Resumo

Ao longo dos anos o espaço urbano vem se modificando devido às ações antrópicas, que afetam consideravelmente os aspectos ambientais. O uso da ventilação natural, a qual sofre significativa interferência dos atributos rugosidade e porosidade (OLIVEIRA, 1993), é uma eficiente estratégia bioclimática para o alcance do conforto ambiental em cidades de clima quente e úmido (COSTA FILHO, 2017). O enfoque deste estudo é a análise qualitativa da ventilação natural de áreas com aspectos de ocupação do solo diferentes, no bairro Praia de Iracema, em Fortaleza, Ceará, a partir dos atributos citados.

Este estudo considerou o litoral da cidade de Fortaleza, Ceará, mais precisamente o bairro Praia de Iracema, trecho da orla marítima que sofreu algumas alterações ao longo dos anos em relação à ocupação do solo, por meio de intempéries, impermeabilização do solo e construção de edifícios. Levando em consideração esses aspectos, objetiva-se desenvolver uma análise qualitativa do comportamento da ventilação natural nesse espaço urbano, baseado no estudo realizado por Costa Filho (2017), através de fichas de levantamento e resultados para rugosidade de altura e porosidade de afastamento.

A porosidade é o atributo que determina a penetração dos ventos na estrutura urbana (OLIVEIRA, 1993). É diretamente influenciado pelo espaçamento entre as edificações, consequência da ocupação do solo e da variação de alturas (COSTA FILHO, 2017). A rugosidade é delineada pelas saliências e reentrâncias existentes na superfície urbana, que entram em contato direto com as massas de ar (OLIVEIRA, 1993), podendo alterar relativamente seu deslocamento (ROMERO, 2000). É apropriado, para localidades com um clima quente e úmido, uma rugosidade alta e uma porosidade equivalente ao seu tecido urbano.

Baseado nos conceitos de rugosidade de altura e porosidade de afastamento de Oliveira (1993) e Costa Filho (2017), foram escolhidas 5 áreas do bairro Praia de Iracema, em Fortaleza, Ceará, como objetos de estudo, dispostos em fichas, para pesquisa de campo. A cada critério considerado foi atribuído uma pontuação. Seu somatório permitiu analisar o comportamento dos ventos e suas interferências nas edificações, espaços livres e vias, através do grau de rugosidade e porosidade de cada área, a fim de formular reflexões quanto à ocupação urbana do bairro, a ventilação natural e o conforto térmico.

Apesar da existência de construções térreas e verticalizadas, estas apresentam disposições semelhantes, classificando como rugosas as áreas avaliadas. Quanto à porosidade de afastamento, foram identificados espaçamentos horizontais significativos entre as edificações das áreas 3 e 4, caracterizando-as como muito porosas. Já as áreas 1 e 2 foram classificadas como porosas, devido às largas vias, que se contrapõem à altura dos edifícios e ao grande adensamento. A qualidade porosa da área 5 caracteriza-se pelo afastamentos dos edifícios, que respeitam a legislação quanto aos recuos exigidos.

A avaliação realizada através dos critérios de rugosidade de altura e porosidade de afastamento mostrou-se válida para a análise qualitativa da ventilação natural na área de clima quente e úmido delimitada. Concluiu-se, ainda, que os afastamentos das edificações são tão importantes quanto suas alturas. Ambos são fatores relevantes para aumentar a compreensão do deslocamento dos ventos e, consequentemente, adequar o desenho urbano às diversas situações climáticas, obtendo-se uma melhor convivência urbana e um aumento da qualidade de vida no ambiente externo.

COSTA FILHO, A. Análise da influência da rugosidade e da porosidade sobre a ventilação natural em Fortaleza, Ceará. In: XXI Encontro de Iniciação Científica da UNIFOR (EIC), 2015, Fortaleza. Anais... do XXI EIC 2014. OLIVEIRA, P. Medição de atributos bioclimatizantes da forma urbana – rugosidade e porosidade – como instrumento de avaliação da ventilação, visando conforto térmico, conservação de energia e qualidade do ar no ambiente climático urbano. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, Anais... São Paulo, ANTAC/POLI/USP, 1993, v. 2, pp 1001 a 1013