Reumo
INTRODUÇÃO - A partir de fins do século passado os movimentos de defesa do meio ambiente têm crescido no mundo e pressionado governos, empresas e a sociedade em geral. Em 1994, o conceito Tripple Bottom Line buscou convergir os movimentos ambientais e sociais, unindo-os à questão econômica das empresas, pois as empresas devem focar no lucro, mas também ter preocupação com os processos que afetam o meio ambiente e sociedade. Neste milênio, o conceito de Gestão ESG [Environmental, Social and Governance] tem desafiado as empresas a incorporarem a sustentabilidade nas suas decisões. O objetivo geral deste estudo foi demonstrar as vantagens das práticas da EC e do CVC para a implantação da Gestão ESG em uma organização, e constatar como esses conceitos se correlacionam, a partir da seguinte pergunta: A Economia Circular e o Valor Compartilhado são conceitos importantes para a implantação exitosa da Gestão ESG nas organizações?
QUADRO TEÓRICO
A Economia Circular [EC] é um novo paradigma para as bases de produção da Economia Mundial, consistindo em um sistema restaurativo e regenerativo, que atinge todas as atividades produtivas, processos, produtos e serviços tendo por consequência a criação de novos modelos de negócios, em substituição a crescente inviabilidade do conceito de Economia Linear - os recursos naturais são finitos. Contudo, a Economia Linear ainda é o sistema de relações socioeconômicas vigente, mas com as informações que os avanços tecnológicos trouxeram, é nítido que esse sistema precisa ser mudado (CAMPI; SOUSA, 2023; LEITÃO, 2015; FONTGALLAND, 2022).
A tese da Criação de Valor Compartilhado [CVC] originou-se de Porter e Kramer (2011), a partir da crise sobre o papel que as empresas desempenham na Sociedade, uma vez que as questões relacionadas a sustentabilidade colocaram em evidência práticas de busca de rentabilidade sem a preocupação com as externalidades negativas geradas. O Valor Compartilhado é a proposta estratégica da empresa para gerar valor social e, também, alcançar valor econômico (PORTER; KRAMER, 2011).
A CVC propõe uma estratégia empresarial, a partir de problemas sociais, ligadas ao core business da empresa, que busca a lucratividade e a vantagem competitiva a partir da solução de problemas sociais, faz uso do know-how da empresa, da inovação para criar valor econômico e social (PORTER; KRAMER, 2011).
Gestão ESG consiste em práticas administrativas que consideram os aspectos ambientais, sociais e de governança para tomada de decisão nas empresas, transmitindo preocupação com o desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e boas práticas de governança, com efeito mitigam os riscos e suscitam valor de longo prazo aos stakeholders (BHATTACHARYA; ZAMAN, 2023; SECINARO et al., 2023; TOLEDO et al., 2023).
Além dos benefícios para o planeta e para a Sociedade, as empresas começam a perceber as vantagens que a Gestão ESG proporciona, como: redução de custos; imagem da marca, atração e fidelização de clientes; relação com colaboradores; aumento da eficiência operacional e retenção de talentos; gestão de risco; relacionamento com os fornecedores, o que proporciona cadeias de abastecimento mais sustentáveis, além de oportunidades de novos negócios (STAN et al., 2023; TOLEDO et al., 2023).
METODOLOGIA - Pesquisa exploratória com abordagem qualitativa e emprego do método indutivo, mediante técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e estudo de caso, com envio de questionários à gestores das empresas de estudo.
RESULTADOS - As empresas foram escolhidas pela parceria no desenvolvimento compartilhado de uma embalagem de fertilizantes que atendesse aos requisitos de circularidade (100% reciclável). A parceria iniciou quando a Solví decidiu levar o fertilizante para o consumidor final, cujo desafio era ter uma embalagem que harmonizasse com o conceito do produto e os valores do grupo. Buscou parceiros (Braskem e Antilhas) que compartilhassem dos mesmos valores, para através da inovação aberta, co-construirem uma embalagem que atendesse aos requisitos de circularidade (circular por design).
Foram recebidos 3 questionários: A1 (Solví); A2-A3 (Antilhas). A Braskem S/A não retornou. Os respondentes apontam que as empresas Solvi e Antilhas adotam EC em seus negócios e buscam implantar a Gestão ESG, entendida como de alta importância. Os objetivos para implantação apresentados pelas empresas estão alinhados com os conceitos da Gestão ESG. Com relação aos aspectos negativos da Gestão ESG, A3 colocou a necessidade de investimento para a implantação, que gera custos e reduz vantagem competitiva.
Na Antilhas, A2 disse adotar parcerias, enquanto A3 não vê o Valor Compartilhado formatado na empresa. Entretanto, A3 descreveu o conceito e as práticas da CVC e declarou acreditar que o Valor Compartilhado contribui para a implantação da Gestão ESG.
CONCLUSÃO - Este trabalho expôs as características da EC e CVC, como fatores importantes para a Gestão ESG, além de apresentar exemplos para conhecimento de soluções para o sucesso da sua implantação. As corporações precisam perceber a importância dos temas ambiental, social e governança, e do seu papel transformador, na Sociedade. A Gestão ESG é o caminho para o desenvolvimento sustentável e os conceitos de EC e CVC são estratégias para que as instituições transformem essas mudanças na gestão com práticas sustentáveis, sem abdicar da lucratividade e da criação de novas oportunidades.
O estudo não obteve resposta da Braskem, mas verificou-se a adoção de CVC a partir de Silva e Rezende (2018) - enquadraram a empresa no nível 3 de maturidade de Valor Compartilhado, e Tomasso (2020) - identificou a atuação da empresa nos 3 níveis da CVC.
REFERÊNCIAS
CAMPI, I. G.; SOUSA, E. J. S. A implementação da economia circular nas empresas. Revista Estudos e Negócios Acadêmicos, v. 4, n. 6, p. 66-72, 2023.
PORTER, M. E.; KRAMER M. The Big Idea: Creating Shared Value. Harvard Business Review, Boston, v. 89, n. 1-2, 2011.
STAN, S. E. et al. Measuring Supply Chain Performance from ESG Perspective. International Conference Knowledge-Based Organization, v. 29, n. 1, 180-189, 2023.
SILVA, M. P.; REZENDE, J. F. C. Evidenciação de níveis de maturidade na criação de valor compartilhado em empresas brasileiras a partir da abordagem de Porter e Kramer. Base de Administração e Contabilidade UNISINOS, v. 15, n.4, 2018.
TOMMASO, S. F. N.; PINSKY, V. Creating shared value: the case of innovability at Suzano in Brazil. Innovation & Management Review, v.3, p. 208-221, 2022.