Resumo

Título do Artigo

FATORES PARA EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR DE BOLÍVIA E RONDÔNIA
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Tema

Estudos da Amazônia

Autores

Nome
1 - Fernando Rejani Miyazaki
- Universidade Federal de Rondônia (UNIR) Responsável pela submissão
2 - Kamila Diniz Correia de Araujo
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3 - Maurício Silva de Souza
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Reumo

A busca pela educação superior, mais especificamente no nível de graduação, é uma jornada de aprendizados e descobertas, mas também é um caminho longo, possivelmente com incertezas e obstáculos que podem dificultar, atrasar ou até mesmo impedir um estudante de concluir sua jornada acadêmica com sucesso. O acesso ao ensino superior pode trazer benefícios significativos àqueles que concluem um curso de graduação. No caso do Brasil, mais de 70% das pessoas classificadas como ocupadas pelo IBGE possuem ensino médio ou superior, indicando uma vantagem competitiva para estes estratos da população. Além do diferencial competitivo para obter uma vaga de trabalho, possuir nível superior de educação também ajuda a obter maiores remunerações, muitas dessas restritas a profissionais com qualificações específicas: Na PNAD 2019, a diferença entre o salário médio de pessoas com ensino superior completo e aquelas sem instrução formal era superior a cinco vezes, ainda que tenha sido possível identificar outras fontes de desigualdade. Talvez por conta da alta no número de concluintes, atualmente possuir uma alta escolaridade pode não significar a certeza de obter um trabalho à altura de suas qualificações, e mais de 20% dos profissionais de nível superior acabam ocupando vagas destinadas a profissionais de ensino médio. Não basta que um estudante ingresse no ensino superior, é necessário oferecer condições mínimas para que este se mantenha nos estudos e não venha a evadir. Com base nisso, este estudo busca responder a seguinte questão de pergunta: “Quais fatores socioeconômicos e profissionais são percebidos como potenciais incentivadores da intenção de evasão no ensino superior?”. Para buscar respostas para esta pergunta, este estudo, organizado como um ensaio teórico, optou por analisar percepções e indicadores de duas regiões vizinhas, mas ao mesmo tempo complexas e distintas: a Bolívia e o estado brasileiro de Rondônia, que compartilham fronteiras e parte da Amazônia. O desenvolvimento regional envolve a participação da sociedade local em todas as suas etapas, desde o planejamento da ocupação do espaço à distribuição dos resultados do crescimento, e para isso deve mobilizar a sociedade e ser capaz de criar um conjunto de elementos políticos, institucionais e sociais, que direcionem o crescimento. Seguindo essa linha de pensamento, o desenvolvimento territorial está relacionado com o desenvolvimento das atividades econômicas humanas e deixa em evidência o protagonismo local, tendo como visão necessária a sustentabilidade. Os esforços para desenvolvimento econômico da província do Madeira, subdivisão da Amazônia que contempla as áreas dos rios Beni (na Bolívia) e Madeira (em Rondônia) como limite ocidental, nem sempre são acompanhados de igual desenvolvimento social para as pessoas da região, como no exemplo de Guajará-Mirim (RO), que faz fronteira com sua cidade-irmã boliviana Guayaramerín (Beni). Segundo o Índice de Vulnerabilidade Socioespacial (IVSE), 67% da população de Guajará-Mirim possui alto risco socioeconômico (31%) ou já está em vulnerabilidade social (36%) (SILVA; SOUZA, 2023). O processo de globalização estimulou o interesse pelos estudos comparativos, pois desafios e oportunidades emergem na seara de demandas globais, priorizando um aspecto metodológico universalista que considera as especificidades locais na sua composição analítica e facilite o método comparativo de análise. A intenção de usar essa concepção universalista está em congruência com Mackie e Marsh (1995), que apontam dois pontos cruciais dos estudos comparativos: evitar o etnocentrismo, testar e reformular teorias, seus conceitos e hipóteses da relação entre fenômenos políticos. O fenômeno da evasão no ensino superior apresenta um potencial de prejuízo a todos os envolvidos, a começar pelo gasto de tempo e recursos com uma formação que não será concluída, mas sem deixar de mencionar eventuais abalos psicológicos deixados pelo abandono do ensino, e a oportunidade perdida tanto de ter iniciado outro curso mais apropriado quanto de outra pessoa ter preenchido aquela vaga no sistema educacional. A evasão é relevante para as instituições de ensino a ponto de estas implementarem sistemas preditivos que disparam alertas após indícios de intenção de evasão, para uma intervenção inicial que busque mitigar as causas de intenção e incentivar razões para a persistência de um estudante no meio universitário a partir de um entendimento mais aprofundado de suas experiências e percepções na vida acadêmica (TINTO, 2017). Um ponto preocupante é a elevada taxa de desistência acumulada para estudantes de ensino superior no estado de Rondônia: No ciclo de 2018 a 2022 houve uma desistência acumulada de 55,2%, sendo que a taxa de evasão nacional para o mesmo período foi de 27,7% para o ensino presencial (21,92% das matrículas em 2022) e 40% para o ensino à distância (78,07% das matrículas) (INSTITUTO SEMESP, 2024a, 2024b), podendo indicar algum fator específico regional que dificulte a permanência e conclusão dos alunos de graduação. No ambiente universitário boliviano foi possível encontrar alguns estudos sobre evasão no ensino superior. Fatores econômicos, familiares e até mesmo a falta de uma perspectiva profissional clara após o término da graduação podem ser incentivadores da evasão entre estes estudantes, sendo que o familiar aparenta ter maior peso para os estudantes bolivianos, podendo ocorrer por meio de pressões familiares para abandonar os estudos e ajudar nos negócios de suas famílias, em um ambiente onde se percebe a universidade como lenta e incapaz de preparar para o mercado de trabalho. Em Rondônia as dificuldades financeiras aparentam ser o principal problema identificado pelos estudantes que acabaram evadindo de seus cursos de graduação, seguido pela dificuldade de conciliar trabalho e estudos, e por questões ligadas ao relacionamento e metodologia de ensino dos docentes. Um ponto comum a estudantes de ambas as regiões é o perfil etário do estudante evadido, majoritariamente jovem (menos de 20 anos) e nos primeiros dois anos de sua graduação, um fator que pode estar ligado à falta de alinhamento com o curso ou mesmo a uma falta de senso de propósito ou vocação, que podem levar um estudante a trocar de curso ou mesmo abandonar os estudos de nível superior. Fatores econômicos, profissionais e familiares também constam como alguns dos principais fatores para a intenção de evasão, embora no caso boliviano o elemento familiar tenha registrado uma prevalência surpreendentemente alta.