma “parcela justa” para as empresas atuantes do setor em relação aos limites biofísicos propostos pelas fronteiras planetárias.
O uso das fronteiras planetárias como método de avaliação do desempenho ambiental das organizações se mostrou efetivo para os indicadores de total de emissões equivalentes de CO2 e total de retirada de água doce, que condizem com o contexto do setor de óleo e gás no segmento de upstream. No entanto, os resultados encontrados neste estudo não podem ser extrapolados para os demais setores econômicos. Contudo, os achados neste estudo possibilitam que análises mais completas do setor relacionadas com as fronteiras planetárias sejam realizados, visando uma abordagem macro.
Rockström, J., Steffen, W., ... & Foley, J. (2009a). Planetary boundaries: exploring the safe operating space for humanity. Ecology and Society. http://www.jstor.org/stable/26268316
Trumpp, C., Endrikat, J., … & Guenther, E. (2015). Definition, conceptualization, and measurement of corporate environmental performance: A critical examination of a multidimensional construct. Journal of Business Ethics, 126(2), 185-204. DOI: https://doi.org/10.1007/s10551-013-1931-8