Reumo
O desenvolvimento das Organizações da Sociedade Civil (OSC) no Brasil ocorreu em paralelo com o avanço do Neoliberalismo, e o terceiro setor, incluindo as OSCs, emergiu com a promessa de ser um espaço de discussão das "questões sociais" (Falconer, 1999). No contexto de expansão do setor e de restrição orçamentária, as OSCs passaram a competir entre si por recursos (Vidal, 2020). Essa competição, associada às pressões para atender demandas de trabalho e gerenciar os recursos administrados, levou à adoção de modelos e profissionais de gestão oriundos do mercado, processo conhecido como "profissionalização" (Melo, 2020). Com base nesse cenário de profissionalização e sob uma perspectiva crítica, este estudo busca investigar como os trabalhadores das OSCs interpretam os processos de gestão em seu ambiente de trabalho. Foram realizadas entrevistas com 10 pessoas que atuam ou atuaram em OSCs, e os dados foram analisados por meio da Análise Crítica do Discurso. Os resultados indicam que os trabalhadores percebem uma gestão muitas vezes ineficaz para lidar com conflitos, onde a sobrecarga de trabalho é normalizada e justificada pelo propósito social das organizações. As conclusões deste estudo contribuem para a reflexão sobre práticas de gestão em OSCs, além de aprofundar o entendimento de como essas organizações utilizam valores altruístas e o imaginário social para legitimar situações de dominação e exploração laboral.