Resumo

Título do Artigo

ENTRE O INSTRUMENTAL E O SUBSTANTIVO: PARADOXOS DE UM PROJETO “COMUM”
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Tema

Estudos organizacionais em sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Simone Alves Pacheco de Campos
-
2 - Rúbia Goi Becker
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Responsável pela submissão
3 - Vanessa de Campos Junges
Universidade de Cruz Alta - Graduação em Administração

Reumo

Ao desempenharem o papel de representação da sociedade civil, as ONGs refletem uma lógica substantiva, enquanto as empresas atrelam suas ações de RSC em benefício de sua imagem institucional e à ganhos econômicos, evidentes da lógica instrumental. Diante disso, busca-se tecer uma reflexão sobre a quantificação e mecanização da vida e as distorções que o discurso do progresso provoca nas relações sociais, como uma alternativa teórica, partindo da sociologia do desenvolvimento e da ideia de PDS, das discussões sobre racionalidade instrumental e substantiva, e da emergência de um mundo empresa.
Considerando esse cenário, tem-se como problema: Como se constituem os paradoxos e tensões envolvidas na construção de um projeto de desenvolvimento social entre ONG e empresa no setor da reciclagem? Assim, ao concentra-se no paradoxo entre ONGs e empresas, aqui entendido como social versus econômico, tendo como objetivo compreender os paradoxos e tensões envolvidas na construção de um projeto de desenvolvimento social entre ONGs e empresas no setor da reciclagem.
O entendimento de terceiro setor baseia-se em encobrir a lógica liberal-corporativa que assume a postura supostamente democratizadora, dando como fato a retirada do Estado nas respostas à questão social e a flexibilização de direitos sociais, econômicos e políticos (MONTAÑO, 2010). Por sua vez, um PDS envolve um sistema de recursos e oportunidades que todo mundo tenta se apropriar de sua própria maneira (DE SARDAN, 1995). Diante disso, os paradoxos organizacionais podem representar as transformações nas estruturas sociais, observadas como práticas de criação de sentido (PUTNAM et al., 2016).
Os pressupostos ontológicos e epistemológicos deste estudo, seguem a lógica interpretativa crítica, essencialmente construtivista. Foi realizado um estudo de caso (STAKE, 2000) em uma ONG sediada em Porto Alegre/RS, cuja coleta de dados se deu através de entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados foi conduzida mediante a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2009). O conjunto de dados foi transcrito, lido e organizado por meio de categorias definidas a priori: o papel social versus resultados econômicos, que se desdobra em colaboração versus conflito, e, desejado versus realizado.
Identificam-se elementos de uma natureza contratual e ideológica que legitima a conduta de RSC, de modo que a parceria constituída no PDS possibilita com que ambos hajam como parceiros de negócios e não como adversários, de modo a não prevalecer uma só lógica como orientadora dos respectivos interesses políticos destes agentes. Se por um lado ONG parece incorporar novas lógicas de ação no seu campo de atuação, mediante padrões e critérios racionalmente instrumentalizados, normalmente, comuns à empresa, que por sua vez, logra de maior legitimidade e visibilidade diante da sociedade.
Os resultados evidenciam que se por um lado a empresa busca impacto social, mas busca atender suas exigências comerciais; por outro, a ONG precisa de apoio financeiro, mas persegue ambições sociais. Assim, a relação de colaboração versus conflito registra a influência de interesses na relação de parceria, envolvendo tanto interesse econômico como ganhos de legitimidade. Já a contradição de desejado versus realizado, aponta para aspectos da empresarização inerentes ao PDS, de modo que as tensões entre organização e desempenho representam a interação entre meios e fins, ou processo e resultado.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo (Edição revista e actualizada). Lisboa: Edições, v. 70, 2009. DE SARDAN, J. P. O. Anthropologie et développement. Paris: Karthala, 1995. MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção social. Cortez Editora, 2010. PUTNAM, L. L.; FAIRHURST, G. T.; BANGHART, S. Contradictions, dialectics, and paradoxes in organizations: A constitutive approach. The Academy of Management Annals, v. 10, n. 1, p. 65-171, 2016. STAKE, R. E. Case Studies. In: DENZIN, N. K. L., Y. S (Ed.). Handbook of Qualitative Research. Second Edition.