Resumo

Título do Artigo

CONSERVAÇÃO DO SOLO E SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EM MATO GROSSO
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Tema

Agronegócios e Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Ana Caroline Morais Ribeiro
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2 - Diego Pierotti Procópio
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - Faculdade de Agronomia e Zootecnia
3 - Jéssica Romagnoli Freire Campos
- Escola de Administração e Negócios, da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Responsável pela submissão
4 - João Carlos Arruda-Oliveira
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Reumo

Após os anos 2000, o agronegócio no Brasil passou por uma transformação impulsionada pela necessidade de alinhar a produção agropecuária com a preservação ambiental, especialmente em resposta à degradação do solo e outros impactos ambientais negativos causados pela intensificação da produção. Nesse novo cenário, práticas conservacionistas começaram a ganhar destaque como ferramentas essenciais para equilibrar a demanda por aumento da produtividade com a conservação dos recursos naturais, como água, biodiversidade e solo. A sustentabilidade tornou-se um tema central nas discussões sobre o agronegócio, ressaltando o desafio de expandir a produção de alimentos enquanto se minimiza o impacto ambiental (Sambuichi et al., 2012). A agricultura conservacionista (AC), surgida nas Grandes Planícies dos Estados Unidos na década de 1930 como uma resposta à erosão do solo, oferece um conjunto de técnicas que permitem aumentar a produção sem comprometer os ecossistemas agrícolas. Essas práticas incluem rotação de culturas, pousio de solos, proteção de encostas, recuperação de mata ciliar e reflorestamento para proteção de nascentes, entre outras. No contexto brasileiro, especialmente em propriedades rurais familiares, essas práticas têm demonstrado grande potencial para conservar os recursos naturais e manter os níveis de produtividade (Baveye et al., 2011; Rodrigues, 2016). Em Mato Grosso, um estado chave para o agronegócio brasileiro, os dados do Censo Agropecuário de 2017 revelam uma baixa adoção de práticas conservacionistas entre as propriedades rurais. Do total de 118,67 mil propriedades, apenas 0,57% das propriedades utilizaram estabilização de voçorocas, 2,48% realizaram reflorestamento para proteger nascentes, 2,53% fizeram recuperação de mata ciliar, 3,99% adotaram o pousio de solos, 4,4% investiram em conservação de encostas e 8,68% aplicaram a rotação de culturas. Esses números mostram a necessidade de esforços significativos para aumentar a conscientização e a adoção de práticas sustentáveis nas áreas rurais de Mato Grosso, com políticas públicas específicas para promover o desenvolvimento rural sustentável. O presente trabalho contribui ao desenvolver o Índice de Sustentabilidade Agrícola (ISA) para os municípios de Mato Grosso, utilizando dados do Censo Agropecuário de 2017. Esse índice identifica as localidades com menor adoção de práticas conservacionistas, fornecendo uma base sólida para a formulação de políticas públicas voltadas para a promoção da sustentabilidade no setor agropecuário. A pesquisa tem como objetivo principal analisar a intensidade de uso dessas práticas nos estabelecimentos rurais de Mato Grosso em 2017, além de determinar o ISA para os municípios do estado nesse mesmo ano. O uso sustentável do solo desempenha um papel fundamental para garantir o abastecimento de água, preservar a biodiversidade, prevenir a erosão, e evitar o assoreamento dos rios. Práticas conservacionistas, como rotação de culturas e reflorestamento, ajudam a controlar a degradação do solo, permitindo que os produtores mantenham a produtividade e, ao mesmo tempo, garantam a longevidade das terras agrícolas. Dessa forma, a sustentabilidade das atividades agropecuárias depende diretamente da adoção de tais práticas. Metodologia: Para desenvolver o ISA, foi utilizada a Análise Fatorial Exploratória (AFE), uma técnica estatística que permite identificar padrões entre variáveis e criar indicadores com base em sua inter-relação. Os dados foram extraídos do Censo Agropecuário de 2017, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que abrange 141 municípios do estado de Mato Grosso. Foram analisadas variáveis como rotação de culturas, pousio de solos, proteção de encostas, recuperação de mata ciliar, reflorestamento para proteção de nascentes e estabilização de voçorocas. As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio dos softwares SPSS e GeoDa®. Resultados: Os testes estatísticos realizados, como o KMO (0,656) e o teste de esfericidade de Bartlett, indicaram que os dados eram adequados para a elaboração do ISA. Foram extraídos dois fatores principais que, juntos, explicaram 70,84% da variância total das práticas conservacionistas adotadas nos municípios de Mato Grosso. O primeiro fator explicou 45,88% da variância e o segundo fator, 24,96%. A análise revelou que as práticas de rotação de culturas, pousio de solos e estabilização de voçorocas foram as mais influentes no primeiro fator, enquanto a recuperação de mata ciliar e o reflorestamento para proteção de nascentes se destacaram no segundo fator. Essas práticas são essenciais para a preservação dos recursos naturais e o aumento da sustentabilidade nas propriedades rurais. A média do ISA nos municípios de Mato Grosso foi de 0,21, com um coeficiente de variação de 48%, sugerindo uma heterogeneidade significativa na adoção de práticas conservacionistas ao longo do estado. A distribuição geográfica do ISA mostrou que a maior parte dos municípios tinha um índice entre 0,125 e 0,157, com apenas um município, Campos de Júlio, alcançando um valor superior a 0,704, destacando-se por sua alta adoção de práticas sustentáveis, especialmente no cultivo de algodão. Por outro lado, municípios como Barão de Melgaço, Cotriguaçu e Juruena apresentaram os menores índices de adoção de práticas conservacionistas, com valores abaixo de 12,5%. Barão de Melgaço, por exemplo, se caracteriza pela predominância da agricultura de subsistência, o que pode explicar a baixa adoção dessas práticas. Discussão: Os resultados sugerem que a adoção de práticas conservacionistas em Mato Grosso ainda é limitada, apesar da importância crescente da sustentabilidade no setor agropecuário. A criação de canais de comunicação e assistência técnica, além do fortalecimento de organizações coletivas no meio rural, pode contribuir para a disseminação de tecnologias sustentáveis entre os agricultores. O acesso ao crédito também desempenha um papel crucial, uma vez que muitos produtores não conseguem investir em novas tecnologias devido à falta de recursos financeiros. Programas como o Programa ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), que oferece linhas de crédito para incentivar práticas conservacionistas como reflorestamento e recuperação de pastagens degradadas, são exemplos de políticas públicas que podem estimular a adoção de práticas sustentáveis em Mato Grosso e em outras regiões do Brasil. Conclusão: A adoção de práticas agrícolas conservacionistas nos municípios de Mato Grosso varia significativamente, com muitos municípios apresentando baixos níveis de adesão. Isso ressalta a necessidade de políticas públicas eficazes que incentivem a sustentabilidade no setor agropecuário. Investimentos em assistência técnica, organizações coletivas e acesso ao crédito são fundamentais para a promoção de práticas que garantam a preservação dos recursos naturais e a continuidade da produção de alimentos a longo prazo.