Resumo

Título do Artigo

O consumidor na economia circular: achados e reflexões a partir de revisão sistemática de literatura
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Tema

Marketing e Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Carolina Maria Zoccoli Carneiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ - Instituto de Economia Responsável pela submissão
2 - Helder Queiroz Pinto Junior
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3 - José Vitor Bomtempo
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4 - Fabio de Almeida Oroski
- Universidade Federal do Rio de Janeiro

Reumo

A economia circular é uma proposta de modelo de produção e consumo fundamentado na gestão e manutenção do valor dos materiais, na redução de perdas e desperdícios e na garantia da disponibilidade de recursos em uma perspectiva multigeracional. Tal proposta organiza a produção e a oferta de bens e serviços descolada do estabelecido modo de extração de matérias-primas, transformação em produtos, uso do produto e descarte pós-consumo (GHISELLINI et al, 2016; GEISSDOIERFER et al, 2017; MORAGA et al, 2019). As iniciativas de economia circular vêm propondo formas de consumo diferenciadas (uso compartilhado de bens, acesso ao serviço e não ao produto físico, consumo de ‘experiências’ em substituição à aquisição de produtos etc.). Contraditoriamente, a oferta de produtos permanece, em geral, inalterada e a responsabilidade de provocar a mudança é posicionada no comportamento do consumidor (PLANING, 2015; CAMACHO-OTERO; PETTERSEN; BOKS, 2017). O sistema econômico vigente, no entanto, é limitado no que diz respeito a um comportamento racional voluntário, mesmo se motivado pela proteção ambiental. A conveniência que conduz a uma ou outra prática de consumo é determinada por fatores alheios à decisão individual (SHOVE, 2003). A teoria de que o consumidor é soberano e conhecedor de suas preferências tem sido largamente contestada (GOUGH, 2015). O consumo configura-se, todavia, como um fator crítico para a mudança necessária nas transições sociotécnicas, como é o caso da circularidade (GEELS, 2004; JURGILEVICH et al, 2016). Tal mudança exige trabalho e esforço por parte dos indivíduos e das instituições: nenhuma parte é capaz de impulsionar qualquer variação de comportamento, nem promover a inovação orientada para a sustentabilidade, de forma isolada (VATN, 2006; BUHL et al, 2019). A problematização quanto aos fatores impulsionadores de um consumo circular e a lacuna no reconhecimento dos fatores que alavanca(ria)m novas práticas e hábitos de consumo é identificada pela literatura como um campo em que se precisa avançar para tornar as estratégias organizacionais de circularidade mais efetivas e para que políticas de transição para a circularidade se traduzam em um consumo compatível com os limites de recursos do planeta (BLOMSMA, 2018; SINGH; GIACOSA, 2019). Políticas públicas recentes também têm apontado a perspectiva do consumo como fundamental para uma transição, no entanto aprofundam-se pouco na discussão sobre relações e atribuições dos atores envolvidos (COMISSÃO EUROPEIA, 2015; HINTON, 2015; ALONSO-ALMEIDA et al, 2020; BRASIL, 2024). A natureza e as percepções cambiantes do consumo puxadas pela economia circular são um pertinente campo de pesquisa, sendo recomendado pela literatura o avançar de pesquisas que contribuam para que as intervenções na transição para a economia circular sejam bem-sucedidas (CAMACHO-OTERO et al 2017; CAMACHO-OTERO et al, 2018). Uma consulta a revisões de literatura já publicadas na temática de consumo sustentável, verde, ético e/ou circular apontou a abertura de um campo de pesquisa, porém com limitados resultados aplicáveis a políticas e estratégias para a economia circular. Boa parte dos estudos seguem aprisionados à perspectiva do consumidor individual sem a devida ponderação do contexto socioinstitucional (VIDAL-AYUSO et al, 2023; CARREIRA et al, 2023). Este cenário nos motivou a organizar e analisar criticamente o que existe de produção acadêmica sobre relações de consumo, o comportamento do consumidor e a economia circular. A metodologia escolhida foi a revisão sistemática de literatura que, além de permitir compreender a abrangência e profundidade de um determinado campo de estudo, possibilita testar hipóteses, traçar novas rotas de pesquisa e fundamentar críticas teóricas em estudos qualitativos (CRESWELL, 2007; XIAO E WATSON, 2019). Nossa revisão sistemática de literatura objetiva, portanto: 1) definir “consumo circular”, estabelecendo seu escopo e abrangência e ponderando estímulos e consequências – o que vem antes e o que vem depois do consumo em si; e 2) identificar como a pesquisa manifesta o consumidor na economia circular e analisar criticamente as características e papéis que são a ele atribuídos. A metodologia aplicada é a de revisão por temas, nas duas principais bases de periódicos de artigos científicos para ciências sociais e da natureza (Scopus e Web of Science). Após triagem por aderência ao tema proposto e relevância dos trabalhos e dos periódicos, são considerados na revisão um total de 62 artigos científicos. A categorização temática, realizada por meio do software Nvivo, passa pelas etapas de codificação para identificação dos termos recorrentes e o agrupamento em categorias de análise. Validadas as categorias, o material levantado é analisado criticamente com o objetivo de reconhecer como esse campo de pesquisa expressa o “consumidor circular”, quais são seus arquétipos, características e papéis a ele designados. A revisão propõe um novo entendimento sobre as etapas contidas no ‘guarda-chuva’ consumo, aplicáveis à transição para uma economia circular. Essas etapas se iniciam antes da aquisição de produtos e findam depois do fim da vida útil do produto. A partir da perspectiva da teoria das práticas sociais e do institucionalismo, a revisão propõe uma releitura da matriz de Vidal-Ayuso et al (2023) que relaciona antecedentes, decisões e resultados às práticas de consumo circular. Com o resultado deste trabalho, intenciona-se contribuir para o desenvolvimento de pesquisas futuras no campo da produção e consumo em uma economia circular, bem como colaborar para o planejamento de ações para a circularidade e a formulação de políticas públicas mais pragmáticas e efetivas, portanto menos enviesadas no que diz respeito às relações de consumo.