Resumo

Diversos setores da economia precisaram se adaptar devido a pandemia da Covid-19. Nesse grupo, estão os agricultores familiares, em especial aqueles ligados aos programas governamentais de apoio à agricultura, que, em função do isolamento, precisaram ser paralisados. Nesse sentido, em busca de superar o medo e a falta de esperança frente a manutenção de suas atividades, a COAFAI buscou uma reação para proteger seus cooperados, optando pelo investimento em um novo nicho de mercado: a venda de cestas verdes.

Busca-se entender se o arranjo cooperativo é capaz de ajudar e proteger os produtores familiares em grandes crises, tais como a da Covid-19, além de se questionar se uma cooperativa bem estabelecida pode ser uma entidade mais capacitada em busca de atuar como uma salvaguarda aos seus membros. A fim de tentar responder a essas indagações, pensou-se em buscar uma cooperativa com um tempo considerável de atuação que pudesse, através da construção de um estudo de caso, apresentar um panorama de como o Coronavírus impactou a agricultura familiar brasileira, em especial quanto à geração de renda.

A priori, a agricultura familiar pode ser definida como um conceito que se baseia no direcionamento da gestão através de indivíduos que nutrem entre si laços de casamento ou sangue, com maior parte do trabalho provida por membros que sejam da família, cujo uso da própria propriedade ocorra como um meio concomitante de moradia e geração de renda, e, finalmente, cujo agricultor não tenha área maior do que 4 hectares. Nesse cenário, as cooperativas são capazes de articular as operações da cadeia produtiva de modo a gerar uma melhoria de renda e de capacidade técnica e negocial para seus membros.

Este trabalho consiste em uma pesquisa exploratória e descritiva elaborada a fim de buscar os dados capazes de apresentar um panorama de como o Coronavírus impactou a agricultura familiar. Nesse sentido, foi escolhida a utilização de um estudo de caso que apresentou como objeto a Cooperativa de Agricultores Familiares de Itararé (COAFAI). A coleta de dados se baseou nessa entrevista e na análise documental e de dados secundários.

Graças à sua capacidade de adaptação e persistência, a COAFAI foi essencial para a criação de alternativas aos cooperados, que puderam manter alguma renda em meio às consequências pandêmicas. Ainda, é importante perceber que a COAFAI não baseou suas iniciativas unicamente em ações de resistência: a ação direcionada através das cestas verdes também representa um aproveitamento do consumo do mercado de Itararé, o que explora um nicho de mercado nunca antes buscado pela entidade.

As ações da COAFAI são exemplo interessante a ser replicado, pois demonstram um prático caso de gestão contingencial efetiva e de extremo sucesso. Apesar das dificuldades do cenário constituído, conseguiu-se explorar um novo caminho ancorado na gestão e, através dele, pôde-se manter a valorização da vida de seus cooperados, a produção obtida através de seus esforços comuns (ainda que as atividades precisassem ser repensadas e modificadas para se adequar às novas exigências) e a própria visão de que os consumidores são parte essencial da atuação familiar agricultora da cooperativa.

COSTA, B. A. L. et al. As cooperativas de agricultura familiar e o mercado de compras governamentais em Minas Gerais. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 53, n. 1, p. 109-126, 2015. GUANZIROLI, C. E.; CARDIM, S. E. C. S. Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil redescoberto. Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO, MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário, Brasília, DF: INCRA/FAO, MDA, fev. 2000. NEVES, M. F.; ZYLBERSZTAJN D.; NEVES, E. M.. Agronegócio do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005.