Reumo
A percepção da degradação ambiental como consequência das atividades empresariais tem gerado, ao longo dos anos, preocupações e cobranças por parte dos interessados nos negócios das entidades, além da sociedade civil e governos no mundo inteiro. Esse cenário alcançou a contabilidade responsável pela prestação de informações da atividade empresarial como um todo, tem buscado se adequar a essas novas exigências, que precisou dotar-se de conhecimentos, ferramentas, e todo um arcabouço conceitual, para bem informar as partes interessadas o que leva ao questionamento sobre como esse arcabouço conceitual, ferramentas e conhecimentos vem sendo transmitido aos profissionais da área. Nessa perspectiva, surge a questão de pesquisa a ser respondida neste trabalho: como a educação ambiental tem contribuído para a formação dos profissionais de contabilidade no Brasil? Esse trabalho tem por objetivo avaliar como os cursos de graduação em ciências contábeis tem contribuído para a formação de seus alunos para atuar nesse novo cenário. Para atingir o objetivo proposto, inicialmente foram identificados todos os cursos de ciências contábeis na modalidade presencial, autorizados a funcionar, na modalidade presencial, pelo Ministério da Educação - MEC (disponível em https://emec.mec.gov.br/emec/nova), obtendo-se o total de 1.381 cursos em atividade no Brasil. Foram selecionados 70 cursos oferecidos por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), objeto deste estudo. Após a identificação dos cursos em atividade, ofertados pelas IFES, representantes do universo desta pesquisa, optou-se pela delimitação da população a ser estudada, aos cursos que obtiveram nota 4 e 5 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2018, conforme dados disponíveis no MEC, resultando no total de 36 cursos que atenderam aos critérios de seleção. Da análise da grade curricular desses cursos identificou-se que 12 dos cursos ofertam a disciplina como obrigatória, 20 como optativa/eletiva e 4 não ofertam. Em seguida, partiu-se para a análise dos conteúdos das ementas a fim de identificar se estes são ministrados adotando uma abordagem mais voltada para a teoria ou para a prática da contabilidade ambiental. Essa análise surge com o intuito de verificar se os conteúdos programáticos possibilitam ao futuro profissional identificar, registrar e evidenciar os investimentos (sejam em despesas ou ativos) e obrigações advindas das ocorrências relacionadas a ações de sustentabilidade desenvolvidas pelas empresas. Dos 36 cursos selecionados para este estudo, 23 disponibilizaram ementário da disciplina para análise. O primeiro achado versa sobre a modalidade de oferta da disciplina contabilidade ambiental constatando-se que dos 36 cursos de ciências contábeis analisados 12 apresentam a disciplina contabilidade ambiental ou similar em sua grade como obrigatória; 20 como optativa/eletiva e 4 não apresentam a disciplina contabilidade ambiental ou similar. Desse primeiro achado pode-se concluir que os cursos que ofertam a disciplina de forma optativa ou eletiva, somados aos cursos que não apresentam a disciplina em seus currículos, representam pouco mais de 66% dos cursos de ciências contábeis em atividade nas IFES brasileiras que obtiveram nota 4 e 5 no Enade/2018. A análise das ementas disponíveis dos 23 cursos estudados revelou que, em média, as disciplinas de contabilidade ambiental e/ou áreas afins nas universidades listadas apresentam uma distribuição onde aproximadamente 43% das instituições focam o ensino da contabilidade ambiental em aspectos teóricos; cerca de 43% apresentam equilíbrio entre as abordagens teórico/prático; e apenas 13% apresentam foco na abordagem prática. Porém, ao analisar a modalidade de oferta da disciplina, percebe-se que dentre as obrigatórias, nenhuma apresenta foco na abordagem prática, enquanto 62,5% focam na abordagem teórica e 37,5% equilibram ambas as formas de ensino. A importância dessa análise reside no fato de que apenas as disciplinas obrigatórias garantem que os conhecimentos necessários serão transferidos aos alunos, considerando-se que as ofertadas como optativas/eletiva, sendo de livre escolha, podem sequer ser ofertadas de fato e, em sendo, não há garantias de que o corpo discente como um todo a curse. Os achados deste trabalho corroboram com as ideias de Tinoco e Kraemer (2011), os quais relatam a percepção da falta de aproveitamento das habilidades e experiências próprias da formação dos contadores no processo de desenvolvimento de uma metodologia que segregue os fatos que possam, potencialmente, degradar o meio ambiente, reconhecendo-os e registrando-os para fins de evidenciação. Os resultados corroboram ainda com o estudo de Bertino et al.(2017). Diante destes resultados, considerando-se as limitações do trabalho aos cursos com nota 4 e 5 no Enade/2018, sugere-se sua replicação em cursos com nota a partir de 3 atribuídas no Enade/2023, a fim de demonstrar situação mais atualizada do fenômeno, contribuindo assim com a discussão sobre o aperfeiçoamento da formação do contador em aspectos ambientais.