Reumo
Alguns entornos laborais, como os das organizações de saúde, podem ser mais propensos a gerar fatores estressores causadores de doenças ocupacionais, como a síndrome de burnout - SB (CARDOSO et al., 2017), pois sua gestão é caracterizada pela complexidade de processos operacionais, realizados por profissionais especializados, que combinam o desempenho de atividades técnicas e a relação com os pacientes (LYNDON, 2016; WOLF & ROSENSTOK, 2016). Além disso, a inadmissibilidade do erro imputada aos profissionais de saúde os torna mais vulneráveis (REASON, 2000) e suceptíveis a esse tipo de doenças ocupacionais.
Diante dessa perspectiva, este estudo foi desenvolvido por uma pesquisa que possuiu um caráter exploratório e uma natureza qualitativa, a profissionais da área de saúde que ocupam distintas ocupações, visando responder às seguintes perguntas de investigação: Como os gestores das organizações do setor de saúde vivenciam a experiência de ter profissionais com SB nas suas equipes de trabalho? Quais ações gerenciais colocam em prática face a estas experiências? Para responder a essas perguntas recorreu-se a três fontes de dados distintas: a visão dos órgãos de classe, através de entrevistas com seus representantes; entrevistas com gestores de serviços hospitalares e entrevistas a profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) que trabalharam nas equipes desses gestores.
O trabalho empírico foi desenvolvido nas dependências do HSPE – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, devido à facilidade de acesso a esta instituição de grande porte na qual um dos autores desse trabalho atuou durante três anos. Também participaram membros do COREN-SP – Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo e do CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. As entrevistas foram conduzidas sob uma perspectiva compreensiva, em que o pesquisador deve buscar uma postura empática e ir tateando até encontrar as melhores perguntas, descobertas em razão do fluxo da conversa (KAUFMAN, 2013).
A estruturação do roteiro de entrevistas foi embasada nas dimensões da SB, cujo embasamento teórico está em autores como Freudenberger, Dejours, Maslach, Schaufeli, Leiter.
Como principais achados, no caso dos profissionais de saúde, foi possível compreender como eles lidaram com a SB, como experenciaram essa situação e que ações colocaram em prática para enfrentá-la. No caso dos gestores de saúde, foi possível mapear como eles lidaram com o fato de terem profissionais com SB em suas equipes. No caso dos profissionais dos órgãos de classe, as entrevistas tiveram o papel de contribuir para a coleta de dados secundários sobre problemas de saúde mental entre profissionais de saúde e avaliar o que os Conselhos têm feito diante desse problema.
Conclui-se que o comportamento pessoal de cada gestor contribui diretamente para amenizar ou agravar o quadro uma vez apontado o diagnóstico de SB em algum membro da equipe. Cabe destacar que, em grande parte, as ações praticadas pelo gestor estão diretamente relacionadas com os recursos que a organização disponibiliza.
Embora o estudo tenha cumprido seus objetivos iniciais, outros achados foram considerados relevantes para a pesquisa acadêmica e podem ser aprofundados. De fato, os conflitos existentes na deterioração da relação médico-paciente foi um dos aspectos que surgiu como ponto importante. Além disso, uma revisão no modelo da formação do médico é outro tema que pode ser aprofundado.
Referencias bibliográficas
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