Resumo

Título do Artigo

OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR EMPREENDIMENTOS SOCIAIS PARA ATINGIR A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA NO BRASIL
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Tema

Empreendedorismo Sustentável e Negócios de Impacto

Autores

Nome
1 - Anderson Raphael Padilha de Oliveira
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Economia Responsável pela submissão
2 - Aurora Carneiro Zen
-
3 - Daiane Lippert Tavares
Programa de Pós Graduação em Administração - UFRGS - Escola de Administração

Reumo

Introdução: Em todo o mundo, organizações que utilizam mecanismos de mercado para resolver problemas sociais e ambientais têm surgido. No contexto internacional, o principal termo utilizado para se referir a essas organizações é o social enterprise, que pode ser traduzido para “empreendimentos sociais” na língua portuguesa (Oliveira, 2024). Os empreendimentos sociais têm se provado eficazes em resolver problemas sociais, de forma consistente e independente, e têm sido muito estudados pela literatura acadêmica (Santos; Pache; Birkholz, 2015). No entanto, para gerar impacto social contínuo e cumprirem sua missão institucional, empreendimentos sociais devem ser financeiramente sustentáveis (Chell, 2007; Mair; Marti, 2006). Essas organizações então podem assumir formas jurídicas com fins lucrativos ou sem fins lucrativos, dependendo do problema social que o empreendimento busca resolver, das formas jurídicas disponíveis no país e da capacitação do empreendedor. Nesse sentido, a estrutura jurídica e institucional de governança e financiamento com e sem fins lucrativos do país em que o empreendimento está inserido torna desafiador para o empreendedor social encontrar um modelo de negócios e uma estrutura organizacional que torne o seu empreendimento bem sucedido (Gertner, 2023). Nesse sentido, estudos mostram que apenas 30% dessas organizações são sustentáveis financeiramente no Brasil (PIPE, 2023), o que mostra que a sustentabilidade dessas organizações se mostra como um dos maiores desafios enfrentados por essas organizações no país. Nesse contexto, o trabalho busca entender a razão pela qual essas organizações estão enfrentando dificuldades para atingir a sustentabilidade financeira Fundamentação teórica: Do ponto de vista econômico, há autores que defendem que empreendimentos sociais lidam com falhas de mercado, especialmente com externalidades (Katz; Page, 2010; Santos, 2012; Gertner, 2023). Normalmente em casos de falhas de mercado, o governo deve intervir para corrigir essas falhas. No entanto, na presença de falhas de mercado e de não intervenção por parte do governo, empreendimentos sociais podem surgir para tentar resolver a falha de mercado identificada (Santos, 2012). Nesse contexto, se os empreendimentos sociais realmente estiverem lidando com falhas de mercado, a sustentabilidade financeira se torna naturalmente desafiadora de ser atingida. Outro aspecto importante sobre os empreendimentos sociais é a sua capacidade de obter fontes de receitas variadas, pois combina aspectos filantrópicos com aspectos comerciais. O estudo de Searing et al (2022) analisou 545 empreendimentos sociais ao redor do mundo e mostrou que em média, 59,01% da fonte de receita dos empreendimentos analisados são as receitas de vendas, 19,99% são receitas públicas, 10,52% são receitas filantrópicas e 10,48% são outro tipo de receita. Além disso, os autores identificaram que aproximadamente 64% dos empreendimentos estudados possuem uma forma jurídica ligada ao terceiro setor, como associações, fundações e cooperativas. Esses resultados mostram que os empreendimentos sociais no contexto internacional possuem formas variadas de fontes de financiamento e de formas jurídicas adotadas. Metodologia: Com isso, para termos um melhor entendimento dos desafios enfrentados por empreendimentos sociais no Brasil, o trabalho terá como metodologia uma revisão literária dos principais aspectos econômicos dos empreendimentos sociais, principais aspectos financeiros no contexto internacional e nacional e entrevistas semiestruturadas com gestores de três empreendimentos sociais no país. Para selecionar os empreendimentos sociais a serem estudados, uma entrevista semiestruturada foi realizada com uma pesquisadora especialista na área, que recomendou três organizações. Análise e discussão dos resultados: Como resultado, o estudo identificou que os empreendimentos sociais analisados lidam com falhas de mercado, especificamente com externalidades positivas de produção. Além disso, os empreendimentos possuem pouco investimento governamental e opções limitadas de financiamento comparados com empreendimentos sociais de outros países. Outro ponto importante é que todos os empreendimentos estudados enfrentaram desafios na escolha da forma jurídica, principalmente pelo fato de que Organizações da Sociedade Civil não terem segurança jurídica para realizar atividades comerciais no país. Por fim, constatamos que o marketing é considerado pela literatura acadêmica internacional como sendo um ponto fraco do setor, característica essa apresentada também pelos empreendimentos sociais brasileiros analisados. Considerações finais: O trabalho contribui para a literatura acadêmica sobre empreendedorismo social ao mostrar que um dos principais desafios enfrentados por empreendimentos sociais no Brasil é o fato de que os modelos jurídicos brasileiros não foram adaptados para esse tipo de organização, o que limita seu crescimento e acesso a recursos financeiros. O trabalho também contribui para uma melhor compreensão da relação entre as falhas de mercado e os empreendimentos sociais, evidenciando que é naturalmente difícil para esses empreendimentos atingir a sustentabilidade financeira. Referências: CHELL, E. Social enterprise and entrepreneurship: Towards a convergent theory of the entrepreneurial process. International small business journal, United Kingdom, v. 25, n. 1, p. 5-26, 2007. GERTNER, R. H. The organization of social enterprises. Annual Review of Economics, United States, v. 15, n. 1, p. 41-62, 2023. KATZ, R. A.; PAGE, A. The role of social enterprise. Vermont Law Review, United States, v. 35, p. 59-104, 2010. MAIR, J.; MARTI, I. Social entrepreneurship research: A source of explanation, prediction, and delight. Journal of world business, United States, v. 41, n. 1, p. 36-44, 2006. OLIVEIRA, A. R. P.; ZEN, A. C.; GUERRERO, G. A. Perspectivas teóricas na construção do campo de empreendedorismo social no Brasil. In: ENCONTRO DA ANPAD, 48., 2024, Florianópolis. Anais eletrônicos [...]. Maringá: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2024. PIPE. 3º Mapa de Negócios de Impacto. 2023. Disponível em: https://mapa2023.pipelabo.com. Acesso em 24 ago. 2024. SANTOS, F.; PACHE, A-C.; BIRKHOLZ, C. Making hybrids work: Aligning business models and organizational design for social enterprises. California Management Review, United States, v.57, n. 3, 36–58, 2015. SEARING, E. A. M. et al. The hybrid nature of social enterprises: how does it affect their revenue sources?. Social Enterprise Journal, United Kingdom, v. 18, n. 2, p. 321- 343, 2022.