Resumo

A produção do açaí é uma atividade tradicional na Amazônia, cujo extrativismo é feito em ecossistema de floresta natural, garantindo renda e subsistência às populações ribeirinhas. Apesar da crescente demanda pelo açaí, os pequenos extrativistas, enfrentam desafios e encontram na cooperativa e na certificação do produto uma forma de resistência. De acordo com o IBGE (2017) 70% de tudo que é consumido no Brasil passa pelas cooperativas.Estudo de Rosalem et al.(2009) revela que os cooperados estão perdendo a confiança no sistema e restringindo a uma participação mais moderada com a cooperativa

Em um ambiente cooperativista a confiança torna-se fundamental para a permanência e crescimento da atividade, justificando dessa forma a importância de investigar as razões determinantes que cerca o tema confiança, assim, busca-se analisar a importância da confiança para a obtenção da certificação Fair Trade, em uma cooperativa da cadeia do açaí, localizada no município de São Sebastião da Boa Vista Mesorregião do Marajó, na Amazônia brasileira, estado do Pará.

A confiança é fundamental nas relações entre indivíduos, pois é vista como crença na honestidade e na benevolência da contraparte, o que torna os parceiros mais dispostos a compartilharem informações (BERTOLIN, 2008) Ferreira (2012), apresenta a certificação Fair Trade como uma alternativa para as cooperativas e para os produtores aumentarem sua visibilidade e sua participação no mercado. Portanto, entende-se que a certificação sirva como garantia para o consumidor da adoção dos princípios do comércio justo e para dar credibilidade tanto aos produtos quanto para os produtores.

Esta é uma pesquisa descritiva de natureza quantitativa, com uso da Análise Fatorial. Os dados foram coletados presencialmente a partir de um questionário estruturado, desenvolvido à luz da teoria devidamente revisada. A unidade de análise foi a Cooperativa Agroextrativista Veneza do Marajó, localizada no município de São Sebastião da Boa Vista, Ilha do Marajó, estado do Pará. A amostra da pesquisa foi de 151 extrativistas de um universo de 344 e foram escolhidos por acessibilidade. Utilizou-se uma amostragem não probabilística, pois não foi possível conhecer todos os elementos da população.

Dentre os 151 entrevistados, 68 % são do sexo masculino e 32% do sexo feminino. O Fator 1 está associado a três variáveis que, juntas, explicaram 24.37% da variância dos dados, foi denominado Confiança e Laços Relacionais. O Fator 2 explicou 22,98% da variância e definido por quatro variáveis denominado de Confiança e Parceria. O Fator 3, explicou 14,19% da variância e é denominado Confiança e Vantagem Competitiva. O valor negativo para o indicador Confiança como uma Troca Certa para o Parceiro deve-se ao fato de que nas organizações cooperativas, existem divergências de opiniões e ideias.

Conclui-se que a confiança reduz as dificuldades nas relações entre os cooperados e favorece para um maior engajamento, pode-se inferir que o processo de certificação só foi possível em virtude do alto nível de confiança existente entre os atores da cooperativa que perceberam a possibilidade de adicionar valor ao açaí, uma vez que a certificação Fair Trade torna-se uma alternativa viável para aumentar não só a visibilidade do produto frente ao mercado, mas uma oportunidade de negócio lucrativo, visto existir um mercado disposto a pagar um preço prêmio por um produto orgânico diferenciado

BERTOLIN, R.V; SANTOS, A.C; LIMA, J. B; BRAGA,M. J Assimetria de informação e confiança em interações cooperativas. Revista de Administração Contemporânea. v.12 n.1 Curitiba Jan./Mar. 2008 FERREIRA, J. H. M. Dimensões de Inovação Organizacionais e Sociais no Processo de Certificação Fair Trade: o caso da Casa APIS. 104f. Dissertação (Mestrado em Administração e Controladoria) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Fortaleza - CE, 2012.