Resumo

O ambiente cultural brasileiro é marcado por altos e baixos e relativa dependência de incentivos públicos ou programas subsidiados. As organizações deste segmento enfrentam dificuldades de sobrevivência por modelos de trabalho inadequados. A maioria dos artistas lida com falta de continuidade de trabalhos e incerteza na sustentabilidade de suas carreiras. Como representante da economia criativa, uma associação cultural apresenta uma forma organizacional, calcada no capital social entre seus agentes, para sedimentar competências coletivas voltadas à produção de artes cênicas customizáveis.

Partindo da concepção de que o capital social propicia às organizações capacidade para se coordenarem, e que a competência coletiva é um recurso fonte de sustentabilidade organizacional, o problema de pesquisa é: como o capital social e as competências coletivas contribuem para a manutenção de uma associação cultural? Assim, os objetivos desta pesquisa são: 1) identificar como as relações entre agentes compõem as competências coletivas de uma associação cultural; 2) analisar como o capital social e as competências coletivas contribuem com a sustentabilidade da associação e artistas.

As abordagens de capital social mostram duas correntes principais: uma sociológica, enfatiza a ideia de capital social no enraizamento e nas estruturas sociais; outra econômica, onde o capital social se dá em função da produção, buscando entender como as ações o incrementam, quantificando seus resultados. Sob esta perspectiva, o capital social acumulado de uma organização, junto com a capacidade de coordenar, integrar saberes e saber fazeres, tem-se competências coletivas. Assim, a linha tênue entre capital social e competência coletiva se confunde, o que este trabalho busca contribuir.

Esta pesquisa, de tipo descritivo e método qualitativo, seguiu o paradigma interpretativo uma vez que o conhecimento resulta da compreensão da experiência vivida pelos sujeitos de pesquisa, que foram artistas, parceiros, equipe operacional e técnica de dois eventos de artes cênicas. O roteiro de entrevistas foi elaborado a partir da literatura com quatro pré-categorias de análise: competência individual; capital social; competências organizacionais e competências coletivas. Estas representam o processo de formação de competências coletivas a partir do capital social.

Os resultados mostram que o processo de formação de competências coletivas da Associação cultural, a produção de artes cênicas e de artistas em risco social, costuram o repositório comum entre os agentes, proporcionando-lhe sustentabilidade. O capital humano, em interação, compõe o capital social; este é representado por uma linguagem compartilhada tornando-o eficiente e diferenciando-se de outros coletivos. Com isto, a competência organizacional gera novos conhecimentos; neste estudo destaca-se a customização de serviços culturais, cujo formato torna-se flexível e resistente como um cérebro.

Em revisão de literatura, as explicações sobre os limites dos conceitoa se confundem; em capital social, as interações constroem e compõem um agir coletivo; em competências coletivas, a força do grupo é maior do que a dos indivíduos. Neste sentido, a sustentabilidade da Associação e seus agentes se formam por meio das interações. Como contribuição, a pesquisa identifica que o fenômeno ocorre em um processo de complementariedade. As competências individuais e o capital social são potencializados e reconfigurados, gerando competência organizacional por meio de competencia coletiva.

COLEMAN, J. Foundations of Social Theory. Cambridge, Mass.: The Belknap Press of Harvard University Press, 1990. CORPO RASTREADO. Disponível em: www.corporastreado.com.br. Acesso: 20 out. 2019. CRAIG, A.; DUBOIS, S. Between art and money: The social space of public readings in contemporary poetry economies and careers. Poetics, 2010. MICHAUX, V. Articular as competências individual, organizacional e estratégica In: RETOUR et al, Competências Coletivas. Artmed, 2011 RETOUR, D.; KROHMER, C. A competência coletiva. In: RETOUR et al. (orgs.). Competências Coletivas. Bookman, 2011.