Resumo

A produção de alimentos compõe uma gama complexa de ações, envolvendo desde as escolhas econômicas às influências políticas, sociais e culturais. Quando se procura entender o papel desempenhado pela alimentação na vida das pessoas, percebe-se que ela expressa uma diversidade de saberes e conhecimentos engendrados socialmente. Assim, produzir e se alimentar é propiciar uma reflexão dos interesses, vontades e implicações que se reconstroem no processo histórico cultural da produção de alimentos, em compatibilidade a um sistema alimentar equitativo, ambientalmente sustentável e saudável.

No município de Santana do Livramento, inserido na região da Campanha do estado do Rio Grande do Sul, há o predomínio de grandes propriedades rurais e homogeneização dos sistemas de produção agrícolas, que são resultantes da desigualdade agrária, dos monocultivos, como hegemonia do agronegócio brasileiro. O estudo tem como objetivo analisar as razões e os fatores que influenciaram os agricultores familiares a produzir no sistema agroecológico no município, perante o cenário de predomínio da produção convencional, pautada em pacotes tecnológicos com elevado consumo de defensivos agrícolas.

A promoção de um sistema alimentar saudável se converteu em um dos objetivos a ser alcançado pela sociedade (SCHUBERT; TONIN; SCHNEIDER, 2023). A agricultura familiar alicerçada no sistema de produção agroecológico é protagonista para o fortalecimento da sustentabilidade, principalmente, pelo uso de técnicas de manejo e conservação que protegem a biodiversidade, através de uma nova relação com a natureza, com respeito à terra e aos recursos naturais, buscando a valorização e a qualidade de vida das famílias no campo (DIEDRICH; BIONDO; BULHÕES, 2021; MACIEL; TROIAN; BREITENBACH, 2023).

Metodologicamente, a pesquisa se classifica como qualitativa, de caráter exploratório e descritivo e método de estudo de caso. As técnicas de coleta de dados foram: revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e observação não participante. Foram realizadas nove entrevistas entre os meses de outubro de 2021 e janeiro de 2022. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo.

Os fatores não econômicos desempenham um papel determinante na tomada de decisão para a produção de alimentos pelos agricultores familiares agroecológicos. O processo decisório está aliado às questões como pressões sociais para redução do impacto ambiental, mediante a influência do acesso ao conhecimento, a realização de cursos formais e capacitações, a filosofia/estilo de vida, a influência dos movimentos sociais e o feito de, historicamente, as famílias produzirem de forma limpa, sem o uso de agrotóxicos, são pontos fundamentais nesse processo.

A agricultura familiar agroecológica, vem desenvolvendo atividades produtivas vinculadas às especificidades do local e suas potencialidades. A decisão de produção está na oportunidade observada e não na visão de uma produção alternativa e exótica. Caracterizando-se em uma estratégia de negócio viável para os agricultores, em respeito aos seres humanos, ao meio ambiente e à biodiversidade. Evidencia-se que essa é uma produção de valores intangíveis que se ajustam às novas preocupações e necessidades da sociedade contemporânea.

DIEDRICH, G. E.; BIONDO, E.; BULHÕES, F. M. Agroecologia e Bem Viver como modo de vida e como modelo sustentável de produção agrícola e de consumo de alimentos. Revista do Desenvolvimento Regional, Taquara, v. 18, n. 3, p. 230-255, 2021. MACIEL, M. D. A.; TROIAN, A.; BREITENBACH, R. Inovação e sustentabilidade: As práticas da agricultura familiar agroecológica em Santana do Livramento/RS. Grifos, Chapecó, v. 32, n. 60, 2023. SCHUBERT, M. N; TONIN, J.; SCHNEIDER, S. Desafios e tendências da alimentação contemporânea: consumo, mercados e ação pública. (Orgs.). Porto Alegre: UFRGS, 2023.