Resumo

Um dos principais pressupostos para a teoria econômica tradicional é racionalidade na qual existe completa ciência das consequências de suas decisões e informações ideais para tomá-las, além do cálculo de maximização de bem-estar através do consumo. Ideias mais realistas sobre o comportamento dos agentes que pertenciam a heterodoxia econômica começaram a ser incorporadas dentro da economia tradicional e o interesse na economia comportamental tem crescido. A economia ecológica, que nega a simplificação da teoria tradicional, tem grande potencial de adaptar ideias das ciências comportamentais.

Este artigo visa elucidar os principais pontos de convergência entre a economia comportamental e economia ecológica, com a hipótese de que podem ser complementares e servirem como base para ações e políticas ambientais mais simples e eficientes visando a redução do chamado throughput ambiental.

Um dos pontos vitais da economia ecológica é o de redução da escala de throughput (resíduo obtido após transformação da matéria), tornando-a condizente com a possibilidade de outras gerações usufruírem de qualidade de vida adequada, implicando uma racionalidade distinta do homo economicus. A economia comportamental por sua vez reforça essa crítica, mostrando que a tomada de decisão dos agentes não é movida simplesmente pela maximização do consumo mas sim por uma racionalidade limitada sujeita a diversos vieses como efeito enquadramento e aversão à perda, além de negar preferências constantes.

A estratégia metodológica utilizada no presente texto foi a junção de revisão bibliográfica teórica e, também, seleção e apresentação de cases, provenientes de organizações como OCDE e Banco Mundial, que ilustram o potencial da convergência entre economia comportamental e economia ecológica.

Visando elucidar essas relações entre as teorias, são apresentados dois cases. No primeiro deles são testadas duas intervenções baseadas em normas sociais e provisão de feedback para economia de água na Costa Rica visando redução do consumo de água. O segundo case tratava da percepção de redução de custos ligados ao uso de bens da linha branca energeticamente eficientes no Reino Unido, comparando os impactos no consumo de energia elétrica para diferentes formas de anunciar aos compradores sobre a eficiência dos produtos.

É possível observar que as duas correntes podem ser complementares e colaborarem em torno de objetivos centrais para a manutenção do desenvolvimento econômico. Porém, a economia comportamental apresenta limitações ainda para que se aprofundem suas aplicações e são necessários mais estudos da interligação entre elas; também, os principais usos contemporâneos da economia comportamental são ligados ao aumento do consumo, não a sua redução. Mesmo nesses casos, a contribuição dela como negadora do homo economicus já é um passo importante para a teoria econômica e avanços possíveis para o diálogo.

BANCO MUNDIAL. World Development Report 2015: Mind, Society, and Behavior. Washington, DC: World Bank, 2015. CAVALCANTI, C. Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a economia ambiental. Estud. av., São Paulo, v.24, n.68, p.53-67, 2010. CAMERER, Colin F; LOWENSTEIN, George. Behavioral Economics: Past, Present, Future. In CAMERER, Colin F. et al (Orgs.). Advances in Behavioral Economics. Princeton University Press, Princeton, p. 3-52, 2004. DALY, H. E.; FARLEY, J. C. Ecological economics: Principles and applications. Island Press; Second edition, 2010.