Resumo

Título do Artigo

Os sentidos da sustentabilidade nos relatos integrados do setor privado
Abrir Arquivo

Tema

Políticas Públicas para a Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Erico L. Pagotto
Escola de Artes, Ciências e Humanidades USP - each Responsável pela submissão
2 - Sylmara Lopes Francelino Gonçalves Dias
Escola de Artes, Ciências e Humanidades USP -

Reumo

A incorporação dos discursos ambientais por empresas privadas tem se intensificado principalmente a partir da década de 1990 e mais formalmente por meio de diversos tipos de relatórios de sustentabilidade, que são instrumentos voltados à divulgação de informações socioambientais às partes interessadas, e para os quais hoje há uma tendência de adoção do formato “Relato Integrado – RI”, nos termos propostos pelo International Integrated Reporting Council - IIRC.
O objetivo deste artigo foi investigar como a polissemia da sustentabilidade é utilizada por organizações do setor privado em seus discursos com vistas à produção de sentidos nas formulações de estratégias empresariais e em resposta à crise socioambiental sistêmica.
Em resposta ao avanço da presente crise socioambiental, seus impactos têm sido alvo de inúmeras pesquisas. Muitos esforços têm sido envidados dos pontos de vista político e científico em busca da chamada “Produção e Consumo Sustentáveis” que vem se tornando um novo campo de conhecimento, trazendo contornos teóricos, práticos e políticos que lhe são específicos. O debate sobre sustentabilidade, no entanto, abriga amplo leque de contradições e polissemias herdadas das limitações técnicas e dificuldades políticas inerentes ao próprio conceito de desenvolvimento sustentável.
A técnica utilizada foi a Análise de Discurso Crítica – ADC, que tem como referência o trabalho de Fairclough (2001). Para este autor, os discursos são historicamente situados, sempre sociais e nunca individuais, além de carregarem e reproduzirem práticas sociais e ideológicas, revelando disputas entre manutenção da ordem social versus mudança social. O processo metodológico de análise dos discursos se utilizou dos textos integrais, porém o foco da análise esteve na “sustentabilidade” como categoria analítica.
A análise comparada dos relatos integrados das dez empresas mostrou que o conceito de sustentabilidade aparece relacionado a treze categorias analíticas distintas, e que podem ser sintetizadas em uma categoria ampla de “gestão e controle empresarial”. Isto comprova que nem todas as empresas empregam a expressão “sustentabilidade” no mesmo sentido, o que demonstra a sua polissemia e uso ideológico.
Para as empresas analisadas, o interesse está na manutenção da ordem no campo social e ampliação das novas oportunidades abertas por meio das mudanças reformistas para expansão dos mercados, melhoria da imagem corporativa, ganho de performance financeira e em ecoeficiência para assegurar a sustentação dos negócios. Quando se interpreta que o principal sentido da “sustentabilidade” expressa nos relatos das empresas do setor privado, é a sustentação de seus negócios, esta é posição mercadológica que estes atores se propõem a sustentar.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis 2º. Ciclo. Diretrizes para implementação do 2º. Ciclo 2016 – 2020. Brasília, DF, 2016. FAIRCLOUGH, Norman. Language and power. Pearson Education, 2001. GONÇALVES-DIAS, S. L. F.; TEODÓSIO, A. S. S. Controvérsias em torno do consumo e da sustentabilidade: uma análise exploratória da literatura. Amazônia, Organizações e Sustentabilidade, v. 1, p. 61-77, 2012. LOREK, S. Towards Strong Sustainable Consumption Governance. Saarbrücken: LAP Publishing, 2010.