Resumo

Título do Artigo

Etnografia De Pequenas Áreas Verdes Urbanas Como Metodologia De Ensino Ativa Na Educação Profissional E Tecnológica
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Tema

Educação e Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Liana Fabris
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - Engenharia Ambiental e Sanitária Responsável pela submissão
2 - Máriam Trierveiler Pereira
-
3 - Simone Crocetti
- Eletrônica

Reumo

Este artigo tem como objetivo analisar tanto o uso da etnografia como metodologia ativa de ensino quanto os dados obtidos ao ser aplicada às pequenas áreas verdes (PAVs). As metodologias ativas têm se destacado como abordagens inovadoras, pois permitem uma imersão profunda em contextos reais e favorecem a aplicação prática dos conceitos teóricos. A etnografia, quando aplicada ao estudo dos espaços públicos urbanos, representa uma dessas metodologias ativas que oferecem uma análise detalhada dos ambientes e suas dinâmicas sociais. Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o curso de Sistemas de Telecomunicações possui a disciplina extensionista Introdução à Sustentabilidade. A disciplina também está relacionada ao projeto de extensão Amigos dos Jardinetes, que tem como objetivo reconectar a comunidade com os espaços urbanos por meio da educação ambiental e do cuidado com as pequenas áreas verdes. O projeto visa aumentar a conscientização ambiental e engajar os alunos na prática do cuidado com esses espaços. A metodologia ativa utilizada foi o TESS (Toolkit for the Ethnographic Study of Space), que examina a dinâmica social dos espaços públicos por meio de um processo estruturado em sete etapas: (1) realização de anotações detalhadas sobre o espaço, (2) mapeamento da área, (3) participação em atividades locais, (4) realização de entrevistas no local, (5) pesquisa e coleta de documentação histórica da área, (6) análise dos dados e (7) elaboração de um relatório final. A fim de interligar a etnografia com os demais conteúdos abordados na disciplina, foram atribuídas seis etapas adicionais referentes ao (1) mapeamento da fauna e flora, (2) serviços ecossistêmicos, (3) ação como Amigos dos Jardinetes, (4) mapeamento de árvores e (5) corpos hídricos e (6) contato com vereadores, como representantes do poder público. Cada um dos 28 estudantes, matriculados na disciplina no 1o semestre de 2024, escolheu uma pequena área verde próxima à sua residência em Curitiba ou região metropolitana e um cronograma de entregas foi estabelecido para cada etapa do estudo. As respostas recebidas na primeira etapa (notas de rascunho) destacam o quanto as pequenas áreas verdes possuem utilidades diversas, sendo frequentadas por pessoas praticando atividades físicas, crianças brincando e tutores de animais de estimação passeando. Contudo, muitos participantes apontaram preocupações devido à falta de cuidado com o local, evidenciado pela quantidade de resíduos no chão e pela falta de manutenção dos equipamentos, o que afeta diretamente a segurança percebida pelos frequentadores. Na segunda etapa (mapeamento), os estudantes elaboraram esboços manuais, nos quais identificaram os elementos presentes nas áreas verdes e proporcionaram uma visão mais abrangente da disposição dos componentes no local. Na terceira etapa (observação participante), 38% dos estudantes mencionaram a atividade de recolher o lixo local, enfatizando a preocupação com a limpeza e manutenção do espaço. Outros 38% optaram por estar presentes no ambiente e refletir sobre a importância da preservação ambiental. Além disso, 14% praticaram atividades físicas e 10% passearam com os animais de estimação. Na quarta etapa (entrevistas), os entrevistados mencionaram o uso desses espaços para a prática de atividades físicas, que ajudam a aliviar o estresse e a melhorar a saúde física e mental. Paralelamente, as respostas destacaram que o sentimento de segurança está diretamente relacionado ao estado de conservação e manutenção dos espaços. Na quinta etapa (história local), as respostas indicaram que a maioria dos projetos foram realizados entre as décadas de 1970 e 1990 e a escolha dos nomes, frequentemente, homenageia pessoas que tiveram uma conexão direta com a área. Na primeira etapa adicional (mapeamento de fauna e flora), foram registradas, no aplicativo iNaturalist, 405 observações, totalizando 163 espécies catalogadas. Na segunda etapa adicional (serviços ecossistêmicos), 42% dos estudantes destacaram a melhora da qualidade do ar na região como o serviço mais importante oferecido pela área verde. A regulação do clima local foi apontada por 33% dos estudantes, evidenciando a percepção da importância das áreas verdes para o controle microclimático. Os demais 25% dos estudantes mencionaram a conservação da biodiversidade e a melhora do bem-estar. Na terceira etapa adicional (Ser Amigo dos Jardinetes), foram realizadas ao todo 28 solicitações de melhorias na central 156, da Prefeitura de Curitiba, sendo 14 solicitações referente a manutenção, 9 sobre limpeza, 4 sobre poda de árvores e 1 sobre foco de dengue. Na quarta etapa adicional (contactar vereador), cada estudante entrou em contato com o vereador do seu bairro, exercendo seu papel de cidadão e demonstrando seu compromisso nos avanços para a comunidade. Na quinta etapa adicional (árvores), foram registradas 178 plantas, sendo 73 espécies diferentes e 16 exóticas, que exigem atenção devido ao potencial invasivo. Na sexta etapa adicional (corpo hídrico), os estudantes mapearam o córrego ou rio mais próximo da PAV com o objetivo de rastrear o destino dos resíduos sólidos descartados de maneira irregular. Assim, os estudantes passaram a notar o corpo hídrico que antes passava despercebido e reconheceram sua importância para o ecossistema local. Na sexta etapa (organizar dados), os dados foram organizados e analisados, levando em consideração os aprendizados adquiridos no decorrer da disciplina. Por fim, na última etapa (relatórios), os estudantes concluíram que a experiência de cuidar da PAV foi enriquecedora, permitindo a aplicação de conceitos teóricos em práticas reais. Além disso, os estudantes enfatizaram que o projeto incentivou o cuidado com a natureza, destacando a importância da contribuição individual na preservação do meio ambiente. Pode-se concluir que as análises das pequenas áreas verdes evidenciam não apenas a falta de manutenção e segurança, mas também ressaltam a importância desses espaços para o lazer e a conexão emocional da comunidade. A aplicação da metodologia ativa permitiu que os alunos consolidassem conceitos de sustentabilidade e cidadania por meio do envolvimento direto com a gestão e preservação dessas áreas. A interação com o poder público proporcionou aos alunos uma experiência prática de participação cidadã, demonstrando a relevância do engajamento público na construção de um ambiente urbano mais seguro e sustentável. Assim conclui-se que a metodologia ativa (etnografia) e o objeto de aplicação (as PAVs) permitiram que os estudantes consolidassem conceitos de sustentabilidade e cidadania e se tornassem parceiros do poder público no cuidado com a cidade.