Reumo
Alcançar a medida adequada para que o desenvolvimento econômico aconteça com menores impactos negativos na natureza e, por consequência, no futuro da humanidade representa um fator que requer mecanismos de controle público e social das atividades produtivas envolvidas no uso de recursos naturais. Esta realidade é mais acentuada em espaços políticos geridos por sistemas democráticos semelhantes ao brasileiro, na medida em que possibilitam o controle social.
O uso sustentável dos recursos naturais demanda por mudança no paradigma de produção e geração de riqueza, visto que o estágio atual de evolução e disseminação do conhecimento exige maior aplicação de freios e contrapesos nas relações entre economia, meio ambiental e sociedade, de forma a alcançar a tão almejada responsabilidade socioambiental da classe produtiva. Apesar de toda essa conscientização e compromissos estarem claros nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, não é incomum encontrar situações em que um conjunto de organizações empresariais constroem verdadeiros impérios de riqueza às custas dos bens naturais (em essência) públicos, cujos impactos negativos da exploração afetam a qualidade de vida de muitas comunidades.
Um fator que chama a atenção nesse contexto refere-se a lacuna de estudos sobre governança e accountability pública democrática (OLSEN, 2018), aplicada ao tema da responsabilidade corporativa socioambiental. As pesquisas precisam considerar a possibilidade de aplicação das formas disponíveis de accountability voltadas à mensuração eficaz da responsabilidade socioambiental das empresas. Dentre tais formas de prestação de contas, há um termômetro que pode ser efetivamente utilizado pela governança pública: as informações financeiras contempladas em relatórios, dentre os quais se destacam o Relato Integrado, o Relatório de Sustentabilidade e a Demonstração do Valor Adicionado. A literatura voltada ao estudo dessas informações, com relevantes características contábeis, evidencia empiricamente o potencial de redução de assimetria na prestação de contas das empresas (SANCHES; PEDROZO, 2014).
O estudo dos mecanismos de freios e contrapesos da riqueza das empresas que se beneficiam com a exploração do patrimônio natural, representa um relevante foco de interesse para a investigação acadêmica. Diante do cenário apresentado, busca-se respostas para a seguinte questão: qual o comportamento histórico da lucratividade e distribuição da riqueza das empresas listadas na B3 cujas atividades econômicas têm maior impacto direto na degradação do meio ambiente? Em complemento, pretende-se avaliar: em que medida os resultados observados podem ser úteis para a governança democrática socioambiental?
Esta pesquisa busca evidenciar um primeiro olhar empírico sobre o comportamento da geração e distribuição de riqueza corporativa de acordo com o impacto ambiental das empresas de capital aberto (listadas na B3) e considerando-se a perspectiva teórica da accountability democrática em conjunto com os estudos da responsabilidade socioambiental corporativa. Além de identificar na literatura as atividades econômicas com maior impacto negativo na natureza, as análises objetivaram descrever os valores médios de distribuição de riqueza dos setores econômicos listados na B3 (2024), a partir dos dados da Demonstração do Valor Adicionado divulgados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2024). Foi possível verificar diferenças relevantes entre os setores que exploram recursos naturais, bem como aferir a utilidade das informações contábeis para o processo de accountability democrática socioambiental.