Reumo
As práticas agrícolas convencionais frequentemente resultam em degradação do solo e declínio da produtividade, aumentando a urgência de encontrar métodos sustentáveis para garantir a produção de alimentos. A agricultura regenerativa (AR) surge como uma solução potencial para melhorar a saúde do solo e enfrentar desafios climáticos, embora ainda não possua uma definição consolidada. Este estudo visa propor um modelo de práticas agrícolas baseadas em AR, analisando a literatura existente e dados de agências agrícolas.
Em 2020, o setor agrícola foi responsável por 12,78% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), e as emissões podem aumentar significativamente até 2050 sem ações climáticas adequadas (Climate Watch, 2020; Arcipowska et al., 2019). A Revolução Verde, iniciada na década de 1960, trouxe avanços na produtividade agrícola, mas também gerou impactos ambientais negativos (Hazell, 2009; Serra et al., 2016). A ONU declarou a década de 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, visando mitigar a crise climática e a perda de biodiversidade (ONU, 2022).
A AR, introduzida na década de 1980 por Robert Rodale, busca restaurar a qualidade do solo e aumentar a produtividade sem expandir áreas cultivadas, contribuindo para a redução do desmatamento (Rhodes, 2017). No entanto, a AR enfrenta desafios relacionados à adoção por produtores, escalabilidade e a necessidade de métricas para avaliar seus impactos reais (CEDBS, 2023). A Teoria da Mudança é sugerida como um método para desenvolver métricas que comprovem os benefícios da AR (Rattis & Garcia, 2023).
Este trabalho propõe um modelo para qualificar práticas agrícolas como AR com base em seis pilares: solo, água, biodiversidade, energia, carbono e aspectos socioeconômicos. O objetivo é criar um referencial que ajude na implementação e avaliação das práticas de AR, promovendo um avanço na compreensão e discussão futura sobre o tema.
O modelo proposto para qualificar práticas agrícolas como AR é baseado em seis pilares, cada um com práticas específicas, objetivos e indicadores:
1. Solo: Inclui práticas como o Zoneamento de Risco Climático e o uso de bioinsumos. Objetivos incluem minimizar o revolvimento do solo e melhorar a saúde geral do solo. Indicadores incluem porosidade, taxa de infiltração e balanço de carbono.
2. Água: Envolve a construção de reservatórios e manutenção de matas ciliares. Objetivos são minimizar o uso de água das bacias e melhorar a retenção e qualidade da água. Indicadores incluem a produtividade da água e o uso eficiente da água.
3. Energia: Propõe o uso de energia renovável, como placas solares, e eficiência energética. Objetivos são minimizar a energia não renovável e reduzir resíduos e emissões de GEE. Indicadores incluem o consumo de energia elétrica proveniente de fontes renováveis e a eficiência energética.
4. Biodiversidade: Práticas como a manutenção de áreas de preservação e uso de insumos biológicos. Objetivos incluem aumentar a macro e microfauna do solo e preservar polinizadores. Indicadores incluem a quantidade de áreas de preservação e eficiência do manejo integrado de pragas (MIP).
5. Carbono: Foca na recuperação de áreas degradadas e reflorestamento. Objetivos são aumentar o sequestro de carbono e reduzir emissões de GEE. Indicadores incluem análise de solo e inventário de carbono.
6. Socioeconômico: Envolve melhorar as condições de trabalho e promover igualdade de gênero. Objetivos incluem aumentar a educação dos trabalhadores e minimizar o êxodo rural. Indicadores incluem a quantidade de funcionários por gênero e grau escolar, além de índices de turnover e segurança alimentar.
O modelo proposto, baseado em seis pilares fundamentais—solo, água, energia, biodiversidade, carbono e aspectos socioeconômicos—oferece uma estrutura prática e mensurável para a implementação da AR. Ao adotar práticas específicas e medir indicadores relevantes, é possível não apenas restaurar a saúde do solo e melhorar a sustentabilidade ambiental, mas também promover benefícios socioeconômicos e reduzir o impacto ambiental da agricultura. Deste modo, este modelo visa avançar na compreensão da AR e fomentar discussões futuras sobre práticas unificadas para a agricultura sustentável. Além disso, a integração e aplicação deste modelo podem contribuir significativamente para uma agricultura mais sustentável e resiliente, respondendo de forma eficaz à crescente demanda global por alimentos e à necessidade urgente de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Referências
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CONWAY, Gordon. The Doubly Green Revolution: Food for All in the Twenty-first Century. 1. ed. London: Penguin Books Ltd, 1997.
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RATTIS, Ludmilla; GARCIA, Andrea. Métricas e Indicadores para Agricultura Regenerativa no Brasil. (C. Gheler, Ed.). III Workshop de Agricultura Regenerativa no Brasil - CEBDS. Virtual: CEBDS, 10 out. 2023.
SERRA, Letícia; SOARES, Maria Vitória; MENDES, Marcela; MONTEIRO, Isabella. Revolução Verde: Reflexões Acerca da Questão dos Agrotóxicos. Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB, São Luís, n. 4, v. 1, p. 1, 2016.