Resumo

Os ecossistemas regionais de inovação consideram o território como elemento central em sua análise (SCARINGELLA; RADZIWON, 2018). Neste contexto, os atores da quádrupla hélice criam valor ao propor projetos de inovação para melhoria da qualidade de vida da população (projetos sociais, sustentáveis, mobilidade urbana, etc.). Estes atores, e o próprio ecossistema também visa capturar o valor criado no ecossistema de inovação. Portanto, um ecossistema regional de inovação objetiva a criação de inovações visando o desenvolvimento econômico, social, cultural de uma área geograficamente delimitada.

Todavia, cada ator da quádrupla hélice possui diferentes tipos de objetivos organizacionais que implicam em diferentes mecanismos e de criação e captura de valor e diferentes percepções de valor. Nesse sentido, existe pouca contribuição da abordagem territorial dos ecossistemas de inovação para identificar as estratégias e os mecanismos pelos quais o valor pode ser criado e capturado em contextos de economias emergentes. Assim, este artigo tem como objetivo compreender como ocorre a criação e a captura de valor em ecossistemas regional de inovação na região da Serra do Rio Grande do Sul.

Os ecossistemas regionais de inovação (RADZIWON; BOGERS; BILBERG, 2017) são contextos complexos e dinâmicos. Assim, é importante alinhar os objetivos privados e públicos dos atores para continuamente capturar e proteger valor (OOMENS; SADOWSKI, 2019). Portanto, os atores precisam de flexibilidade, acordos informais e ajuste de metas de valor ao longo do tempo (OSKAM; BOSSINK; DE MAN, 2021). Para criar e capturar valor, um ecossistema de inovação regional precisa combinar estratégia, recursos humanos, inovação, retornos crescentes de escala e infraestrutura (BAILEY; PITELIS; TOMLINSON, 2018).

O método utilizado foi o estudo de caso (YIN, 2017) no ecossistema regional de inovação Inova RS, localizado na região serra do Rio Grande do Sul. Foram realizadas 14 entrevistas semiestruturadas com diretores de empresas, universidades e gestores públicos. Também coletamos dados secundários relevantes e de artigos de jornais relacionadas ao ecossistema de inovação do Inova RS entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. Os dados foram analisados através do software Atlas.ti nas categorias percepções de valor, estratégias e mecanismos de criação e captura de valor.

Existe uma maior complexidade nos ecossistemas regionais para se estabelecer uma visão comum entre objetivos públicos e privados (HARMAAKORPI; RINKINEN, 2020; OOMENS; SADOWSKI, 2019). O estudo apresenta os mecanismos de criação e valor do ecossistema: ações de colaboração entre os atores, reuniões e eventos de inovação. As percepções de valor estiveram relacionadas com ganhos de imagem institucional, aprendizagem organizacional e ganhos relacionais. Todavia, a não captura de valor econômico gerou frustração na maioria dos atores, limitando o desenvolvimento do ecossistema de inovação.

Os atores do ecossistema possuem diferentes mecanismos de captura de valor, mas compartilham os mesmos mecanismos de criação de valor. A falta de captura de valor reduziu o nível de engajamento dos atores e limitou o desenvolvimento do ecossistema regional de inovação. Os resultados evidenciam que as dificuldades do ecossistema regional de inovação em criar e capturar valor limitaram o desenvolvimento e a implementação dos projetos de inovação para melhoria da qualidade de vida (como por exemplo os projetos sociais, sustentáveis e de mobilidade urbana) da população na região pesquisada.

RADZIWON, A. et al.. Creating and Capturing Value in a Regional Innovation Ecosystem: A Study of How Manufacturing SMEs Develop Collaborative Solutions. International Journal of Technology Management, v. 74, n. 1/2/3/4, p. 73–96, 2017. RITALA, P. et al. Value creation and capture mechanisms in innovation ecosystems: a comparative case study. Int. J. Technology Management, v. 63, p. 244–267, 2013. SCARINGELLA, L.; RADZIWON, A. Innovation, entrepreneurial, knowledge, and business ecosystems: Old wine in new bottles? Technological Forecasting and Social Change, v. 136, p. 59–87, 1 nov. 2018.