Resumo

Título do Artigo

(In)segurança química e interferentes endócrinos — análise da representação de risco do Bisfenol A na mídia brasileira
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Tema

Políticas Públicas para a Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Vanessa Barbosa dos Reis Oliveira
EACH - USP - Sustentabilidade Responsável pela submissão
2 - Helene Mariko Ueno
-

Reumo

O advento da indústria química sintética implicou melhorias na qualidade de vida e no desenvolvimento socioeconômico. Mas tal progresso científico e tecnológico gerou riscos complexos e difíceis de serem previstos, dimensionados e controlados no espaço e tempo, como os riscos associados aos químicos interferentes endócrinos. A emergência de tais riscos saiu da esfera científica para as arenas de domínio público, propulsando debates pela interface de veículos noticiosos.
Para além dos modelos técnicos para análise do risco e tomada de decisão, a mídia constitui espaço público que reflete disputas de sentido, e assume papel relevante na construção social e multifacetada do risco. Os efeitos sobre a saúde humana e ambiental dos desreguladores endócrinos têm sido evidenciados em pesquisas científicas há mais de três décadas, mas pouca atenção foi dada à cobertura midiática, fonte de informação pública e arena de disputas e representações. O presente trabalho analisa o tratamento adotado pela Folha de São de Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo de 2007 a 2017.
Na sociedade de risco de Beck (2011), os perigos são globais, invisíveis e imprevisíveis. A visibilidade obtida na mídia é determinante para que uma condição se torne um problema, atraia interesse público e estimule mudanças políticas (HANNIGAN, 1995). A definição da agenda passa pela formação de uma consciência pública e preocupação sobre assuntos que são mais midiatizados (MCCOMBS; SHAW, 1972) e onde diferentes grupos podem apresentar evidências concorrentes baseadas em suas próprias agendas (KASPERSON et al., 1988).
O presente estudo baseou-se na análise documental de textos veiculados nos acervos online e impressos das três publicações jornalísticas de maior circulação e audiência no Brasil. O material foi analisado seguindo uma abordagem qualitativa. A análise de conteúdo forneceu o método para avaliar e categorizar dados, identificando padrões no material analisado bem como eixos temáticos de cobertura.
A mídia enquadrou o debate principalmente sob a perspectiva governamental, com favorecimento de temas de controle e regulação, e sob a perspectiva científica, com foco em estudos sobre riscos à saúde associados ao BPA. Com base na teoria do agendamento, aventa-se uma relação causal entre o enquadramento majotariamente negativo que a imprensa dispensou ao tema e a subsequente mudança regulatória que proibiu o uso da substância em mamadeiras de uso infantil no Brasil.
Depois que o governo implementou regulações com base no princípio da precaução em resposta a este risco específico, a amplificação do problema parece ter estagnado, e com ele, foram minimizados os demais riscos à saúde humana e ambiental, bem como a exposição a partir de outros meios, como os alimentos e bebidas enlatados, onde o BPA continua presente. Dessa forma, a análise da representação de risco associada à exposição ao BPA revelou um debate que não cobriu suficientemente a complexidade dos riscos e incertezas inerentes à substância química.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006 / BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: editora 34, 2011. BREWER, P.; WISE, D.; LEY, B. Chemical controversy: Canadian and US news coverage of the scientific debate about bisphenol A. Environmental Communication, v. 8, n. 1, p. 21-38, 2014. /DOUGLAS, M. (1992) Risk and Blame: Essays in Cultural Theory, p. 323 (London, Routledge). ENTMAN, R. Framing: Toward clarification of a fractured paradigm. Journal of communication, v. 43, n. 4, p. 51-58, 1993. HANNIGAN, J., Environmental sociology, Routledge, 1995.